quinta-feira, 7 de julho de 2011


Parada do Orgulho Gay

A festa comemorou aniversário de 15 anos. Houve polêmica com a Igreja por causa dos cartazes com imagens de santos espalhados pela Avenida.

A 15ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo reuniu pelo menos quatro milhões de pessoas, segundo os organizadores, na Avenida Paulista neste domingo, dia 26. E causou polêmica usando santos em uma campanha pelo uso de preservativos.

Em 170 cartazes distribuídos em postes por todo o trajeto, 12 modelos masculinos, representando ícones como São Sebastião e São João Batista, apareciam seminus ao lado das mensagens “nem santo te protege” e “use camisinha”.

“Nossa intenção é mostrar à sociedade que todas as pessoas, seja qual for a religião delas, precisam entrar na luta pela prevenção das doenças sexualmente transmissíveis. Aids não tem religião”, diz o presidente da Parada, Ideraldo Beltrame.

Ao eleger como tema “Amai-vos Uns Aos Outros”, a organização uniu a vontade de conclamar seguidores com a de responder a grupos religiosos. Na Marcha para Jesus, na última quinta-feira, 23, a decisão do Supremo Tribunal Federal – STF em favor da união estável homoafetiva foi atacada.

As opiniões de evangélicos dissidentes, que fundaram igrejas inclusivas e acompanham a Parada, no entanto, são variadas. “Não tinha necessidade de usar pessoas peladas para representar santos. Faz a campanha, mas não envolve as coisas de Deus”, opina a pastora lésbica Andréa Gomes, de 36 anos, da Igreja Apostólica Nova Geração. “A campanha foi mais de encontro aos ditames da Igreja Católica. Nós não temos santos”, diz o pastor José Alves, da Comunidade Cristã Nova Esperança.

“Infeliz, debochada e desrespeitosa”

O cardeal d. Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, classificou como “infeliz, debochada e desrespeitosa” a colocação de cartazes com imagens de santos católicos em postes da Avenida Paulista. Para o cardeal-arcebispo, o “uso instrumentalizado” das imagens por parte da organização do evento “ofende o sentimento da Igreja Católica”.

“Isso ofende profundamente, fere o sentimento religioso do povo. O uso debochado da imagem dos santos é ofensivo e desrespeitoso, nós desaprovamos”, criticou Dom Odilo Scherer.

“A associação das imagens de santos para essas manifestações da Parada Gay, a meu ver, foi infeliz e desrespeitosa. É uma forma debochada de usar imagens de santos, que para nós merecem todo respeito”, disse d. Odilo. “Vamos refletir sobre medidas cabíveis para proteger nossos símbolos e convicções religiosas. Quem deseja ser respeitado também tem de respeitar.

Para o cardeal, a organização da Parada Gay pregou os cartazes “provavelmente” para atingir a Igreja Católica, “porque a Igreja tem manifestado sua convicção sobre essa questão e a defende publicamente”. O cardeal também voltou a manifestar posição contrária ao slogan escolhido pela organização da Parada, “amai-vos uns aos outros” (parte de versículo do Evangelho de São João).

“Jesus recomenda: ‘amai-vos uns aos outros, como eu vos amei’. O uso de somente parte dessa recomendação, fora de contexto, em uma Parada Gay, é novamente um uso incorreto, instrumentalização da palavra de Jesus.”

A comemoração foi com valsa e debaixo de chuva mesmo.

“Esse ano vim de branco representando a paz, pedindo muita paz, pedindo muito amor para que as pessoas se amem mais e que acabe a homofobia”, pediu o cabeleireiro Rogério Andrino Tomás.

Como a festa era de debutantes, o vestido de princesa não podia faltar. “Eu só perdi a primeira, porque eu era novinho na época, minha família não deixava eu vir. Mas foi bem gostoso”, contou a drag queen Xênia Star.

Como toda festa de debutante, tem que ter valsa. O difícil é conseguir um espaço na Avenida Paulista.

Entre os milhares de debutantes, gays, lésbicas, bissexuais e transexuais estavam também os simpatizantes, aqueles sem preconceito. Um ensinamento que vai de geração em geração.

“Eu estou achando bonito. Uma mocinha passou e me deu um papel escrito: ‘o amor é pra todo mundo’. Então é o amor”, disse a contadora Vilma Botelho, de 73 anos.

Tinha até camarote para enxergar a Parada até onde a vista alcança. “É show. Somos privilegiados de estar aqui em cima vendo bem melhor”, garantiu a dona de casa Ana Carla Pereira dos Santos.

Valeu dançar na chuva e se divertir.

“Nós queremos dizer para a sociedade brasileira que nós não queremos transformar as pessoas em homossexuais. Nós queremos a convivência pacífica, a convivência cidadã, de todas as diferenças”, pediu o presidente da Associação da Parada GLBT, Ideraldo Luís Beltrame.

A noite caiu e ninguém se abalou. Os trios elétricos e as milhares de pessoas lotam as ruas com o mesmo pique. Com 15 anos bem comemorados, a Parada Gay se despediu de 2011.


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