quarta-feira, 16 de dezembro de 2009



Natal: estupro, drogas e capitalismo!

Durante a Idade Média (séculos V até XV do calendário gregoriano), a Igreja Católica adquiriu um poder que, para muitos, era maior até que o antigo Império Romano do Ocidente. Por meio do controle ideológico e do monopólio da cultura eclesiástica, a Igreja de Roma, fundamentalmente urbana e centralizada, impunha seus dogmas sobre a cultura pagã (do latim pagani, ou seja, camponês) em um processo violento de aculturação, semelhante ao que os colonizadores fizeram, alguns séculos mais tarde, com os nativos da América, África e Ásia ao longo de séculos de brutal colonização.

Entre os camponeses existia, desde séculos antes do nascimento da Igreja de Roma (criada no século V d.C.), a manutenção de uma forte tradição cultural pagã greco-romana, pré-cristã, que associava elementos da cultura bárbaro-germânica, onde rituais e crenças não aceitos pelo clero eram mantidos.

Porém, a Igreja de Roma fez mais que simplesmente esmagar essas tradições populares. Ela se utilizou da força dessas tradições culturais presentes no imaginário coletivo para fortalecer a si mesma. É o caso da definição do nascimento de Cristo, historicamente imprecisa, e a celebração do Natal que a Igreja Católica fez coincindirem com uma antiga comemoração pagã da época dos romanos, em homenagem a Saturno (que era deus do Tempo, assim como Cronos, para os gregos).

As festas romanas em homenagem a Saturno, também chamadas de Saturnais (que se iniciavam no dia 17 de dezembro e seguiam por mais sete dias, sendo que até mesmo as guerras eram suspensas para as comemorações), comemorando o solstício de inverno, assim como outras festas pagãs, eram repletas de elementos da natureza e de facetas explicitamente sexuais (como a festa do Entrudo, por exemplo). Os católicos recriminavam tanto o apego aos elementos naturais quanto aos elementos sexuais.

Porém, a tradição dessas festas estava de tal forma enraizada na cultura popular dos camponeses que a Igreja de Roma precisou domá-las não simplesmente proibindo sua comemoração e matando quem fugisse às regras. Isso poderia gerar perda de apoio ao invés de obtenção. O aconteceu foi que a Igreja romana assimilou a data das festas para seu calendário e impôs uma comemoração a respeito de algo fictício (a materialização de Deus em homem), de modo que pudesse reforçar ainda mais o seu poder.

A origem do Natal está na violenta dominação do cristianismo sobre as outras culturas. Todo calendário é uma forma de controle social. Ao controlar o tempo, controla-se também a maneira como as pessoa vivem, produzem, pensam, etc. Objetivando cristianizar a cultura pagã européia por meio do controle do tempo, no ano 324 d.C., o Papa Júlio I instituiu a comemoração do Natal, sacramentando a data do suposto nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro. Há outra versão que defende que a primeira celebração do Natal de maneira semelhante como acontece atualmente, deu-se pela primeira vez no ano de 336 d.C.

Trata-se, em todo caso, de uma data criada para garantir a dominação da Igreja de Roma sobre as demais culturas. A data, etretanto, não foi escolhida aleatoriamente. Além das Saturnais, na Mesopotâmia o Natal já era celebrado por meio de um festival simbolizando, na verdade, a passagem de um ano para outro. A própria simbologia natalina reflete este projeto bem sucedido de dominação da Igreja Católica sobre as demais culturas.

No Egito antigo, os tamarindos eram considerados símbolos da vida e, no solstíco de inverno, seus ramos eram colocados dentro das casas e adornados. Adornar uma árvore com guirlandas (coroas de flores) sobre as portas, ou seja, montar uma árvore de Natal era algo que já ocorria nos rituais em homenagem ao deus Odin, dos povos nórdicos.

O azevinho, o visco e a hera eram todas ervas consideradas mágicas pelos druidas, pois mantinham-se verdes em pleno inverno. As guirlandas, feitas de visgo, eram plantas medicinais utilizados pelos druidas. Estes também penduravam maçãs douradas nos carvalhos para as comemorações. Na época escolhida por Júlio I para se comemorar o Natal, ou seja, no solstício de inverno, as guirlandas eram penduradas nas portas casas e ornamentavam as árvores. Já entre os pagãos romanos, adorava-se a Saturno e enfeitava-se carvalhos.

A vidima era embelezada em homenagem a Baco, assim como as oliverias para a deusa Minerva. As comemorações do Natal são frutos, portanto, de um projeto explicto de dominação católica sobre os territórios do antigo Império Romano e até além dele. Para isso, era fundamental substituir as culturas existentes até então pela cultura que garantisse o poder da Igreja de Roma, a única instituição sólida da Europa ocidental ao longo da Idade Média.

É isso que faz com que o Deus que havia se tornado homem se tornasse central na concepção de mundo cristã. Isso garante a vitória da religião por meio de uma cronologia e de um controle de tempo baseado em Cristo. Ao controlar o tempo, a Igeja de Roma controlava as pessoas. O sistema cronológico da Era Cristã surge em Roma, no ano de 525 d.C., pelo ábade Dioniso, o Pequeno.

Seu fundamento é o nascimento de Cristo, fato que teria ocorrido supostamente em 25 de dezembro. Porém o início do primeiro ano cristão houvera sido adiado para o 1° de janeiro seguinte. Dioniso pretendia coincidí-lo com o ponto de partida do calendário romano. O Anno Domini (Ano do Senhor), foi calculado como sendo o 754 do cálculo romano, que começa com a fundação da cidade de Roma, em 753 a.C.

Dessa forma, o calendário cristão não se inicia com o ano do pretenso nascimento de Cristo, e sim com o seguinte, considerado o ano I. Não houve um ano 0. Nem há sequer essa representação numérica nos algarismos romanos e demoraria ainda alguns séculos para a Europa entrar em contato com os algarismos arábicos.

Desse fato temos, até hoje, que todo fim de época no calendário cristão termina em ?00?. O ?00? representa o fim, e o ?01? o começo.

Na verdade, a grande inovação de Dioniso foi fornecer ao cristianismo uma data inaugural para a vida coletiva dos cristãos, algo como um marco fundador da identidade cultural cristã. Apenas a partir do pontificado de João XIII (965-972) que o calendário de Dioniso passou a ser utilizado pela cúpula católica, mas somente no século XV ele se tornou oficial. Entretanto, apresenta um grave equívoco no seu fundamento, pois Dioniso errou seus cálculos sobre o suposto nascimento de Jesus Cristo. Caso tenha ocorrido, isso se deu entre 4 e 7 a.C., provavelmente no ano chamado de 6 a.C. Desse erro, conclui-se, obviamente, que todo o calendário cristão está errado.

Quando em 1582, já no século XVI, o Papa Gregório XIII ordenou uma reforma no calendário (dando origem ao calendário gregoriano) sabia-se do problema, mas não foi solucionado para não ter conseqüências negativas para as práticas dos fiéis e suas concepções religiosoas. Após a reforma gregoriana, surgia o calendário que ainda hoje é utilizado em grande parte do mundo.

Dessa forma, o Natal é um erro em si! Recentemente, assistimos atônitos à ascenção ao principal cargo da Igreja Católica um antigo membro da Juventude Hitlerista, Joseph Hatzinger, agora denominado Papa Bento XVI. Se compararmos sua história com a da Igreja de Roma verificaremos que não há muito de contraditório em um antigo defensor do Nazismo comandá-la. Antes de ser Papa, ele era o principal homem da Congregação para a Doutrina da Fé (a mesma Santa Inquisição, das famosas torturas e ?autos de fé?, sob outro nome). Desde que assumiu o papado, Hatzinger faz declarações de caráter ultra-reacionário contra a liberdade de escolha do ser humano em questões estritamente pessoais, como aborto, opção sexual, etc. Enfim, nenhuma surpresa. O fato é que, em dezembro de 2005, ele esboçou algumas críticas ao consumismo que assola o Natal.

Dessa situação podemos perceber que a hipocrisia (principal pilar do cristianismo e de outras religiões) está fortemente inserida nos discursos de Hatzinger. Afinal, no mesmo mês, próximo ao Natal, ele desfilou com a touquinha do Papai Noel defendendo a magia da sacro-data. Ora, qualquer cristão minimamente bem informado sabe que o Papai Noel é o expoente máximo do consumismo. Há inúmeras tradições folclóricas a respeito da origem do ?bom velhinho?. Uma delas afirma que ele é oriundo da região de Constantinopla (atual Istambúl, Turquia), capital do antigo Império Bizantino, e seu mito foi baseado em um bispo da Igreja Cristã Ortodoxa que viveu na cidade de Myra, na Ásia Menor. Tratava-se de Nicolau (281-350 d.C.).

Herdeiro de uma vasta riqueza, distirbuiu alimentos, roupas e presentes aos pobres. Às vezes dava simplesmente dinheiro. Os presentes eram sempre acompanhados de uma mensagem para que os afortunados agradecessem a Jesus pela dádiva. O período do ano em que mais distribuia suas doações era no inverno, pois sabia que era quando os pobres morriam mais. O bispo Nicolau também era conhecido conhecido pelo extremo carinho que com que se entregava às crianças. Em sua homenagem foi criado o costume de se distribuir presentes às crianças pobres ao longo de dezembro, mês de aniversário do bispo, coincidindo com as comemorações do Natal que a Igreja Romana impunha a todas as regiões.

Essa doação de presentes foi cristalizada a partir do século VII, com Papa Bonifácio. Em pregação pela Turíngia (região da Alemanha), ele distribuia pão benzido aos necessitados em troca de presentes, no dia 25 de dezembro. No século XVI, com a Reforma Protestante e a Contra-Reforma Católica, a homenagem a São Nicolau (St. Nicholas) se enfraqueceu na Europa.
Na Holanda, entretanto, o mito persistiu, mas agora o antigo bispo era chamado de Sinter Klass, significando ?homem que adora crianças?.

Ainda sob a sombra dos conflitos religiosos na Europa, levas de imigrantes partem para outros continentes. No século XVII, a lenda de Sinter Klass, aportou com holandeses nas 13 Colônias (atual EUA), na região de Nova Amsterdã (atual Nova Yorke) e São Nicolau foi rebatizado como Santa Claus (uma alteração fonética natural oriunda do termo alemão ?Sankt Niklaus? e do termo holandês ?Sinterklass?, significando em português, literalmente, Papai Natal).

Desde então, até a primeira metade do século XX, as representações do Papai Noel demonstravam-no como um gnomo de barba branca. Ele também já foi descrito como alto e magro. Já vestiu roupa de cor verde, azul, amarelo e até mesmo marrom. Havia também, até a década de 20 do século XIX, a imagem de um Papai Noel como um bispo raquítico que visitava crianças para lhes dar tanto disciplina quanto presentes, sendo que suas ações não ocorriam necessariamente durante o Natal.

No ano de 1823, Clement Clarke Moore popularizou a versão do velho Noel chegando num trenó voador puxado por oito delicadas renas no poema ?Account of a Visit from St. Nicholas?, mais conhecido como ?The Night Before Christmas?.

Deixando de lado a possibilidade de, na verdade, esse poema ser de autoria de Henry Livingston Jr. (que o publicou, em 1823, num jornal de Nova Yorke), na composição de Moore, cuja autoria ele reinvindica somente em 1837, São Nicolau é apresentado como um velho gordo e alegre fazendo gracinhas com seu cachimbo.

Já é fato conhecido que Moore se baseou fortemente em fontes literárias populares, principalmente em ?Knickerbocker History? (1809), de Washington Irving, e um poema natalino chamado ?The Children?s Friend? (1821). O primeiro poema é uma sátria aos holandeses em Nova Yorke, onde é apresentada a lendária figura de St. Nicholas, (o Sinter Klass holandês), um velho severo de trajes escuros que entregava presentes às crianças uma vez ao ano.

Já no segundo poema, surge pela primeira vez a figura de um trenó e de renas. Esses poemas certamente influenciaram Moore. Em sua obra, supostamente composta para sua filha de seis anos, o autor revive a maioria das descrições dos cidadãos holandeses reproduzidas nos contos da época: gordos, felizes, com suas longas barbas brancas, alguns de casacos vermelhos, botas e cintos de couro. É com essa imagem que ele substitui a de um St. Nicholas sisudo por um bonachão agradável. Sobre as renas, vale dizer ainda que a rena do nariz vermelho surgiu após as demais.

Baseando-se no mito popular sobre Rollo (ou Reginald), uma rena com um nariz brilhante como um farol que guiava o Papai Noel ao longo da noite, Robert L. May, funcionário da rede de lojas de departamento Montgomery Ward, criou, em 1939, ?Rudolph the Red-Nosed Reindeer?.

Apesar das restrições de Sewell Avery, presidente da rede, quanto à possibilidade de associarem o nariz vermelho às drogas e ao alto consumo de bebidas alcoólicas, May convenceu a rede de lojas a adotar a rena como uma espécie de adorno de propaganda para a loja. Deu certo! Já no ano de sua criação, 2.4 milhões de pessoas possuiam uma rena do nariz vermelho em suas casas.

Em 1946, a Rudolph já estava presente em mais de 6 milhões de lares. Voltando ao Santa Claus, em 1848, Theodore C. Boyd realiza a primeira ilustração do ?bom velhinho? separada do livro de Moore.

É interessante que, em sua gravura, as referências com as imagens contemporâneas são escassas. O Papai Noel anda sobre chaminés, possui uma enorme barriga sem ser gordo (característica típica de beberrões) e uma barba branca. De resto, não possui bigode, não calça botas. As únicas peças de sua indumentária que remetem ao inverno são um casaco supostamente vermelho e um chapéu preto.

Chama a atenção o fato de ele possuir características físicas típicas de um duende: orelha pontuda, mãos pequenas com dedos tortos e unhas afiadas, nariz longo e afinado, olhos pequenos, um sorriso esticado e sombrio, um cachimbo (tal como aparece no poema de Moore) e um saco de brinquedos que parece feito de galhos e folhas.

Em 1863, o cartunista norte-americano Thomas Nast também optou por dar formas ao personagem relatado no poema de Moore e desenhou, no Harper?s Weekly (antigo semanário dos EUA), um velhinho com traços humanos bonachão, de barba e bigode brancas, de enorme barriga e carregando dezenas de brinquedos, além de um longo cachimbo com o qual ele se diverte com a fumaça. Ao invés de um saco, ele porta uma mochila e em sua cabeça há uma espécie de gorro coberto por folhas. Em todo caso, a imagem de um gnomo barbudo é definitivamente solapada somente na década de 30 do século XX.

Em meio à Grande Depressão, a Coca-Cola começou a utilizar a imagem do Papai Noel para realizar sua agressiva publicidade. A marca de refrigerantes surgira em 1886, em Atlanta, Geórgia, EUA (onde, em 8 de março, vendeu sua primeira garrafa de refrigerante por apenas US$ 0,05), criada pelo farmacêutico John S. Pemberton, que produzia uma espécie de xarope que prometia curar ?todos os males da alma e do corpo?.

No ano de 1887, o farmacêutico vendeu a fórmula secreta a Asa Griggs Candler, por US$ 2.300. Este, sem perder tempo, criou a The Coca-Cola Company. Seguidor da Igreja Metodista, Candler, conseguiu se eleger prefeito de Atlanta em 1916. No ano de 1919, ele vende a The Coca-Cola Company para Ernest Woodruff e alguns investidores. Recentemente foi comprovado o uso da folha de coca (matéria-prima da cocaína) na composição da ?fórmula secreta? do refrigerante que leva o nome da empresa. A presença de cocaína ainda não foi comprovada pois a Coca-Cola se nega a revelar a totalidade da ?fórmula?.

Vale lembrar que além de tratar ?todos os males da alma e do corpo?, o efeito corrosivo do refrigerante o torna ótimo para desentupir pias! Em pouco tempo a empresa se alastraria para o planeta. Mesmo que para isso não seguisse os procedimentos juridicamente apropriados. No Brasil, por exemplo, a empresa começa a atuar ilegalmente em 1941, sendo produzida de forma clandestina pela Fábrica de Água Mineral Santa Clara, em Recife (Pernambuco), e, posteriormente, também em Natal (Rio Grande do Norte). Na época, inúmeros soldados brasileiros e norte-americanos circulavam pela região, conhecida como ?Corredor da Vitória?, ponto de parada dos navios que se dirigiam para a o norte da África e sul da Europa durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45).

A empresa só veio a atuar legalmente no Brasil em 1942, quando foi montada a fábrica da Companhia no Rio de Janeiro, a ?Rio de Janeiro Refrescos?, que produzia garrafinhas de Coca-Cola 185 ml. Antes mesmo da Segunda Guerra Mundial, no ano de 1931, a Coca Cola inicia uma polêmica campanha de publicidade para adestrar crianças e torná-las consumidoras eternas. Nesse ano, a empresa contrata o artista gráfico alcoólatra Haddon Sundblon para formular uma campanha publicitária baseada na cultura popular e que garantisse que o público menor de 12 anos chegasse em uma idade avançada vendo na Coca-Cola a materialização da paz universal, mesmo em tempos de crises. Para tanto, Sundblon remodela a imagem do Papai Noel cristalizando a figura de um velho bonachão, carinhoso, sorridente, eternamente alegre, ligeiramente engraçado por ser desajeitado (ébrio, quem sabe?), e, acima de tudo, vestido de vermelho e bebendo uma deliciosa e refrescante Coca-Cola após gerar felicidade para todas as crianças bem comportadas.

A campanha começou a ser veiculada na revista Saturday Evening Post (suplemento semanal de um diário dos EUA com o mesmo nome). Basicamente, o que vemos no atual Papai Noel nada mais é do que o garoto propaganda de uma das maiores empresas do mundo, um ícone da cultura comercial contemporânea. É a apropriação do Capital sobre a cultura popular. A Coca-Cola Company, astutamente, não registrou a imagem do ?bom velhinho?, garantindo dessa forma uma maior divulgação de um de seus principais propagandistas. Para refazer a figura do Santa Claus, Haddon Sundblon se inspirou em um amigo seu, o vendedor aposentado Lou Prentice.

Ele serviu de modelo para Sundblon pintar seus quadros para a Coca-Cola entre 1933 e 1936. Não apenas o amigo de Sundblon era retratado, como as crianças presentes nos anúncios eram filhos e netos do pintor. Após a morte de Lou Prentice, Sundblon passou a retratar a si mesmo nas imagens. Seus traços nórdicos e sua face constantemente ruborizada pela intensa ingestão de bebidas alcoólicas contribuiram para sua arte. Até o ano de 1966 suas pinturas foram utilizadas pela Coca-Cola. Dessa forma, a mensagem do Papa Bento XVI contra o consumismo usando um gorrinho de Santa Claus é de uma hipocrisia indescritível.

Era a Coca-Cola que estava na cabeça do Papa. É em nome da perpetuação do Capitalismo que ele atua. Basicamente, ele abençoou o fato de nossas comemorações acontecerem da maneira como uma empresa ordenou que elas ocorressem. Há uma outra versão, defendendo que antes de existir o Papai Noel da Coca-Cola, a origem deste Papai Burguês se deu nas lojas da Macy's (uma das principais redes de lojas de departamentos do mundo, sediada em São Francisco, Califórnia, EUA). Segundo esta versão, com a intenção de intensificar suas vendas, a Macy?s desenterrou uma lenda alemã de ?Sankt Niklaus? e, a partir dela, criou o Papai Noel mais aproximado com a imagem contemporânea. À Coca-Cola coube, portanto, universalizar definitivamente a idéia, recriando sua imagem da forma como a conhecemos hoje.

Tanto é que não nos damos Coca-Cola de presente no Natal, mas sim roupas, brinquedos, etc., todos produtos existentes nas mega-lojas da Macy's. Em todo caso, tanto em uma versão quanto em outra, vemos nosso pensamento e nossa forma de se relacionar com os outros mediados por uma mercadoria. O Papai Noel, assim como a rena de nariz vermelho, é apenas um logotipo de uma empresa que nos provoca poluição mental há décadas. Nossa sociabilidade existe apenas se comandada por uma empresa que nos escraviza com suas mercadorias. Somos transformados em uma mercadoria, somos consumíveis. Sem a mercadoria, o que seria do Natal hoje?...

Toda essa longa reflexão sobre as supostas origens do Natal têm por objetivo chamar a atenção para o que se tornou essa comemoração. Consumo! Apenas consumo! Nas últimas semanas, as pessoas flagram a si mesmas extremamente preocupadas com o que irá comprar ou ganhar. Os próprios religiosos aceitam isso tranqüilamente. Afinal, conforme demonstrado acima, o cristianismo só conseguiu se manter firme ao longo de séculos se apropriando de culturas populares e esmagando aqueles que não seguissem seus dogmas. O ícone do Natal não é o presépio, mas sim o Shopping Center compulsivamente enfeitado. Nunca vi nenhum religioso pregando o boicote às compras.

O Natal está resumido ao acesso a novas propriedades. Os pobres e miseráveis que não têm acesso a novas propriedades devem se contentar com a luz divina e alguma instituição de caridade que distribua um sopão por aí. Talvez até daremos alguns presentes para os miseráveis morar: roupas e brinquedos velhos, nosso lixo! Ao longo do ano inteiro exigimos mais segurança contra os pobres, exigimos a pena de morte e a redução da maioridade penal, queremos ver as mulheres que fazem aborto mortas, desejamos pela morte e destruição dos favelados, sentimos ódio e medo das crianças nos faróis, porém, como agora é Natal, ficamos solidários! Onde estava toda a bondade antes do Natal e aonde ela será enfiada posteriormente?...

É mesmo um surto da síndrome de Milú Vilela! A mesma hipocrisa que Bento XVI aplica sobre o mundo está presente em cada uma das casas que comemoram o Natal, onde as pessoas sorriem e tratam com cordialidade parentes desaparecidos por tempos e, até então, mal falados nos encontros familiares. É o panegírico da falsidade e da mediocridade. As brigas que ocorrem o ano todo simplesmente são escamoteadas pela possibildiade de ganhar mais e mais propriedades. Toda a felicidade do Natal, portanto, nada mais é do que fruto da ilusão, da hipocrisia e do Capitalismo. Ilusão pois não existe em si: retira-se o comércio, não sobra nada. Esse feriado, mais do que outros, é apenas uma forma do Capital se movimentar.

A mídia veicula funcionários idiotizados e, portanto, felizes por trabalharem até ao longo da madrugada no dia 24 de dezembro, ao mesmo tempo em que há consumidores imbecilizados e, portanto, felizes por poder fazer compras na madrugada do dia 24 de dezembro. Ambos garantem a riqueza e, portanto, felicidade dos abastados donos das lojas que as abrem na madrugada do dia 24 de dezembro. Eles, obviamente, não estão nelas trabalhando. Dá uma triste sensação de que está tudo perdido. São os valores e os sentimentos das pessoas que estão sendo negociados. O Natal, assim como suas próprias vidas, passa a ser a quantidade de dinheiro que possuem na carteira. Elas se transformam em uma mercadoria. Não há Natal sem mercadoria. Ele é a celebração de toda a miséria humana, e a recebemos com um largo sorriso no rosto... Ano após ano.

Que Joseph Hatzinger abençoe a todos nós.

Por Raphael Amaral

terça-feira, 8 de dezembro de 2009


JORNADA DE LUTA POR MORADIA


JORNADA DE LUTA POR MORADIA DA UNIÃO NACIONAL POR MORADIA POPULAR EM DEFESA DA MORADIA EM AREAS PUBLICAS VAZIAS E OCIOSAS DAS CIDADES


Movimentos dos Sem Teto, foram às ruas em diversas cidades do país, para reivindicar agilidade na destinação de terrenos e prédios ociosos de propriedade do INSS, RFFSA, SPU e demais órgãos públicos para moradia popular.

Apesar do compromisso do governo em viabilizar esses imóveis, abandonados e em deterioração em inúmeras cidades brasileiras, até o momento, muito pouco avançou.

Não podemos deixar que a burocracia e as armadilhas de uma máquina estatal, montada apenas para defender os interesses dos poderosos, se sobreponham ao direito de milhares de famílias que lutam por moradia digna.
Queremos ver o Programa Minha Casa Minha Vida na prática, onde as famílias de baixa renda com 0 a 3 salários mínimos acesse de verdade o Programa, e que um grande mutirão de esforços, garanta o Direito à Moradia e Reforma Urbana para os pobres e excluídos nas cidades.


-Pelo cumprimento da função social da propriedade também dos imóveis públicos municipais, estaduais e federais;

- Pelo acesso à terra urbanizada, bem localizada e com infra-estrutura para moradia popular;

- Por prioridade para as famílias de mais baixa renda nos programas habitacionais;

- Pela desburocratização e agilidade na aprovação de projetos habitacionais;

- Por mais recursos para projetos habitacionais autogestionários, em parceria com movimentos

- Pelo Direito Constitucional da Propriedade Coletiva, como um instrumento de organização familiar social, política e economicamente sustentavel.

- Por um Concidades deliberativo sobre as Políticas Urbanas

- Pela Aprovação da PEC 285/2008, que vincula recursos permanentes para Moradia Popular.

Sem Moradia e Reforma Urbana, o Brasil não anda!!!


Prédio desocupado é invadido na região central de Curitiba


Integrantes da União Nacional por Moradia Popular (UNMP) ocuparam na manhã desta terça-feira um prédio na esquina da Rua Conselheiro Laurindo com Av. Sete de Setembro, no centro de Curitiba. Aproximadamente 100 pessoas chegaram ao local às 9h.

Os manifestantes pretendem permanecer no local até às 18h desta terça. A ocupação integra um calendário nacional do UNMP, que reivindica que prédios ociosos da União sejam transformados em moradias populares.

Até o final do ano passado, funcionava no prédio o shopping Station Mall. A construção pertence à Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), que, há dez anos, alugava o imóvel para terceiros. No final de 1999, o contrato com a RFFSA foi cancelado e o imóvel repassado à União.

De acordo com a assessora jurídica da UNMP, Carolina Alves, as reivindicações incluem a suspensão do leilão dos imóveis da RFFSA e que os prédios ociosos do INSS sejam destinados para programas de habitação populares.

"Queremos chamar a atenção para os imóveis da União que estão abandonados. Muitos imóveis acabam sendo leiloados quando deveriam ser destinados a moradias populares", afirma Carolina. Segundo a UNMP, existem no país mais de cinco milhões de espaços ociosos que poderiam ser destinados a habitação.

Grupo tenta invadir prédio do INSS

Um grupo de 50 pessoas tentou invadir, por volta das 7h30 de ontem, um imóvel pertencente ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), na Rua Marechal Deodoro, em Curitiba.
Como a ação, coordenada pela organização União Nacional por Moradia Popular (UNMP), foi inibida pela presença de um vigia, os manifestantes se limitaram a protestar em frente ao imóvel.

O dia também foi marcado por uma série de manifestações pela desburocratização dos processos de reutilização de imóveis da União para programas de moradia popular.Segundo a advogada da organização Terra de Direitos, Carolina Alves, a doação de imóveis para moradia popular está prevista na Lei 11.481/07.

No entanto, para a coordenadora da UNMP no Paraná, Maria da Graça Silva de Souza, a utilização dos imóveis para este fim seria travada por motivos políticos. Maria da Graça diz que, no edifício de três andares do INSS, poderiam ser acomodadas 30 famílias. Segundo a coordenadora da UNMP, o movimento ainda pleiteia outros dois imóveis, um na Rua José Loureiro, também no Centro da capital, e outro terreno no Jardim Botânico.

A assessoria de imprensa da Superintendência da Previdência Social no Estado negou que o imóvel esteja ocioso, informando que está sendo ocupado pela gerência executiva do órgão em Curitiba.

A Previdência garante, inclusive, que há um planejamento de reforma do espaço no próximo ano, quando também deve passar a ser utilizado para outros serviços do INSS.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009


Apesar de alguns avanços, o mundo está perdendo a guerra contra a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). E as regiões mais pobres do planeta são as mais afetadas. Essa foi a constatação de um estudo elaborado pelo UNAIDS (Programa das Nações Unidas para o Combate à AIDS). Os resultados da pesquisa mostram que a epidemia pode estar, vagarosamente, diminuindo no mundo, mas as taxas de infecção ainda são crescentes.

Em 25 anos, 25 milhões de pessoas morreram em decorrência da doença e, atualmente, cerca de 38 milhões de pessoas vivem com o vírus, embora muitos nem saibam. Só em 2005, 2,8 milhões de pessoas morreram vítimas da doença e outras 4,1 milhões foram infectadas. Na América Latina, mais de 1,6 milhão de pessoas vivem com o HIV e novas infecções atingiram 140 mil pessoas em 2005. Segundo o estudo da UNAIDS, 59 mil pessoas morreram na região em conseqüência da epidemia no ano passado e outras 294 mil, ou cerca de 73%, receberam tratamento anti-retroviral.


Na opinião de especialistas, estes números, além de diversos outros fatores, podem estar associados a uma ação contra-producente da mídia e dos próprios governos em não apostar em informação e educação preventiva em relação à doença. Para eles, se compararmos com as décadas de 80 e 90, em que, respectivamente, a AIDS acabara de ser descoberta e atingia seu ápice, o número de campanhas para o uso de preservativos e cuidados com a doença caiu muito.

A África é, sem sombra de dúvida, a região mais afetada pela AIDS e onde maior é o abandono da população. Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) apontam que dois terços dos africanos possuem o vírus. Frente a estes dados, Palacios reforça que a crise de HIV/AIDS de regiões como a África Sub-sahariana e o subcontinente Índio são uma questão de sobrevivência para muitas comunidades perante a qual não é possível ficar indiferente. No entanto, acredita que mesmo soluções que podem parecer fáceis em outros contextos, podem ser impraticáveis nas condições culturais, sociais e econômicas dessas regiões.

"A pólio foi eliminada das Américas em 1994 com ajuda de uma vacina oral eficaz e barata. Mas ainda hoje não foi erradicada em países africanos e na Índia. Por isso, não é suficiente dizer que com uma vacina eficaz se soluciona o problema do HIV em países pobres", destaca.

Em sua opinião, experiências relativamente bem sucedidas na redução de casos de HIV/AIDS requerem um compromisso político das autoridades e comunidades locais apoiado por esforços internacionais e da indústria privada.
"Não só os avanços científicos são necessários para ampliar o controle do HIV/AIDS, mas um envolvimento das populações vulneráveis que se apropriem do problema e decidam afrontá-lo, com o apoio das instituições locais e internacionais. Essa conclusão também é válida para o Brasil", afirma.
O acesso à terapêutica e a falta de apoio internacional são os fatores que preocupam o infectologista da Unicamp em relação ao caso da África. Ele explica que em países industrializados da América do Norte e Europa, além do Brasil, é possível perceber que os processos educativos e o tratamento têm controlado a infecção, mas isso está restrito a estas áreas.
"Em regiões como a África, o acesso à terapêutica é inferior a 5%. É evidente que isso colabora pra disseminação da doença", diz.

Além disso, para modificar o quadro da AIDS naquele continente, ele defende a necessidade de uma mudança brusca nas estruturas de base para que seja possível disponibilizar medicamentos e acesso a informação sobre prevenção e tratamento. Atualmente, nas condições em que estão os países mais pobres da África - onde nem mesmo as gestantes têm acesso à profilaxia e medicamentos já existentes para a redução da transmissão do vírus para seus bebês - isto é algo que só seria possível por meio de uma intervenção internacional em parceria com os governos locais.

"O que acontece na África é mais um genocídio que assistimos de maneira contemplativa. Uma hipocrisia do mundo frente à pobreza e ao desenvolvimento", friza.


Movimiento de Liberación Nacional T U P A M A R O S


José Mujica, eleito neste domingo presidente do Uruguai, foi um dos principais líderes do Movimento de Libertação Nacional Tupamaros (MLN-T), uma guerrilha urbana que desde o início dos anos 1960 buscou desmontar o Estado burguês através das armas.
No começo, o MLN-T era um pequeno grupo que realizou acções que geravam simpatia na esquerda até que, em sua fase de crescimento, a partir de 1968, começou a realizar sequestros e homicídios.

Entre essas acções se destacam o sequestro e execução do agente americano Dan Mitrione, a quem os tupamaros acusavam de ensinar a torturar as forças de segurança uruguaias.
A história de Mitrione é o pano de fundo do filme "Estado de sítio", do franco-grego Costa Gavras.

Também sequestraram o cônsul geral brasileiro, Aloysio Dias Gomide, e o agrônomo Americano Claude Fly, que foram libertados em 1971, depois de sete meses de cativeiro.
O embaixador britânico em Montevidéu, Goeffrey Jackson, foi outro sequestrado em 1971 e contou sua história no livro "Sequestrado pelo povo".

As acções dos tupamaros, num país mergulhado numa profunda crise económica, contribuíram para a radicalização política que resultou no golpe de Estado cívico-militar de Junho de 1973, apesar de a guerrilha já ter sido militarmente derrotada em 1972.
Mujica, que foi baleado nove vezes, esteve preso em 1970 e participou na fuga em massa da Prisão de Punta Carretas em 1971. Voltou a ser capturado em 1972, assim como toda a direcção tupamara.

Os líderes do MLN-T foram feitos "reféns" da ditadura (1973-1985) e ficaram presos em diferentes quarteis do país em condições subumanas.
Em 1985, com a restauração democrática, os dirigentes tupamaros foram libertados dentro de uma amnistia promovida pelo primeiro governo de Julio María Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000).

Da experiência guerrilheira e horizonte anticapitalista do MLN dos anos 60-70 apenas restaram os atos ritualísticos que, de tanto em tanto, recordam o passado revolucionário, em particular quando evocam seu fundador, Raúl Sendic, Che Guevara, ou a “tomada de Pando”, uma de suas ações armadas de maior impacto. O discurso de fidelidade “heróica” tem como destinatários, por um lado, os velhos militantes e, por outro lado, os jovens que se incorporam atraídos pela “mística” mas cuja adesão é necessário galvanizar. Entretanto, as figuras centrais de sua atual direção exercem o papel de homens de Estado.
As tradicionais reivindicações programáticas da esquerda revolucionária foram abandonadas uma atrás da outra. Nenhum traço do rompimento com o FMI, do não pagamento da dívida externa, da reforma agrária ou da estatização dos bancos e do comércio exterior. Menos ainda da exigência de anular a Lei de Caducidade (impunidade) e desmantelar o aparato repressivo.
Todas demandas que o MPP defendia, desde a sua fundação em 1989 até meados dos anos 90, tanto na Frente Ampla como nas organizações operárias e populares. Já em 1999 o principal porta voz do giro “realista”, José Mujica, adiantava o que viria: “mudar o sistema é atualmente uma utopia”.
"O Uruguai é provavelmente hoje mais desigual do que a dos anos sessenta. Pobreza é maior e mais violenta do que quando Sendic marchas organizadas de agricultores para que eles pudessem descobrir Montevidéu também teve a miséria na Suíça da América". Misery hoje para ver apenas cinco minutos parar em qualquer canto do país. No mesmo bloco onde o apartamento de Mario Benedetti, o berço deste livro, a localização mais central em Montevidéu, há crianças que dormem deitado na calçada, nem mesmo um cartão em que a mentira, sujo, descalço, e condenado a base de cocaína. "

"Os motivos para a rebelião não faltam. Pelo contrário. Qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade, você pode sentir seu sangue ferver para ver o que somos, o que temos e para onde estamos indo "

quinta-feira, 26 de novembro de 2009


Teologia da Enxada



Em 1969, um grupo de 10 estudantes de Teologia decidiu ensinar e estudar a teologia de maneira nova, por meio de diálogos com os agricultores e as famílias camponesas. Durante três anos, os jovens viveram no interior e se dedicaram ao trabalho no campo e ao estudo da teologia. Dessa experiência se originou a Teologia da Enxada.

"Nós buscávamos entender as aspirações populares, ou seja, existia uma inversão, pois, ao invés de dialogarmos com outras correntes teológicas nós conversávamos com o povo. E o diálogo é base fundamental da Teologia da Enxada. Nosso intuito era transmitir a Teologia de forma adequada. Essa era uma maneira de devolver o que estudávamos", explica João Batista.

Diferente do que alguns acreditam a Teologia da Enxada não provém diretamente da Teologia da Libertação. Elas são apenas próximas, conforme esclarece João batista. A doutrina é exclusivamente bíblica, de modo a evitar todas as abstrações e conceitos filosóficos, já que estes elementos não pertencem à cultura popular. Neste movimento é falada a linguagem dos pobres para que estes possam ser os propulsores de sua própria luta e história.

Passados 40 anos, diversas pessoas se uniram ao movimento e abraçaram a Teologia da Enxada para experimentar um novo modo de viver e para repassá-la aos pobres. Atualmente, muitas iniciativas de formação e associações missionárias do Nordeste têm a sua inspiração nessa nova forma de pensar e agir.

"Comemorar os 40 anos da Teologia da Enxada significa dar um aceno para a Igreja e para a sociedade no sentido de alertar para a importância do protagonismo dos pobres e dos excluídos na caminhada da Igreja", comenta o teólogo José Batista, um dos fundadores da Teologia da Enxada.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009


"gladiador anti-imperialista"


"Com estas duas banderas hasteadas, a do Irã e a da Venezuela, símbolos livres de países livres, bandeiras revolucionárias, estamos aqui para dar as boas-vindas ao irmão Mahmud Ahmadinejad", disse Chávez no pátio do palácio presidencial de Miraflores.
"Eu o chamaria até de gladiador das lutas anti-imperialistas, exemplo de firmeza, de constância, de batalha pela liberdade de seu povo, pela grandeza da pátria persa, da pátria iraniana. A pátria de Bolívar dá-lhe as boas-vindas", acrescentou.Chávez e Ahmadinejad, que desenvolveram uma estreita relação política nos últimos anos, cumprimentaram-se com um forte abraço, antes das honrarias militares.
"Dou graças a Deus todo-poderoso pela oportunidade de apresentar-me outra vez na Venezuela revolucionária, com meus amigos revoucionários", declarou Ahmadinejad.
O presidente iraniano também fez elogios a Chávez, a quem chamou de "irmão valente" e de homem "que resiste como uma montanha", afirmando que os dois países "ficarão juntos até o final".
"Hoje, os povos venezuelano e iraniano, dois irmãos e amigos na trincheira da luta contra o imperialismo, estão resistindo", declarou o líder iraniano após ser recebido por Chávez.
"O papel de Hugo Chávez neste segundo despertar dos povos latino-americanos é admirável. É um grande homem revolucionário. Eu sou seu irmão e seu amigo, e para mim é uma honra. Vamos ficar juntos até o final", acrescentou Ahmadinejad, tomando as mãos de seu anfitrião e abraçando-o diante das câmaras.

"Nós aqui nos sentimos em casa. O povo iraniano e venezuelano formaram uma frente comum diante das arrogâncias do imperialismo mundial. Uma frente que resiste com valentia perante os inimigos dos povos do mundo", estimou Ahmadinejad.
Segundo o líder iranino, que acaba de visitar o Brasil e a Bolívia, há uma revolução acontecendo na América do Sul, onde há um futuro brilhante que "pertence aos povos".
"Vamos estar juntos com dignidade, resistência, consciência e inteligência. Dou graças a Deus por estar aqui, entre meus irmãos, com um grande povo resistente. Estamos no início do caminho para o topo", considerou Ahmadinejad. "Viva a Venezuela, viva Chávez", concluiu o presidente iraniano, falando em espanhol.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009


Paraguai acusa brasileiros de bombardear índios com veneno

A ministra paraguaia da Saúde, Esperanza Martínez, confirmou que mais de 200 indígenas da comunidade Avá-Guarani foram envenenados por agrotóxicos despejados por um avião de origem brasileira na cidade de Itakyry, a 380 quilômetros da capital, Assunção. O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, ordenou abertura de inquérito sobre o caso.
"Foi constatada a intoxicação de membros das cinco comunidades indígenas assentadas na localidade de Itakyry, vítimas de pulverizações de um avião com substâncias tóxicas", anunciou um comunicado da Secretaria Ambiental. Segundo Esperanza, "os nativos foram banhados por um líquido lançado de um avião".
A ministra informou que as pessoas atingidas estão sofrendo de sintomas característicos de envenenamento por agrotóxicos, como enjôos, vômitos e dores de cabeça. Ela ainda anunciou a existência de danos ambientais, que seriam comprovados por fotografias. A região afetada soma 15 mil hectares de terras que são alvo de disputas entre produtores de soja brasileiros e indígenas paraguaios. Por diversas vezes, os proprietários de terra tentaram desalojar os índios, que resistem. Segundo o governo, este é um problema para o Estado, já que os chamados “brasiguaios” alegam ter comprado a terra “com os índios dentro”.
O Indi (Instituto Nacional do Indígena do Paraguai) acusou os produtores de terem fumigado o local com a intenção de desalojar a população, que reivindica o direito ancestral à terra. O sociólogo paraguaio Ramón Fogel contou ao Opera Mundi que não é a primeira vez que índios são atacados na região. “A diferença é que, dessa vez, a doença é crônica”, diz. Segundo Fogel, este problema é antigo e permanente e afeta quase todas as comunidades indígenas da região leste do país.
De acordo com o sociólogo, os fazendeiros consideram a população pobre indígena como um incômodo. “Eles querem progresso, precisam de mais dinheiro e, para eles, os nativos atrapalham esse objetivo”, acusa.
Defesa
A advogada Nidia Silvero de Prieto, que representa os fazendeiros brasileiros, negou as acusações do governo paraguaio e declarou que a incriminação faz parte de uma campanha governamental para tentar tirá-los das terras. Ela também disse que os “brasiguaios” possuem títulos de propriedade, e que os índios vêm ocupando a região apenas nos últimos nove meses.
Fogel, no entanto, contesta a afirmação e diz que os Avá-Guarani são nativos das terras de Itakyry. A legalidade da terra continua em julgamento. Os produtores brasileiros ganharam uma ordem para expulsar os indígenas, que por enquanto está adiada.
Tratores
A promotoria da região constatou que o fazendeiro brasileiro Alair Afonso violou a lei ambiental, já que sua propriedade não conta com barreiras vivas de proteção, nem faixas de 100 metros entre o cultivo e a comunidade. Diante das acusações, Afonso foi chamado para depor esta manhã na
Promotoria do Meio Ambiente de Ciudad del Este, mas não se apresentou. Funcionários da secretaria do Meio Ambiente viajaram para a região para investigar denúncias de outros danos, como o caso de uma escola e um cemitério indígenas que teriam sido destruídos por tratores.

A terra do povo Ayoreo está sendo rapidamente destruída para a produção de carne bovina


O único povo indígena isolado na América do Sul cujas terras ficam fora da região amazônica, está vendo sua floresta ser rápida e ilegalmente destruída por pecuaristas em busca de terras para a criação de gado.

Os Ayoreo-Totobiegosode são os únicos índios isolados no mundo que estão perdendo suas terras para a indústria pecuária.
As atividades dos pecuaristas foram reveladas por fotos de satélite tiradas em 1o de novembro.

Desde o dia 2 de novembro, uma campanha produzida pela Survival International, expondo o desmatamento, tem sido veiculada na Radio Nanduti, emissora paraguaia de grande porte.
Os pecuaristas, da empresa brasileira Yaguarete Pora S.A., mantêm suas operações nas terras dos Ayoreo-Totobiegosode apesar de sua licensa ter sido suspensa, por desmatamento ilegal, pelo Ministério de Meio-Ambiente paraguaio em agosto.

Eles estão desmatando a floresta, a terra do povo Ayoreo-Totobiegosode, usando escavadeiras supostamente pertencentes a Jacobo Jauenhowen, dono de uma grande empresa de maquinário numa comunidade menonita próxima à aldeia indígena.
“Essa é uma séria ameaça aos Totobiegosode. O desmatamento ilegal conduzido pela Yaguarete no Paraguai está tendo continuidade sem controle algum”, afirmou a ONG paraguaia GAT, que vem trabalhando para proteger as terras dos Ayoreo.

No ano passado, a Yaguarete, juntamente com outra empresa brasileira, a River Plate S.A., destruiu milhares de hectares de terra dos indígenas.
Uma parte dos Totobiegosode mantém contato com não-índios e tem parentes entre aqueles que permanecem isolados.

O diretor da Survival, Stephen Corry, disse hoje: “Os Totobiegosode são os índios isolados mais vulneráveis no mundo. Uma tragédia está acontecendo diante de nossos olhos – e das lentes da camera do satélite. O Presidente Lugo não pode cruzar os braços e observar enquanto o povo mais vulnerável do Paraguai vê suas casas e modos de vida serem aniquilados.
Texto do anúncio na Radio Nanduti, emissora paraguaia:

‘Incrível, porém verdade! Nas terras mais remotas da região norte do Chaco vivem índios que nunca antes tiveram contato com o mundo exterior. Eles são os Ayoreo-Totobiegosode. Milhares de hectares de suas florestas já foram destruídos e agora pecuaristas brasileiros estão enviando escavadeiras para destruir ainda mais, sem permissão do Governo.

As consequências para os Totobiegosode serão catastróficas: doenças mortais, a perda de suas terras e culturas, o fim de seu mundo.

Para mais informações, visite www.alertaparaguay.com

quinta-feira, 19 de novembro de 2009


Indígenas entram em conflito com produtores no Paraguai


Uma senadora paraguaia e um produtor rural foram agredidos ontem por indígenas em uma área situada no distrito de H, a 70 quilômetros da fronteira de Ciudad del Este e Foz do Iguaçu. A senadora fazia parte de uma co­­mitiva formada por quatro par­­lamentares que foram até o local averiguar denúncias de que sojicultores brasileiros e paraguaios haviam intoxicado os índios por disputa de terra.

Armados com arco e flecha, os índios fizeram uma barreira na entrada da propriedade e im­­pediram o acesso de qualquer brasileiro no local, inclusive a imprensa. O trânsito era livre somente para jornalistas e parlamentares paraguaios. O produtor rural paraguaio Luiz Alberto Jacquier tentou furar o bloqueio e recebeu uma pedrada.
A senadora Maria Digna Roa, do Partido Colorado, de oposição ao governo, recebeu uma paulada durante a reunião com os in­­dígenas. “Is­­so é um insulto contra os senadores porque viemos conversar. Os índios estão com lavagem cerebral”, diz.
A senadora Sulma Gómez, do PRLA, que pertence à base de apoio ao governo, disse que a reunião não surtiu resultado. “Não houve acordo porque os índios estão sendo usados por gente do governo que busca confrontação com o setor produtivo”, diz.
Tam­­bém integravam a comitiva os senadores Marciel Gon­­zález e Ana Maria Mendon­za, do partido Pátria Querida.

Os índios ocupam desde fevereiro deste ano uma área equivalente a 2.638 mil hectares que corresponde a terras de nove produtores rurais brasileiros e paraguaios. Eles acusam os sojicultores de terem pulverizado a propriedade com um avião no mês passado, o que teria causado intoxicação em várias pessoas da comunidade. Jornalistas paraguaios que tiveram acesso à propriedade disseram que os indígenas dormem em barracas e não plantam no local porque a justiça impediu qualquer cultivo até que a situação seja resolvida. Eles ainda alegaram à imprensa paraguaia que representam cinco comunidades e possuem título da terra.

Os produtores rurais alegam que os índios estão sendo manipulados e têm apoio do governo porque a Justiça já concedeu reintegração de posse da área, mas a polícia não cumpriu.
No Paraguai há 23 anos, o produtor rural Mário Schimit nunca passou por uma situação difícil, mas agora está há oito meses sem poder trabalhar. Já perdeu a safrinha, plantação de milho e trigo deste ano, e, se não plantar soja em 15 dias, terá mais prejuízo. Atual­­mente Schmit mora de favor com uma filha em Ciudad del Este. “O prejuízo é incalculável. Mais de US$ 100 mil”, conta.

Os produtores prejudicados formaram uma co­­missão e pretendem pedir indenização ao governo paraguaio para ressarcimento das perdas. A ação está calculada em mais de US$ 4 milhões.
O produtor brasileiro Carlos Augusto Nóbile, que está há mais de 30 anos no Paraguai, ar­­gumenta que todos os fazendeiros têm escritura da terra, em­­bora os indígenas também apresentem a de­­les. “A escritura dos índios é fria, fabricada”.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009



Vinte anos depois de Berlim, palestinos derrubam pedaço do muro de Israel


Um grupo de palestinos derrubaram nesta segunda-feira um pedaço do muro de separação erguido por Israel na Cisjordânia para evitar ataques terroristas, no mesmo dia em que a Alemanha festeja o 20º aniversário da queda do Muro de Berlim.

Algumas dezenas de palestinos, ajudados por ativistas estrangeiros pró-Palestina, se reuniram nesta data de propósito, para fazer uma analogia do que chamam de "muro do apartheid" com a barreira que dividia a capital alemã.

"Um grupo de 150 militantes foi ao muro perto de Qalandiya e derrubou uma parte por ocasião do 20º aniversário da queda do Muro de Berlim", declarou Abdala Abu Rahma, ativista palestino.

O exército israelense interveio imediatamente e dispersou los manifestantes, que responderam jogando pedras.
Dois palestinos foram detidos.

A barreira de segurança terá, quando concluída, uma extensão de 709 quilômetros, dos quais 85% estarão na Cisjordânia, segundo o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).
Ainda de acordo com esta agência, 60% do traçado do muro foi construído até agora.

20º aniversário da queda do Muro de Berlim

O Muro começou por dividir a Alemanha em duas. A Federal e a Democrática. Uma a ocidente, outra a leste. Era assim o Mundo em 1961, quando na noite de 12 para 13 de Agosto, Berlim foi dividida em duas. De início nem um muro era, apenas uma cerca com arames que dividia em duas partes a cidade de Berlim. De um lado estava o Ocidente, do outro o Bloco de Leste. Um lado mais próximo dos EUA, o outro da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, dirigida a partir de Moscovo, na Rússia. A divisão física feita na Alemanha simbolizava a divisão do Mundo na perfeição. De um lado, a OTAN, do outro o Pacto de Varsóvia.

Dos 155 quilómetros iniciais, restam 1300 metros. Foram mantidos como memorial da divisão. Com o nome de Galeria do lado leste, o que resta do Muro foi pintado com grafitti por artistas de todo o planeta e é hoje um dos pontos turísticos mais visitados da cidade.

Demorou menos de um ano a reunificação da Alemanha. O processo teve início em Julho de 1990 e ficou concluído a 3 de Outubro, com a entrada em vigor do Tratado de Unificação, que viria a fazer de novo de Berlim a capital do país.Hoje, a Alemanha é liderada por Ângela Merkel, uma mulher que cresceu na RDA e Berlim acabou por tornar-se o motor da união da Europa, com a inclusão de vários países que antes pertenceram ao pacto de Varsóvia na União Europeia.

A chanceler alemã Angela Merkel, o ex-presidente soviético Mikhail Gorbachov e o ex-líder sindical polonês Lech Walesa cruzaram nesta segunda-feira o "checkpoint" simbólico do Muro de Berlim, aberto pela primeira vez há 20 anos.
Um ato ecumênico na igreja de Gethsemani, em Berlim Oriental, um dos redutos da dissidência e das manifestações que, em 9 de novembro de 1989, obrigaram a Alemanha comunista a desaparecida República Democrática da Alemanha (RDA) a abrir suas fronteiras.
"Não é um dia de festa só para a Alemanha, mas para toda a Europa e para as pessoas que conquistaram mais liberdade, desde a Rússia a até muitas outras partes do mundo", disse a chanceler,

A queda do Muro foi o "resultado de uma longa história de falta de liberdade e de luta contra esta falta de liberdade. Na Alemanha, não fomos os primeiros mas estávamos lá quando a Guerra Fria terminou", acrescentou a chanceler, referindo-se aos esforços da Polônia e da Hungria por libertar-se do jugo comunista.

«Aqueles que tiveram o privilégio de viver aqueles dias, com a emoção dos que acreditam na força da democracia e da liberdade, têm o dever de fazer desta celebração um momento de reconfirmação do compromisso com a permanente dignificação dos ideais que conduziram à queda do Muro de Berlim»,

«Será essa a melhor forma de estar à altura do exemplo dos que nunca se resignaram perante a brutal separação para que remetia o 'muro da vergonha', edificado em nome do medo e contra a liberdade»

Os alemães de Leste consideram que a reunificação da Alemanha, 20 anos passados sobre a queda do muro de Berlim, continua sem ser consumada. Uma sondagem revela ainda que a maioria se sentia bem na extinta República Democrática Alemã.O estudo, citado pela TSF, mostra que 50 por cento dos cidadãos da antiga Alemanha de Leste, de regime comunista, lamentam diferenças reais do nível de vida.
Com a queda do muro, o desemprego cresceu e é agora maior do que na Alemanha Ocidental.Na realidade, continuam a existir dois países: o Leste tem salários mais baixos e o PIB é de apenas um terço, comparativamente com o lado ocidental. A saudade é o sentimento expresso por 12 por cento dos inquiridos face à RDA.
Há outros 12 por cento de alemães de Leste que defendem a reconstrução do muro e há quem acuse o Ocidente de arrogância. Ainda assim, cerca de 20 por cento consideram, segundo a sondagem, que a reunificação vai no bom caminho.

Chávez pede que Venezuela se prepare "para a guerra"



O presidente venezuelano Hugo Chávez afirmou que os líderes militares devem estar preparados "para a guerra" e pediu aos cidadãos que "defendam a pátria" contra futuros ataques que poderiam ser orquestrados pelos Estados Unidos através da Colômbia.
"Não vamos perder um dia na nossa principal missão: nos preparar para a guerra e ajudar as pessoas a se preparar para a guerra, porque isso é responsabilidade de todos", disse Chávez durante seu programa semanal de rádio e televisão, "Alô Presidente".
"Senhor comandante da guarnição militar, batalhões da milícia, treinemos. Estudantes revolucionários, trabalhadores, mulheres: todos prontos para defender esta terra sagrada chamada Venezuela", acrescentou.
Chávez, criticando novamente o acordo militar assinado nos últimos dias entre os EUA e a Colômbia, pediu o seu colega americano Barack Obama que evite cair na tentação de uma agressão contra a Venezuela.
"Senhor presidente Obama, não vá cometer o erro de realizar uma agressão contra a Venezuela através da Colômbia (...) Porque nós estamos prontos para qualquer coisa e a Venezuela não é nem nunca vai ser uma colônia ianque".
Chávez sustenta que o acordo de cooperação militar assinado no mês passado entre Bogotá e Washington permitindo aos Estados Unidos o uso de sete bases em território colombiano constitui esse sim uma “agressão directa”, vendo nele uma potencial invasão da Venezuela por parte do exército norte-americano.

Ambas as administrações colombiana e dos Estados Unidos rejeitaram esta ideia, alegando que a cooperação entre os dois países se destina exclusivamente ao combate ao tráfico de drogas e contra a guerrilha dos rebeldes marxistas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).


O Governo colombiano vai denunciar junto do Conselho de Segurança das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos as “ameaças de guerra” feitas pelo Presidente venezuelano, Hugo Chávez,

segunda-feira, 2 de novembro de 2009



O democrata Barack Obama foi eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos e o 44º da história do país.

Protestante e descendente de mulçumano, Barack Obama, de 47 anos, é o primeiro negro a concorrer à Casa Branca por um grande partido. Seu nome significa “abençoado” em suaíli, uma das línguas do Quênia, onde estão suas raízes familiares. A carreira parlamentar começou em 1996, em Illinois. Ele é casado há 16 anos e tem duas filhas.

Nascido em Honolulu, no Havaí, em 4 de agosto de 1961, Barack Hussein Obama é senador por Illinois em seu primeiro mandato. Ele passou a juventude na ilha americana, onde se destacou pelo serviço comunitário. Com um bom histórico escolar, Obama formou-se em direito na tradicional pela Universidade Harvard, onde conheceu sua mulher, Michelle, e trabalhou como professor e defensor dos direitos civis em Chicago, antes de ser eleito senador.

Obama era um rosto pouco conhecido no cenário nacional até vencer as acirradas primárias democratas contra Hillary Clinton --tida como grande favorita na disputa presidencial. A experiência da disputa com a ex-primeira-dama fortaleceu sua estratégia de campanha e a mostrou que a promessa de mudança em tempos de insatisfação política funcionava.
Com o slogan "Mudança na qual podemos acreditar", Obama entrou como preferido na disputa presidencial contra o veterano republicano McCain.

O resultado confirma a vantagem consolidada nas pesquisas após o estouro da crise financeira norte-americana que assola as Bolsas de todo o mundo.
O voto popular, porém, ainda precisa ser confirmado pelos colégios eleitorais, no processo de votação indireta americano. Como nos EUA a eleição presidencial é indireta, quem efetivamente define o novo presidente são os representantes dos colégios eleitorais. Cada Estado tem um número de representantes proporcional à sua população e o colégio tende a endossar o candidato escolhido pelo voto popular.
Economia

A vantagem, apontam analistas políticos, foi consolidada pelo estouro da crise financeira, em meados de setembro, com a quebra do tradicional banco Lehman Brothers. "Nenhum dos dois [presidenciáveis] realmente apresentou uma solução real para a crise em curto prazo, mas Obama foi quem mostrou melhor aos eleitores que era capaz de retomar o crescimento da economia americana", disse Donald Kettl, professor de ciência política da Universidade da Pensilvânia.

Para o professor, Obama criou uma imagem de otimismo e tranqüilidade que os americanos queriam ver em seu candidato. "Ele é um político muito bom, mostrou que é calmo e inspirou confiança com sua retórica afiada. Obama se tornou um movimento político", disse, em entrevista por telefone à Folha Online, da Filadélfia.
Obama se beneficiou ainda do erro do rival republicano que, meses antes da crise financeira abalar a economia mundial, admitiu que a economia não era seu ponto forte e foi duramente criticado.

Recordes

A vitória de Obama marca ainda o sucesso de sua estratégia de campanha baseada em objetivos grandiosos e financiada pela maior arrecadação de verbas
da história da política americana.
"Obama buscou novas fontes e formas de financiamento. Ele aliou os tradicionais grandes doadores com as vantagens e inovações da internet", disse Marie Gottschalk, professora de ciência política da Universidade da Pensilvânia e especialista em campanhas políticas, em entrevista à Folha Online, por telefone. O segredo do sucesso do senador, aponta Gottschalk, foi criar um entusiasmo inédito entre os jovens que se mobilizaram não apenas para votar, mas para arrecadar doações e incentivar mais pessoas a participarem do processo político.

Na internet, Obama provou que estava disposto a dar voz a todos os cidadãos. A campanha democrata montou 700 centros de jovens pró-Obama e, no Facebook, site de relacionamentos, mantém dois milhões de "amigos" contra 500 mil de McCain. Os jovens também aumentaram as platéias de seus comícios, que chegaram a reunir 100 mil pessoas.

"Obama levou a demagogia a um outro nível. Embora seja apenas um palpite, já que ainda não temos os dados sobre o perfil dos eleitores, é muito provável que a vitória de Obama seja resultado do entusiasmo inédito que ele causou nos jovens", avalia Gottschalk, acrescentando que o democrata deve influenciar a estratégia das próximas campanhas presidenciais nos EUA.

O primeiro Presidente negro da África do Sul, Nelson Mandela, felicitou Barack Obama pela vitória nas presidenciais norte-americanas e acrescentou que esta escolha é um exemplo de que todos podem «sonhar» em mudar o mundo.

"A sua vitória demonstrou que ninguém, em todo o mundo, deve ter medo de sonhar em mudar o mundo para o tornar melhor", escreveu Mandela numa carta dirigida ao senador do Illinois, na qual lhe desejou também «força e coragem» para os próximos anos.

«Estamos convencidos de que conseguirá finalmente realizar o seu sonho de fazer dos Estados Unidos da América um parceiro integral na comunidade de nações, que se consagra à paz e à prosperidade para todos», acrescentou o herói da luta contra o «apartheid» e prémio Nobel da Paz.

Mandela afirmou «confiar que combaterá igualmente e em todo o lado o flagelo da pobreza e da doença», sublinhando que aplaudia o seu «compromisso para com a paz e a segurança no planeta».

crise do capitalismo


Fundado em 1850 por três judeus imigrantes da Alemanha, o Lehman Brothers é há décadas um proeminente banco de investimentos de Wall Street.
Suas operações são com governos, companhias e outras instituições financeiras e emprega 25 mil pessoas em todo o mundo.

Seu principal negócio é a compra e venda de acções e activos de renda fixa, pesquisa, gestão de investimentos e fundos. Desde o início da crise nos mercados financeiros, a instituição viu o valor da sua acção encolher de US$ 82 para menos de US$ 4, uma queda de 95%.

O Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos dos Estados Unidos, pediu concordata após incorrer em perdas bilionárias em decorrência da crise financeira global.
Temores de que a carteira de activos do banco, em grande parte ancorada em valores hipotecários, valia muito menos do que o originalmente estimado minaram a confiança na instituição de 158 anos.

Lehman Brothers viu suas acções caírem mais de 95%.

O Lehman Brothers é considerado um dos maiores operadores de empréstimos a juros fixos de Wall Street e havia investido fortemente em títulos ligados ao mercado do chamado "subprime", o crédito imobiliário para pessoas consideradas com alto risco de inadimplência.
Com esses investimentos agora considerados arriscados demais, analistas dizem que era inevitável que aumentasse a desconfiança em relação ao Lehman Brothers --particularmente depois do colapso do banco Bear Stearns, no início do ano.


Em 15 de Setembro de 2009, Lehman Brothers, considerado na época o quarto maior dos Estados Unidos no setor, anunciava o seu pedido de concordata. Falhava assim a tentativa das autoridades norte-americanas de evitar a contaminação do mercado financeiro e explodiu a crise do capitalismo mundial, iniciada no sistema hipotecário do país.

Um dia antes, um domingo, autoridades financeiras e de grandes instituições tentaram uma saída, sem sucesso, para socorrer o banco, fundado há 159 anos. A decisão pela concordata e o anúncio de um prejuízo de US$ 3,9 bilhões provocou instabilidade nas bolsas de valores do mundo todo, levando pânico aos operadores do mercado financeiro.

Dias antes, o Bank of America, numa operação de US$ 50 bilhões, tinha adquirido a Merryl Linch e acreditava-se que um operação parecida poderia salvar o Lemon, mas isso não ocorreu, pois o Barcley da Inglaterra deu para trás. No dia 15 de setembro, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) apresentou desvalorização de 7,59%, a maior queda desde os ataques de 11 de setembro de 2001, quando a baixa foi superior a 9%.

Em todo o mundo os bancos centrais começaram a adotar medidas para socorrer suas economias e o Brasil, que passava ao largo da crise, entrava em estado de alerta. Nessa semana anterior, se reuniu no Brasil o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central para definir a taxa básica de juros. O cenário externo fez com que o comitê elevasse a taxa básica de juros, a Selic, de 13% para 13,75%, mesmo nível de outubro de 2006. Na ocasião, a direção do BC avisou em sua ata da reunião divulgada uma semana depois que a " percepção de risco sistêmico permanecia elevado" por conta da "severa" crise financeira internacional.

O risco sistêmico ocorre quando há temor de que uma instituição financeira não tenha recursos suficientes para pagar a outra, causando um "efeito dominó", ou seja, levando ao colapso toda a estrutura de bancos e financeiras. O comitê considerava que a intervenção do governo dos Estados Unidos em grandes empresas de financiamento imobiliário poderia " ser vista como condição necessária, mas provavelmente não suficiente, para a superação da crise".

A ata da reunião registrava que o crescimento das economias emergentes continuava forte e até aquele momento aparentemente havia sido afetado de forma limitada pela crise hipotecária nos EUA, "constituindo contraponto aos efeitos da desaceleração das economias maduras". Por outro lado, especialistas ouvidos pela

Agência Brasil afirmavam que a crise nos Estados Unidos estavam longe do fim.
O custo do crédito começava a aumentar no Brasil, por causa da dificuldade de captação externa por conta da crise. Os bancos, que anteriormente captavam recursos no exterior a custo mais baixo, com o agravamento da crise nos Estados Unidos começavam a recorrer aos recursos no mercado interno.

Com isso, o BC adotou medidas para tentar aumentar a liquidez (recursos disponíveis na economia), como redução de depósitos compulsórios (dinheiro que os bancos são obrigados a deixar depositados no BC) no total de R$ 99,8 bilhões durante a crise, estímulos para que bancos grandes comprassem carteiras de médios e pequenos, uso das reservas internacionais para em linhas de crédito, autorização para que bancos oficiais comprassem ações de instituições financeiras privadas sem licitações, venda de dólares das reservas internacionais, entre outras ações.

Mas as crises não são novidade no campo da economia. O pensador Karl Marx (1818-83) formulou algumas ideias sobre crises, medidas de valorização do capital e até sobre o comércio exterior e o mercado de ações, que podem ser encontradas em obras como "O Capital" e "Teorias da Mais-Valia".


CRISES E FINANÇAS

Durante muito tempo, Marx foi um dos raros autores que se preocupou com o fenômeno das crises econômicas, considerando-as inevitáveis e inerentes ao sistema capitalista. A maioria dos economistas insistia na capacidade harmonizadora do mercado, relegando as crises a um segundo plano, como algo apenas casual e externo. Outros - mais respeitados por Marx, como Ricardo ou o suíço Sismonde de Sismondi (1773-1842) - até reconheciam a importância delas, mas as concebiam como um limite com o qual o sistema econômico deveria saber lidar. Depois, até em todo o século 20, registra-se um movimento pendular entre fases de predomínio teórico do harmonicismo e fases em que crises violentas, como a de 1929 ou a dos anos 1970, forçaram a incorporação delas ao pensamento econômico aceito pela tradição acadêmica e de instituições oficiais.

Mesmo nesse caso, contudo, as crises se revestem de um caráter funcional, entendidas como mal necessário ou como crises de crescimento, ou ainda, na melhor das hipóteses, como indicadores da incapacidade do setor privado resolver seus problemas sem a intervenção do Estado.

Na teoria de Marx, por outro lado, elas revelam a emergência da dimensão negativa de um sistema marcado pela contradição. Ao contrário do pensamento econômico tradicional, aqui a crise está intimamente associada à crítica. Mas não a uma crítica subjetiva de alguém que analisa de fora e condena, e sim a uma crítica objetiva: desnudando a dimensão negativa no mau funcionamento do sistema, indica-se como o próprio sistema realiza uma espécie de autocrítica.

Se o capital é valor que se valoriza, os momentos em que ele desvaloriza o valor existente de maneira inevitável, comprometendo assim a base de seu crescimento, são momentos em que ele mesmo se contradiz, negando as condições de sua existência.
Dito desse modo parece pouco problemático. Mas a teoria das crises de Marx permitiu leituras diversas e conflitantes até entre seus seguidores. Houve quem as atribuísse a meros desequilíbrios entre os setores da economia, ou a uma incapacidade crônica da produção criar mercados, devido às condições antagônicas da distribuição dos produtos no capitalismo; houve ainda os que as circunscreviam ao âmbito financeiro, como se o da produção já não fosse contraditório.

A controvérsia surgiu da forma complexa de apresentação das categorias na teoria de Marx. Há passagens que justificam uma ou outra das interpretações, e na seqüência a desacreditam. O problema pode ser equacionado, no entanto, levando-se em conta o todo da obra e, principalmente, o projeto de Marx desdobrar cada forma do sistema como resultado da negatividade das formas anteriores, indo do mais geral ao mais específico e intrincado.

Em primeiro lugar, então, é preciso retomar o aspecto geral. No final do capítulo 3 foi citado um texto que pode servir muito bem nesse sentido: "O capital é trabalho morto, que apenas se reanima, à maneira dos vampiros, sugando trabalho vivo e que vive tanto mais quanto mais trabalho vivo suga". Vimos como essa passagem sintetiza bem a contradição constitutiva do capital em sua relação com a força de trabalho. Mas um aspecto central deve agora ser acrescentado. É que, ao comprar e incorporar a força de trabalho, o capital está também se apropriando da capacidade de medir o valor, que o trabalho abstrato possui numa sociedade de troca de mercadorias. O capital adquire com isso não só a propriedade de se valorizar como a de medir essa valorização; ele se valoriza e se mede.

Mas a sua relação com a mensuração é contraditória, como também sua relação com a valorização, porque ambas derivam da oposição entre capital e trabalho. Ao mesmo tempo que integra a força de trabalho, o capital também precisa negá-la, substituindo-a por máquinas; ou seja, ao mesmo tempo que adquire a capacidade de se medir, o capital reitera que essa capacidade pertence a um agente que ele mesmo põe como seu oposto. Perde então as suas medidas.

Em todos os níveis da apresentação das categorias de O Capital, aparece essa determinação contraditória da medida e da desmedida. É por ela que vão se definindo em cada nível os distintos conceitos de crise. Se algum deles for isolado dos demais, pode parecer que oferece a única definição possível, invalidando as outras - caminho seguido por grande parte das intérpretes de Marx. Mas, de fato, também o conceito de crise obedece à forma da apresentação que vai do mais geral ao mais complexo, também ele vai enriquecendo seu conteúdo junto com o conceito de capital.

Marx faz questão de indicar a possibilidade de crise já no nível da produção e circulação de mercadorias, refutando qualquer pretensão de que o mercado pudesse ser sempre harmônico. Aqui, a medida aparece na passagem fluida entre compras e vendas, quando há correspondência entre as quantidades do que se produz e do que se demanda; a desmedida, ao contrário, é quando não ocorre tal correspondência, interrompendo o movimento.

A forma desse movimento é descrita por Marx em termos que valem também para as fases seguintes da apresentação: "[] o percurso de um processo através de duas fases opostas, sendo essencialmente, portanto, a unidade das duas fases, é igualmente a separação das mesmas e sua autonomização uma em face da outra. Como elas então pertencem uma à outra, a autonomização só pode aparecer violentamente, como processo destrutivo. É a crise, precisamente, na qual a unidade se efetua, a unidade dos diferentes".

A compra e a venda de mercadorias, em primeiro lugar, são as "fases opostas" do processo em que se vende para comprar. Como se realizam pela mediação do dinheiro, elas assim se "separam e autonomizam uma em face da outra", podendo não coincidir. Mas a crise não assinala simplesmente o momento negativo, da não coincidência, e sim a impossibilidade de que essa situação permaneça por muito tempo.

Como as fases de compra e venda se diferenciaram por força de um processo único, que dialeticamente tem de se realizar mediante sua diferenciação em duas fases, chega um momento em que essa autonomia não pode prosseguir. A unidade do processo se afirma, mas como reação violenta à autonomização das fases. No mercado como um todo, a discrepância possível entre compras e vendas precisa ser corrigida e, quando isso acontece, verifica-se a incompatibilidade entre os valores daquilo que se comprou e agora tem de pagar com o dinheiro de uma venda que pode não ocorrer. Segue-se um ajuste violento de contas, e valores simplesmente desaparecem.

Essa forma geral da crise se reapresenta quando a finalidade é definida pelo capital como a de "comprar para vender". A discrepância ocorre no mercado de trabalho, ou nas compras e vendas recíprocas dos vários setores em que se divide a produção entre os capitalistas, ainda mais considerando que tudo isso se realiza pela concorrência. A discrepância de valores significa então que alguns terão prejuízo, talvez grande, vindo a falir. Parte do capital existente se desvaloriza, negando o próprio conceito de valor que se valoriza.