O modesto Madureira, pequeno clube do Rio de Janeiro, estava em Cuba. Do calor insuportável de seu bairro para o epicentro da Guerra Fria. Mais que isso: recebido com pompas, o tricolor suburbano, primeira agremiação esportiva a adentrar a pátria de Fidel Castro depois da revolução socialista de 1959, teve direito até a recepção do líder Ernesto Che Guevara.
Não pense que o Madureira contava à época com um grande time. Pelo contrário. A equipe era fraca tecnicamente. Antes de chegar à ilha, perdera para o quase amador Alajuelense, na Costa Rica, por um a zero. O placar não interessava tanto. E sim a cota de US$ 800.
Juramento anticomuna
Ironia do destino. Para que um clube saísse do Brasil, era preciso fazer até juramento anticomunista. Além de certidão negativa de imposto de renda, título de eleitor, certificado de reservista, fotos, visto no passaporte e o famoso “nada consta”, para se entrar nos Estados Unidos, por exemplo, fazia-se necessário estirar o braço direito jurando ser contra o comunismo, 100% democracia.
O time brasileiro chegou a Havana no dia 11 do mês das noivas. Na bagagem, café, cigarros, poucas bolas, menos ainda jogos de camisas, alguns macacões de lã, flâmulas, escudos, uma bandeira do clube, pares de sapatos-tênis e um fogareiro. Além de uma substância proibida: “Não entrava dólar em Cuba”, lembra Farah, meio-campo da equipe, hoje com 72 anos. “Ao chegar à alfândega eles retiveram a moeda americana nos entregando o correspondente em pesos cubanos. Só nos devolveram os dólares na saída.”
Aproveitando-se do fato de o Brasil estar na moda, devido ao bicampeonato mundial nas Copas do Mundo de 1958 e 1962, Cuba tratou a delegação carioca a pão de ló. O Madureira se hospedou no hotel Riviera. Nas paredes dos quartos, gravadores espalhados. Houve a recomendação de que não fizessem a besteira de conversar sobre política. Falar só banalidades. De preferência, futebol.
Sin perder la ternura
Na última partida, em 18 de maio, a quinta vitória em cinco jogos: Madureira 3 a 2 na seleção de Havana. Com seu indefectível uniforme militar verde-oliva, o então ministro da Indústria Che Guevara compareceu ao campo, ou melhor, ao estádio de beisebol adaptado para a prática futebolística. Sorridente, sem tensão, leve, feliz, Che entrou no gramado e cumprimentou um a um os jogadores. Argentino torcedor do Rosário Central, Che não era apenas um guerrilheiro destemido, mas também um goleiro frustrado, apaixonado por esportes. “Ele foi muito amável conosco, carinhoso. Até deixou uma flâmula com o Zé da Gama”, assegura Farah.
Dois anos após ser congratulado no Brasil com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul pelo presidente Jânio Quadros, Guevara se sentiu no dever de retribuir a gentileza, e quem se deu bem foi a delegação brasileira. Na mesma noite, os comandantes do comunismo se despediram no hotel do Madureira. Os jogadores ganharam caixas de garrafas de rum, que tinham como invólucro a frase “Cuba, País Libre de América”.
Não só em Cuba o Madureira fez história no começo da década de 60. O clube foi o primeiro do Brasil a dar uma volta ao mundo, em 1961. No total, foram seis meses de excursão pelos mais variados e exóticos cantos do planeta.
Detalhe: no momento em que os militares deram o golpe no Brasil, o tricolor suburbano estava em plena China.
Em mais um pioneirismo de um clube que fazia, sem saber, história, o Madureira era o primeiro time brasileiro a visitar a fechada China comunista. Desfilou seu futebol mediano em Cantão, Pequim, Xangai e Tientsin sem licença da Confederação Brasileira de Desportos, a CBF da época, que cumpria determinação da Fifa que proibia jogos internacionais no país asiático.
Não pense que o Madureira contava à época com um grande time. Pelo contrário. A equipe era fraca tecnicamente. Antes de chegar à ilha, perdera para o quase amador Alajuelense, na Costa Rica, por um a zero. O placar não interessava tanto. E sim a cota de US$ 800.
Juramento anticomuna
Ironia do destino. Para que um clube saísse do Brasil, era preciso fazer até juramento anticomunista. Além de certidão negativa de imposto de renda, título de eleitor, certificado de reservista, fotos, visto no passaporte e o famoso “nada consta”, para se entrar nos Estados Unidos, por exemplo, fazia-se necessário estirar o braço direito jurando ser contra o comunismo, 100% democracia.
O time brasileiro chegou a Havana no dia 11 do mês das noivas. Na bagagem, café, cigarros, poucas bolas, menos ainda jogos de camisas, alguns macacões de lã, flâmulas, escudos, uma bandeira do clube, pares de sapatos-tênis e um fogareiro. Além de uma substância proibida: “Não entrava dólar em Cuba”, lembra Farah, meio-campo da equipe, hoje com 72 anos. “Ao chegar à alfândega eles retiveram a moeda americana nos entregando o correspondente em pesos cubanos. Só nos devolveram os dólares na saída.”
Aproveitando-se do fato de o Brasil estar na moda, devido ao bicampeonato mundial nas Copas do Mundo de 1958 e 1962, Cuba tratou a delegação carioca a pão de ló. O Madureira se hospedou no hotel Riviera. Nas paredes dos quartos, gravadores espalhados. Houve a recomendação de que não fizessem a besteira de conversar sobre política. Falar só banalidades. De preferência, futebol.
Sin perder la ternura
Na última partida, em 18 de maio, a quinta vitória em cinco jogos: Madureira 3 a 2 na seleção de Havana. Com seu indefectível uniforme militar verde-oliva, o então ministro da Indústria Che Guevara compareceu ao campo, ou melhor, ao estádio de beisebol adaptado para a prática futebolística. Sorridente, sem tensão, leve, feliz, Che entrou no gramado e cumprimentou um a um os jogadores. Argentino torcedor do Rosário Central, Che não era apenas um guerrilheiro destemido, mas também um goleiro frustrado, apaixonado por esportes. “Ele foi muito amável conosco, carinhoso. Até deixou uma flâmula com o Zé da Gama”, assegura Farah.
Dois anos após ser congratulado no Brasil com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul pelo presidente Jânio Quadros, Guevara se sentiu no dever de retribuir a gentileza, e quem se deu bem foi a delegação brasileira. Na mesma noite, os comandantes do comunismo se despediram no hotel do Madureira. Os jogadores ganharam caixas de garrafas de rum, que tinham como invólucro a frase “Cuba, País Libre de América”.
Não só em Cuba o Madureira fez história no começo da década de 60. O clube foi o primeiro do Brasil a dar uma volta ao mundo, em 1961. No total, foram seis meses de excursão pelos mais variados e exóticos cantos do planeta.
Detalhe: no momento em que os militares deram o golpe no Brasil, o tricolor suburbano estava em plena China.
Em mais um pioneirismo de um clube que fazia, sem saber, história, o Madureira era o primeiro time brasileiro a visitar a fechada China comunista. Desfilou seu futebol mediano em Cantão, Pequim, Xangai e Tientsin sem licença da Confederação Brasileira de Desportos, a CBF da época, que cumpria determinação da Fifa que proibia jogos internacionais no país asiático.
Parabéns por postar essa matéria linda e histórica sobre o meu amado Madureira!
ResponderExcluirSou torcedor do tricolor suburbano e me emociono com essa história.
Parabéns mesmo pela matéria! Grande abraço!