terça-feira, 20 de outubro de 2009


Declaração de Nyélény – Foro Mundial pela Soberania Alimentar


Nós, mais de 500 representantes de mais de 80 paises, de organizações camponesas, agricultores familiares, pescadores tradicionais, povos indígenas, povos Sem Terra, trabalhadores rurais, migrantes, pastores, comunidades florestais, mulheres, jovens, crianças, consumidores, movimentos ecologistas e urbanos, nos reunimos com o povo de Nyélény em Selingue, Mali, para fortalecer o movimento global pela soberania alimentar.


O fizemos, tijolo por tijolo, vivendo em cabanas construídas a mão, segundo a tradição local e comendo a alimentação produzida e preparada pela comunidade de Selingue... Damos a nosso trabalho o nome de Nyeleni, como homenagem, inspirados na legendária camponesa maliense que cultivou e alimentou sua gente.

A maioria de nós somos produtores e produtoras de alimentos e estamos dispostos, somos capazes e temos a vontade de alimentar a todos os povos do mundo. Nossa herança como produtores de alimentos é fundamental para o futuro da humanidade. Este particularmente é o caso de mulheres e povos indígenas que são criadores de conhecimento ancestrais sobre alimentos e agricultura, e que são desvalorizados.


Para esta herança e esta capacidade de produzir alimentos nutritivos, de qualidade e em abundancia, se vêm ameaçadas pelo neoliberalismo e o capital global. Frente a isto, a soberania alimentar nos aporta à esperança e ao poder para conservar, recuperar e desenvolver nossos conhecimentos e nossa capacidade de produzir alimentos.

A soberania alimentar é um direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados, acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica, e seu direito de decidir seu próprio sistema alimentício e produtivo. Isto coloca aqueles que produzem, distribuem e consomem alimentos no coração dos sistemas e políticas alimentárias, por cima das exigências dos mercados e das empresas.


Defendendo os interesses de, e inclusive às futuras gerações. Nos oferece uma estratégia para resistir e desmantelar o comércio livre e corporativo e o regime alimentício atual, e para ENCAUZAR os sistemas alimentários, agrícolas, pastoris e de pesca para a prioridade das economias locais e os mercados locais e nacionais, e outorga o poder aos camponeses e à agricultura familiar, a pesca artesanal e o pastoreio tradicional, e coloca a produção alimentícia, a distribuição e o consumo sobre as bases da sustentabilidade meio ambiente, social e econômica.


A soberania alimentar promove o comercio transparente, que garanta o ingresso digno para todos os povos, e os direitos dos consumidores para controlarem sua própria alimentação e nutrição.


Garanta que os direitos de acesso e a gestão de nossa terra, de nossos territórios, nossas águas, nossas sementes, nossos animais e a biodiversidade, estejam nas mãos daqueles que produzimos os alimentos. A soberania alimentar supõe novas relações sociais livres de opressão e desigualdades entre homens e mulheres, grupos raciais, classes sociais e gerações.

Em Nyéléni, graças a muitos debates e a intensa interação, estivemos aprofundando em nosso conceito de soberania alimentar, e temos intercambiado acerca da realidade das lutas de nossos respectivos movimentos para conservar a autonomia e recuperar nosso poder. Agora entendemos melhor os instrumentos que necessitamos para criar um movimento e promover nossa visão coletiva.

Em prol de quem lutamos?

Um mundo em que...

... todos os povos, nações e estados possam decidir seus próprios sistemas alimentários e políticas eu proporcionem a cada um de nós alimentos de qualidade, adequados, acessíveis, nutritivos e culturalmente apropriados.

... se reconheçam e respeitem os direitos e o papel das mulheres na produção de alimentos e a representação das mulheres em todas as instâncias de tomada de decisões.

... todos os povos de cada um de nossos paises possam viver com a dignidade de seu trabalho, e possam ter a oportunidade de viver em seus locais de origem;

... a soberania alimentar seja considerada um direito humano básico, reconhecido e respeitado pelas comunidades, os povos, os estados e as instituições internacionais;

... possamos conservar e habilitar as comunidades locais, zonas pesqueiras, paisagens e os alimentos tradicionais, baseando-se em uma gestão sustentável da terra, do solo, da água, das sementes, dos animais e da biodiversidade;

... valoremos, reconheçamos e respeitemos a diversidade de nosso conhecimento, alimentação, línguas e nossas culturas tradicionais, e o modo em que nos organizamos e nos expressamos;

... exista uma verdadeira reforma agrária integral, que garanta aos camponeses pleno direito sobre aterra, defendam e recuperem os territórios indígenas, garanta às comunidades pesqueiras o acesso e o controle das zonas de pesca e ecossistemas, que reconheça o acesso e o controle das terras e das rotas de migração de pastoreio garanta empregos dignos com salários justos e direitos trabalhistas para todos os trabalhadores, e um futuro para os jovens do campo, onde as reformas agrárias revitalizem a interdependência entre produtores e consumidores, garantam a sobrevivência da comunidade, a justiça econômica e social, a sustentabilidade ecológica e o respeito pela autonomia local e a governanza com igualdade de direitos para as mulheres e os homens


... onde se garanta o direito aos territórios e a autodeterminação de nossos povos;

... compartilhamos nossos territórios em paz e de maneira justa entre nossos povos, sejamos nós camponeses, comunidades indígenas, pescadores artesanais, pastores nômades e outros;

... em se vivendo catástrofes naturais e provocadas pelas pessoas, e situações posteriores aos conflitos, a soberania alimentar atue como uma autêntica garantia que fortaleza os esforços de recuperação local e diminua o impacto negativo.


Em que se tenha presente que as comunidades afetadas desamparados não são incapazes, e onde uma sólida organização local para a recuperação por meios próprios constitua a chave para a recuperação;

... se defenda o poder dos povos para decidir sobre suas heranças materiais, naturais e espirituais.

Contra que lutamos?

O imperialismo, o neoliberalismo, o neocolonialismo e o patriarcado, e todo sistema que empobreça a vida, os recursos, os ecossistemas e as agentes que os promovem, como as instituições financeiras internacionais, a Organização Mundial do Comércio, os acordos de livre comércio, as corporações multinacionais, os governos quer que prejudicam a seus povos;

O dumping de alimentos apreços abaixo do custo de produção na economia global;

O controle de nossos alimentos e de nossos sistemas agrícolas nas mãos de empresas que privilegiam os ganhos às pessoas, a sua saúde e ao meio ambiente;

Tecnologias e práticas que desgastam nossa capacidade de produção alimentária no futuro, danificam o meio ambiente e põe em perigo nossa saúde.


Estas últimas incluem os cultivos e animais trangênicos, tecnologia terminator, aqüicultura industrial e práticas pesqueiras destrutivas, a chamada “revolução branca” e as práticas industriais no setor lácteo, as chamadas “novas e velhas revoluções verdes”, e os “desertos verdes” dos monocultivos e agrocombustiveis industriais e outras plantações;

A privatização e a mercantilização dos alimentos, serviços básicos públicos, conhecimentos, terras, águas, sementes, animais e nossos patrimônio natural;

Projetos/modelos de desenvolvimento e industrias de extração que despejam, expulsam a população e que destroem nosso meio ambiente e nossa herança natural;

Guerras, conflitos, ocupações, bloqueios econômicos, fome, despejos forçados e confiscação de suas terras, e todas as forças e governos que os provocam e os apóiam; e os programas de reconstrução após conflitos e catástrofes que destroem nosso meio ambiente e capacidades;

A criminalização de todos aqueles que lutam por proteger e defender nossos direitos;

A ajuda alimentaria que encobre o dumping introduz OGMs comunidades locais e os sistemas alimentários e crie novos padrões de colonialismo;

A internacionalização e a globalização dos valores paternalistas e patriarcais que marginalizam as mulheres e as diversas comunidades agrícolas, indígenas, pastoris e pesqueiras no mundo;


Que podemos fazer e faremos a respeito

Da mesma maneira em que estamos trabalhando com a comunidade de Selingue para criar um espaço de encontro em Nyéléni, nos comprometemos a construir nossos movimentos coletivos para a soberania alimentar, construindo alianças, apoiando nossas diferentes lutas e fazendo que nossa solidariedade, força e criatividade cheguem aos povos de todo o mundo que tem um compromisso com a soberania alimentar.


Cada luta pela soberania alimentar, independentemente em que lugar do mundo se libere, é uma luta de todos.

Acordamos uma série de ações coletivas para compartilhar nossa visão de soberania alimentar como todos os povos do mundo, que estão detalhadas em nosso documentos de síntese.


Levaremos a cabo estas ações em cada uma de nossas respectivas áreas locais e regiões, em nossos próprios movimentos e conjuntamente em solidariedade com outros movimentos.


Compartilharemos nossa visão e nossa agenda de ação para a soberania alimentar com aqueles que não puderam estar conosco em Nyéléni, para que o espírito de Nyéléni se dissemine em todo o mundo e se converta em uma poderosa força que faça da soberania alimentar uma realidade para os povos de todo o mundo.

Por último, damos nosso apoio incondicional e absoluto aos movimentos camponeses de Mali e ao ROPPA em sua luta para que a soberania alimentar se converta em uma realidade em Mali e em toda África.

É hora de Soberania Alimentar!!

domingo, 18 de outubro de 2009


Norberto Larroca falou sobre a situação da Saúde na América Latina. Ele afirmou que os recursos para o setor são escassos, mas que há uma grande necessidade de otimizá-los. “O Estado tem que oferecer a Saúde para a população e não se servir dela”. Segundo ele, este mercado é imperfeito. “O mercado da Saúde está em desequilíbrio. A oferta de serviços condiciona a área da Saúde”.

Larroca disse ainda que a maioria dos governantes acha que investir em Saúde é um gasto improdutivo. E que os recursos para o setor são aqueles destinados de acordo com a prioridade de cada um deles. “Se os executivos não derem importância a esta questão, o papel ficará por conta da sociedade, em reclamar por esse direito”.

A questão da prevenção também foi abordada por Larroca. Ele destacou sobre a necessidade de manter a saúde do povo latino e também da preservação dos serviços médicos. “Não temos que nos preocupar somente em como buscar os recursos, mas também como manter a saúde de nosso povo”.

No Brasil

A falta de financiamentos, a necessidade da profissionalização do setor e o tratamento preventivo foram alguns dos pontos apresentados por José Carlos Abrahão, presidente da CNS, sobre a situação da Saúde no Brasil. “Falta financiamento, planejamento e envolvimento de todo o setor, além de treinamento, para galgar dias melhores para a nossa Saúde”.
Segundo ele, atualmente o país possui mais de 76 mil serviços de saúde cadastrados, 455 mil leitos hospitalares e 2.277 operadoras. O setor representa 6% do PIB e gera R$ 90 bilhões por ano.


No entanto, Abrahão afirma que há uma grande necessidade do governo em focar os seus gastos na área de Saúde, preservando a integridade do ser humano.
O presidente da CNS descreveu o cenário atual do setor, apontando a atuação da imprensa sensacionalista; a elevação dos níveis de exigência dos serviços de saúde; fluxo de caixa “negativo”; pendência no pagamento de fornecedores e de tributos; escassez de linhas de crédito.

Outro aspecto abordado por Abrahão foi a questão do mercado de equipamentos de saúde. “O parque tecnológico tem um déficit de manutenção por falta de recursos”.

Médicos Sem Fronteiras foi criada em 1971 por um grupo de jovens médicos e jornalistas que, em sua maioria, tinham trabalhado como voluntários em Biafra, região da Nigéria, que, no final dos anos 60, estava sendo destruída por uma guerra civil brutal.

Enquanto trabalhavam para socorrer as vítimas do conflito, eles perceberam que as limitações da ajuda humanitária internacional da época eram fatais. Para tratar dos doentes e feridos era preciso esperar por um entendimento entre as partes em conflito zou pela autorização oficial das autoridades locais. Além do emperramento burocrático, os grupos de ajuda humanitária não se manifestavam diante dos fatos testemunhados.


Em 1971, o sentimento de frustração desse grupo e a vontade de assistir às populações mais necessitadas de modo rápido e eficiente deram origem a Médicos Sem Fronteiras. A organização surgiu com o objetivo de levar cuidados de saúde para quem mais precisa, independentemente de interesses políticos, raça, credo ou nacionalidade. No ano seguinte, MSF fez sua primeira intervenção, na Nicarágua, após um terremoto que devastou o país. Hoje, mais de 22 mil profissionais trabalham com Médicos Sem Fronteiras em mais de 70 países.

Nos últimos 30 anos, a organização Médicos Sem Fronteiras tornou-se conhecida mundialmente por seu trabalho em situações de emergência. Entretanto, muitas vezes, MSF permanece junto às populações atingidas mesmo depois de controlados os problemas que motivaram sua presença em determinada região. O trabalho continua na reconstrução de estruturas de saúde, nas atividades de prevenção, nas campanhas de vacinação ou na assistência a refugiados. Com o passar do tempo, Médicos Sem Fronteiras sentiu a necessidade de intervir com projetos de longo prazo, não apenas para atender as situações pós-emergenciais, como também para levar cuidados de saúde a pessoas afetadas pela exclusão social.

Uma outra característica essencial do trabalho de Médicos Sem Fronteiras é tornar público aquilo que observa em campo. Em circunstâncias extremas, MSF entende que a melhor maneira de proteger a população de desastres humanitários, como genocídios, fome e limpeza étnica, é falar sobre suas motivações políticas e econômicas, mesmo que esta posição comprometa a presença da organização no país.


MSF é independente de governos. A maioria dos recursos da organização vem de contribuições privadas, o que permite a MSF atuar com agilidade e independência, e proporciona a liberdade de que MSF precisa para falar sobre indivíduos, organismos e governos que estejam infringindo os direitos humanos. Essas declarações públicas são um ato de proteção às populações em perigo que impedem a cumplicidade com os abusos testemunhados pelos profissionais da organização.

A união de intervenção rápida e eficiente com o compromisso de tornar conhecidas as violações de direitos humanos é a forma com que Médicos Sem Fronteiras responde a guerras mundialmente conhecidas, conflitos ignorados, falência de sistemas de saúde, epidemias mundiais como a Aids ou doenças negligenciadas como a tuberculose e a malária. Em 1999, o recebimento do Prêmio Nobel da Paz consagrou internacionalmente o trabalho da organização. É por assumir sua missão como um desafio permanente que Médicos Sem Fronteiras se mantém presente nos 5 continentes, nas regiões mais remotas.



"A organização Médicos Sem Fronteiras leva socorro às populações em perigo e às vítimas de catástrofes de origem natural ou humana e de situações de conflito, sem qualquer discriminação racial, religiosa, filosófica ou política."


"Trabalhando com neutralidade e imparcialidade, os Médicos Sem Fronteiras reivindicam, em nome da ética médica universal e do direito à assistência humanitária, a liberdade total e completa do exercício da sua atividade."


"Eles se empenham em respeitar os princípios deontológicos da sua profissão e em manter uma total independência em relação a todo poder, bem como a toda e qualquer força política, econômica ou religiosa."


"Voluntários, eles medem os riscos e perigos das missões que realizam e não reclamam qualquer compensação que não seja aquela oferecida pela organização."

sexta-feira, 16 de outubro de 2009


Dia Mundial da Alimentação



O Dia Mundial da Alimentação é celebrado no dia 16 de Outubro de cada ano, para comemorar a criação, em 1945, da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).

A celebração da data tem como objectivo principal consciencializar a humanidade sobre a difícil situação que enfrentam as pessoas que passam fome e estão desnutridas, e promover em todo o mundo a participação da população na luta contra a fome.

A comemorar-se este ano sob o lema “Alcançar a Segurança Alimentar em Tempo de Crise”, a data é celebrada em mais de 150 países, num momento em que o mundo volta sua atenção para a fome e a insegurança alimentar que afectam cerca de 800 milhões de pessoas.

A importância de uma alimentação racional e equilibrada e sua influência no estado de saúde do ser humano continua como prioridade na agenda dos governos e organizações especializadas, que se esforçam para encontrar solução para este problema, que afecta milhões de seres humanos no mundo.

Diante do aumento da fome no mundo, as organizações especializadas e governos insistem na necessidade de se investir em grande escala na agricultura alimentar, já que este ano acontece em plena crise financeira mundial.

A situação nas zonas rurais dos países em desenvolvimento é grave, consequência directa do aumento repentino dos preços dos alimentos e dos combustíveis em 2007-2008.

Esta segunda crise está a afectar as pessoas pobres que se encontram em situação de grandes dificuldades. Os valores monetários enviados pelos parentes que trabalham nas cidades e/ou no estrangeiro diminuíram, já que o desemprego faz sentir os seus efeitos.

Nas pequenas aldeias agrícolas os pobres já esgotaram os seus recursos para comprar alimentos. A crise económica mundial domina a actualidade e os programas dos governos.

A produção mundial de cereais alcançou em 2008 um máximo histórico de cerca 2.245 milhões de toneladas, o suficiente para satisfazer as necessidades anuais previstas e para permitir uma modesta reposição da existência mundial.

Mas a realização do incremento correspondeu aos países desenvolvidos. Em resposta a preços mais atractivos, incrementaram a sua produção cerealífera em um 11 porcento. Ao contrário dos países em desenvolvimento que somente registaram um incremento de 1,1.

De facto, se se excluir a China, a Índia e o Brasil a produção no resto do mundo em desenvolvimento diminuiu na realidade em 0,8 porcento.

Os agricultores mais pobres e em pior situação de insegurança alimentar, que tinham a maior necessidade de beneficiarem-se dos preços mais altos dos cereais, não puderam responder perante a oportunidade e incrementar a produção por falta de acesso aos insumos ou às oportunidades de comercialização.

A FAO calcula que a agricultura nos países em desenvolvimento necessita de um investimento anual de 30 mil milhões de dólares para ajudar aos agricultores.

Tal nível de investimentos é necessário para alcançar a meta da Cimeira Mundial sobre a Alimentação de 1996 em reduzir o número de famintos a metade em 2015.

A qualidade é baixa se comparar-se com os 365 mil milhões de dólares gastos em 2007 em apoio a agricultura dos países mais ricos, os 1.340 biliões de dólares gastos cada ano no mundo em armamentos e os biliões de dólares canalizados em pouco tempo para revitalizar o sector financeiro.

Um investimento na ordem de 30 mil milhões de USD ao ano geraria um benefício anual de 120 mil milhões de USD.

O índice de preços dos alimentos da FAO cresceu, tendo como média 52 porcento desde meados 2007 a meados de 2008. O número de famintos no mundo aumentou em 75 milhões em 2007.

Depois de Julho de 2008, os preços tiveram uma tendência a baixar. A tendência para a descida dos preços, não se deveria interpretar como o final da crise dos alimentos.

Os preços mundiais dos cereais se mantêm em 63 porcento, mais altos do que em 2005, segundo o Fundo Monetário Internacional.

Depois da crise dos preços dos alimentos se verificou uma descida da económica mundial. Com a descida da economia mundial, influenciou na redução dos salários e no emprego, os pobres se confrontam agora com duas crises simultâneas.

Para piorar a situação, muitos dos mecanismos de sobrevivência utilizados para os pobres para enfrentar a crise alimentar já chegaram aos seus limites.

Por exemplo, a venda de activos a fim de moderar uma queda no consumo, agora é muito mais difícil porque muitos activos já foram vendidos. A migração é muito mais difícil, porque os países desenvolvidos enfrentam uma recessão.

Os créditos e empréstimos para financiar o consumo estão cada vez mais limitados por uns mercados de créditos mais restritivos.

Se espera por uma revitalização directa dos investimentos estrangeiros e que a diminuição das exportações de produtos básicos primários aumentem o desemprego nos países pobres.

A perspectiva económica dos países ricos é tal que se espera uma redução no apoio e assistência humanitária.

Em 2008, segundo dados do Banco Mundial valores monetários oficialmente registrados, ascenderam para 300 mil milhões de USD, ou 2 porcento do produto interno bruto dos países em desenvolvimento como grupo e a reactivação económica, particularmente nos sectores da construção e manufacturados, como tradicionais empregadores, importantes trabalhadores imigrantes, no qual se observa uma redução no envio de valores monetários para os seus países de origem, para as famílias pobres das zonas rurais como as das zonas urbanas.

Apesar da assistência à agricultura a longo prazo, que se examinará a seguir, os membros mais vulneráveis da sociedade necessitam de ajuda neste momento.
Em 2009, regista-se no mundo mil e 20 milhões de mal nutridos, o que significa que, quase sexta parte da humanidade padece de fome.

Por ocasião da Semana Mundial da Alimentação e o Dia Mundial da Alimentação de 2009, a FAO pede uma reflexão sobre estas cifras e o sofrimento humano que se encontra por trás dela.

“Com crise ou sem ela, temos os conhecimentos precisos para fazer algo a respeito da fome. Também temos a capacidade de arrecadarmos dinheiro para resolver os problemas quando considerados importantes. Trabalhemos juntos para garantir que a fome seja reconhecida como um problema essencial e para resolver tal problema”, segundo a FAO.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009




Esquerda na America Latina


Nos anos 90 ocorreu uma conversão da América Latina ao neoliberalismo. Com a queda do Muro de Berlim, a esquerda se desarticulou sob o impacto da globalização. "Mesmo lideranças expressivas abandonaram a esquerda ou admitiram premissas neoliberais para buscar vitórias eleitorais".

Na metade da década de 90, a América Latina retrocedeu em todos os indicadores sociais: aumento do desemprego, queda nos índices de saúde e de escolaridade, crescimento da violência e da instabilidade.

O neoliberalismo, por sua vez, embora tenha tido o senso de oportunidade de criticar corretamente as distorsões sofridas por um aumento descontrolado do Estado, é uma visão conservadora, que acredita no mercado como um instrumento milagroso de coordenação econômica, e que tem como objetivo utópico o Estado mínimo.

Neoliberalismo não é ser a favor de disciplina econômica e reformas orientadas para o mercado, mas acreditar que o mercado possa ser o único coordenador da economia. O verdadeiro neoliberalismo é contra qualquer intervenção do Estado da economia. É contra política industrial e tecnológica, e até mesmo contra política social.

Surge então, em protesto a essas reformas neoliberais, em varias partes do mundo movimentos sociais de resistências ao mundo capitalista. Os anos 90 foi uma década marcada por inúmeras manifestações de repúdio às políticas neoliberais impostas principalmente pelo imperialismo americano.

Todo esse cenário apontou a necessidade emergente de um movimento de resistência de caráter mundial para além das fronteiras nacionais. Um espaço internacionalista para reflexão e organização de todas as pessoas que se contrapõem às políticas neoliberais. Um movimento que, para além da crítica radical ao capitalismo, fosse capaz de reunir forças para a construção de alternativas coerentes e viáveis para o combaté às mazelas típicas do capitalismo. Um movimento que se propusesse a priorizar o desenvolvimento humano e a superação da dominação dos mercados dos países ricos sobre os chamados países de terceiro mundo.Desse desejo é que, em 1999, surgiu a proposta de se realizar o Fórum Social Mundial. Logo se tornou consenso que o evento se desse paralelamente ao Fórum Econômico Mundial (FEM), realizado anualmente em Davos, nos Alpes suíços.

Começa então a partir daí, acontecer na América Latina, O Fórum Social Mundial, a principio na cidade de Porto Alegre, no sul do Brasil, e 2005, em Caracas , na Venezuela, assim como em outros continentes.
A década de 90 é marcada por grandes mudanças, é a partir dessa década que a esquerda começa a se destacar mostrando sua insatisfação com as políticas que regiam o continente. O reflexo dessa insatisfação só e percebido e discutido pelos cientistas políticos e intelectuais no inicio dos anos 2000, quando vários paises apostam em governos de esquerda.

Nos últimos anos os estados latino-americanos têm experimentando governos com tendências esquerdistas. Paises como Argentina, Bolívia, Brasil, Uruguai, Venezuela, alguns menos outros mais radicais buscam alternativas para o imperialismo em seus territórios. O surgimento dos movimentos sociais (populares e de outra natureza de gênero, ecológicos, indígenas, de negros, de direitos humanos, etc.), são geradores de novos sujeitos sociais que fortaleceram a sociedade civil nas últimas décadas, trazendo práticas inovadoras que questionaram práticas tradicionais implementadas pelo Estado e pelo mercado, tais como o rompimento com vários privilégios.
O tema da ascensão da esquerda ganhou destaque entre os analistas e cientistas políticos , a partir das eleições ocorridas na América Latina no período recente, quando líderes identificados com as "causas populares" foram eleitos com ampla maioria de votos. Falou-se de uma "esquerdização" na América Latina, cujo sentido foi assim expresso por uma autoridade política:

O que há, sem dúvida nenhuma, é uma tendência de governos mais comprometidos com reformas sociais, com maior autonomia em relação às grandes potências do mundo e maior vontade de integração regional. Se você identificar esquerda com a visão de progresso, reforma social, democracia e com forte defesa dos interesses nacionais, a resposta à sua pergunta é sim.(AMORIM, 2006).

Depois de tantos anos submetidos às explorações de paises imperialistas, no inicio a Europa e depois os EUA, cansadas de viver uma situação de estrangulamento econômico, e muitas vezes teve sua soberania violada por essas potencias, a sociedade latina americana começa a buscar novidades para as urnas com esperança de mudanças do atual sistema.

Diante dos avanços dos movimentos populares, notadamente organizações indígenas, em todo o hemisfério, os dirigentes não poderiam menosprezar o diploma de progressismo e de independência dos Estados Unidos que pode conferir um apoio visível por parte de Hugo Chávez e Evo Morales. Além do mais, a amplidão das entradas de divisas que lhe proporcionam as suas exportações de hidrocarbonetos permite a Caracas conduzir uma diplomacia de influência, e não apenas na América Latina, como também em paises Árabes, que hoje são os principais inimigos dos Norte-Americanos.

O presidente Venezuelano hoje difunde em seu pais a chamada Revolução bolivariana. Conta com apoio de grande parte da população, de origem carente para fazer as reformas necessárias. Durante o Fórum Social das Américas que aconteceu entre 23 a 29 de janeiro de 2006, na capital, Caracas, apresentou aos intelectuais, estudantes, e membros de movimentos sociais de toda América Latina que estavam ali presentes várias conquistas de sua revolução. Tem entre alguns de suas prioridades inovadores programas sociais, que garantiram educação gratuita para um milhão de crianças pobres e a alfabetização de 1,2 milhão de pessoas, que resultaram na triplicação do orçamento na área da saúde e que distribuíram terras para 117 mil camponeses.

Além de garantir aos pobres, saúde gratuita, também estatizou uma rede de supermercado onde são vendidos produtos a preço popular nas comunidades mais carente. As razões para a popularidade de Chávez são óbvias. Nenhum regime anterior tinha este comprometimento com os pobres.

Podemos então qualificar que as reforma que Hugo Chavez propõe ao povo Venezuelano tem caráter revolucionário, segundo o conceito de Bresser citado no primeiro capitulo que diz
Quem quer acabar com a ordem é um extremista ou um revolucionário, que busca instalar uma outra ordem. Extremista se sua perspectiva for autoritária, se a ordem que busca destruir for democrática; revolucionário, se seu compromisso for com a democracia, se a ordem que precisa derrubar é opressiva. De esquerda, se seu objetivo for a igualdade plena, de direita, se sua aspiração maior for apenas restaurar uma ordem que julga perdida ou ameaçada. (1997 p.55)

Uma vez que foi eleito democraticamente pelo povo, e ainda tem o consentimento e a simpatia da grande maioria da população. Ao mesmo tempo em que, também pode-se qualificá-la, de Velha esquerda, segundo o conceito desse mesmo autor, quando diz :

A Velha Esquerda tem uma visão negativa do nacionalismo, convencida de que o país é cercado por potências imperialistas. Tem, em geral, uma atitude "contra" países avançados, vistos como "potências imperialistas", e prefere antes fechar o país à influência estrangeira a negociar interesses mútuos e conflitantes (2000p. 155)

Nestes termos pode-se dizer que impera hoje na Venezuela é uma esquerda, revolucionaria e velha, segundos os conceitos de Bresser.
O Chanceler Mexicano, Jorge Castañeda , atribui a guinada da esquerda na América Latina, nos últimos anos, uma conseqüência do reformismo econômico dos anos 90 não viu a massa de excluídos que fermentava na América Latina e hoje coloca a centro-esquerdo no poder. Em uma entrevista publicada no Estado de São Paulo em 30 abril 2006 ele responde essa questão afirmando que :

Por um lado, as reformas econômicas realizadas no período da democratização não produziram os resultados prometidos às pessoas. O Chile é exceção. Por outro lado, os governos desse período produziram resultados positivos em termos de democracia. Se você permite que as pessoas votem livremente em países cujas economias não prosperam, não é portanto um milagre haver um movimento para a esquerda.Aconteceu na Europa entre o fim do século 19 e a 2ª Guerra. E acontece hoje na América Latina. Os pobres, a grande massa dos excluídos, votam pelas políticas e para políticos que, assim esperam, os farão menos pobres.

Quando escrevi A Utopia Desarmada: a Esquerda Latino Americana depois da Guerra Fria (publicado em 1994) já estava claro para mim que, independentemente dos resultados das reformas econômicas então em curso em vários países, a combinação de mais democracia com a desigualdade no acesso à renda, à riqueza, ao poder e às oportunidades, que é maior na América Latina do que em qualquer outra parte do mundo, resultaria em governos de centro esquerda na região.

Afirma ainda que o que vemos hoje são duas esquerdas. De um lado, a "boa esquerda", que, paradoxalmente, é herdeira da esquerda tradicional, identificada com os partidos socialistas e comunistas do passado. Em graus variados, ela é reformista, moderna, está aberta a novas idéias. É também internacionalista. Estou falando aqui na esquerda do Chile, de parte da esquerda brasileira, de parte da esquerda uruguaia. Ela busca a inclusão através de políticas sociais, da criação de empregos, de programas para melhorar a educação, a saúde, as condições e de organização das pessoas, respeitando os equilíbrios macroeconômicos básicos. É uma esquerda que busca resultados.

Chama a outra esquerda de herdeira do populismo, que é a contribuição da América Latina à ciência política e o que há de pior em nossa história. Aponta adjetivos como : nacionalista, barulhenta, mentalmente fechada. E qualifica como essencialmente, burra. Ao contrário da esquerda reformista, que aprendeu com os erros do passado, a esquerda populista não aprendeu nada. É diz que é esquerda só mesmo na retórica. Quanto sua atuação ele diz:
Na ação, nada oferece de novo. Repete os populistas do passado. Sua solução para os problemas é distribuir dinheiro público. É assim que tenta incluir as massas. É o que faz Chávez com a gente pobre dos ranchos de Caracas.

Ela dá dinheiro porque tem dinheiro, graças ao petróleo. Não está criando emprego, não está melhorando a educação, não está levando à redução dos níveis de pobreza. O mesmo ocorre com Kirchner, na Argentina. Ele não tem uma política econômica de geração de emprego, de busca de competitividade, de melhoria da educação. O que há é a redução dos pagamentos da dívida e distribuição do dinheiro por meio de programas assistenciais.

No que se refere ao Presidente Evo Morales da Bolívia Castañeda diz que É líder de um movimento camponês tradicional, latino-americano, que chega ao poder por uma série de ações um "pouco caudilhescas". Segundo ele Morales não vem da esquerda. Não vem nem da tradição da COB (Central Obrera Boliviana), nem do Partido Comunista, nem do trotskismo boliviano, que foi importante em seu momento. "Morales é um dirigente cocalero cuja força deriva em parte dos indígeneas, em parte de uma base popular entre os excluídos nas cidades, por razões que não têm muito a ver com fenômenos de esquerda". Vê como responsável da sua presença no poder os movimentos sociais. E não vê como democrática suas atitudes.

Referente a posição brasileira e dos demais paises latinos quantos ao anti-imperialismo Castaneda diz que "o Brasil é um país demasiado grande, demasiado sério, com demasiados interesses e demasiadas responsabilidades para jogar o anti -imperialismo". Esse é um jogo a que só permitem aos pequenos. Não vê com otimismo as relações entre o Brasil e a Venezuela, acredita que essa relação tende se desgastar, porque os interesses reais não são os mesmos. Não vê o Brasil como imperialista na região. Afirma que o presidente Venezuelano não honra com seus compromissos internacionais no combate ao narcotráfico e crime organizado.

Existe uma ausência de política americana voltada para América latina no momento pois os Estados Unidos estão preocupados com os paises árabes e o terrorismo, e nesse momento o que observa-se, segundo Castañeda no continente latina americano e um sentimento muito forte anti-americanismo. A política de Washington nesses países é claramente insuficiente. O projeto da Alca foi o centro da estratégia de Bush. Não importa se a Alca era boa ou ruim. O que importa é que fracassou. Também não há política ativa sobre narcotráfico. E os EUA parecem não fazer distinção entre as duas esquerdas que há hoje na América Latina.

O professor do Departamento de Economia do Trabalho da Universidade de Campinas (Unicamp) e especialista em salário mínimo, Cláudio Dedecca discorda da posição do autor Jorge Castañeda . Para ele a posição do Castañeda é típica da arrogância intelectual. Não reflete a dinâmica política da América Latina. Trata-se de uma posição que despreza a história recente do continente. Dedecca diz ainda que , fazer uma dicotomia entre a "boa esquerda" – que seria refinada e culta – e a outra, é muita pretensão.

Ele defende em um debate , publicado no jornal da Unicamp que :
O que tem de novo nesses movimentos de esquerda da América Latina é que quem faz não é a esquerda da gravata, dos representantes poliglotas, mas sim aquela que representa um povo que não teve oportunidade de se organizar e de falar o que pensa. A sociedade culta não só estranha como vê nisso uma imoralidade

E quando e quanto à posição de Castañeda ele discorda dizendo :
Essa posição conservadora do Castañeda não tem pé nem cabeça. Você pode até questionar os rumos que parte da esquerda está adotando, mas é inegável que as experiências brasileira, argentina, venezuelana, boliviana, além de outras, são avanços democráticos extremamente importantes para a América Latina, inclusive no sentido de conformar partidos políticos e esquerdas mais consistentes. Isso faz parte da democracia.
Pelos fatos apresentados pode-se constatar que os principais fatos que marcaram e projetaram mudanças políticas na América Latina, sobretudo durante a década de 90, tanto no âmbito político, como no econômico, encontram-se, em sua maioria, relacionados à ofensiva das políticas de cunho neoliberal que, neste período, avançaram significativamente nos países latino-americanos. Tais políticas, como se sabe, preconizam o conceito do Estado mínimo; o plano político e econômico se sobrepondo ao social; a descentralização, privatização e focalização das políticas sociais (pois as mesmas são vistas como o principal vilão dentro do contexto de extrema dificuldade do setor da economia), tendo os movimentos sociais potencial de relevância no que diz respeito à universalização das políticas públicas e uma maior democratização.

Ao analisar-se o quadro geral apresentado neste período de 3 décadas – caracterizado pela instabilidade financeira global, a queda dos indicadores sociais, o aumento do desemprego e a lentidão do crescimento econômico – percebe-se que o mesmo não foi favorável às políticas neoliberais. O crescimento da economia latino-americana em taxas muito baixas resultou em um aumento das disparidades observadas entre a América Latina e os países desenvolvidos

Observa-se ainda , o que estaria ocorrendo na América Latina seria uma crise de governabilidade, sem produzir um movimento uniforme na direção da esquerda. Em cada país, um "mosaico de respostas específicas a estruturas políticas decadentes e aos cada vez mais altos níveis de desigualdade social e exclusão social". Em termos de governabilidade, estamos atravessando um momento extraordinariamente difícil devido ao desmoronamento dos partidos tradicionais, as corrupções praticadas por políticos e o surgimento de movimentos sociais.

Durante o estudo, pode-se concluir que nos mais diferentes períodos e fases da historia, a esquerda estava sempre apoiada de algum movimento de resistência, até mesmo na década de 70, quando a esquerda estava totalmente esmagada , percebe-se vários movimentos de resistência contra as decisões dos militares, que naquele período, representava a direita.
Nos anos 80, com a retomada da democracia nos paises que eram dominados pelos regimes militares, vários intelectuais considerados de esquerda retorna aos seus paises depois do exílio, é a partir desse momento, volta existir liberdade de expressão política, é quando a esquerda começa a interagir no cenário político.

No final da década de 90 e inicio do século XXI, é quando a esquerda aparecer com maior representatividade, despertando entre cientista políticos e acadêmico interesse em explicar essa nova tendência que surgi na América latina, com uma proposta de combaté r as políticas neoliberais. Alguns desses estudiosos apostam nessa nova tendência, e vê com esperança a mudança de pensamento, outros discordam justificando que existe na América Latina uma tendência ao populismo e que a esquerda dificilmente conseguira se estabelecer. por Andrea Lucia de Souza Lima

terça-feira, 13 de outubro de 2009


Aos sete anos de idade, Luiz Inácio Lula da Silva mudou-se com a família para Santos (SP), para escapar da miséria do sertão de Pernambuco. Quatro anos mais tarde, em 1956, foi para a capital do Estado de São Paulo. Lá, ainda criança, trabalhou como vendedor ambulante, engraxate e office-boy. Aos 15 anos, tornou-se aprendiz de torneiro mecânico.

Em 1970, depois de perder a esposa grávida do primeiro filho, Lula passou a se dedicar intensamente à atividade sindical.

Em 1973, casou-se com Marisa, sua atual mulher.

Em 1975, chegou à presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Liderou a primeira greve de operários do ABC paulista em 1978, durante o regime militar.

Em 1980, aliou-se a intelectuais e a outros líderes sindicais, para fundar o PT (Partido dos Trabalhadores), do qual se tornou presidente.

No ano seguinte, liderou nova greve de metalúrgicos, foi preso e teve seu mandato sindical cassado.

Participou da fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e, em junho de 1983, integrou a frente suprapartidária pró-eleições diretas para a presidência da República com os governadores de São Paulo, Franco Montoro (PMDB), e do Rio de Janeiro, Leonel Brizola (PDT). Lula foi eleito, em 1986, deputado federal constituinte com a maior votação do país.

Concorreu à presidência da República em 1989, quando foi derrotado no segundo turno por Fernando Collor de Mello, e em 1994 e 1998, quando perdeu para Fernando Henrique Cardoso.

Em 1995, deixou a presidência do PT e tornou-se presidente de honra do partido.

Em 2002, foi eleito presidente do Brasil com votação recorde de 50 milhões de votos.

Reelegeu-se em 2006, vencendo, em segundo turno, o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Geraldo Alckmin.

Na presidência, a gestão de Lula tem seguido a política econômica de seu antecessor, conseguindo com isso colocar o país no rumo do desenvolvimento econômico. Lula também tem surpreendido os observadores da cena política por conseguir manter altos índices de aprovação e popularidade, descolando-se das denúncias de corrupção que atingiram seus auxiliares mais próximos ainda no primeiro mandato.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009


Mercedes Sosa

Solo le pido a Dios

Que el dolor no me sea indiferente,

Que la reseca Muerta no me encuentre

Vacia y sola sin haber hecho lo suficiente.


Solo le pido a Dios

Que lo injusto no me sea indiferente,

Que no me abofeteen la otra mejilla

Después que una garra me araño esta suerte.


Solo le pido a Dios

Que la guerra no me sea indiferente,

Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.


Solo le pido a Dios

Que el engaño no me sea indiferente

Si un traidor puede mas que unos cuantos,

Que esos cuantos no lo olviden facilmente.


Solo le pido a Dios

Que el futuro no me sea indiferente,

Desahuciado esta el que tiene que marchar

A vivir una cultura diferente.




Só peço a Deus

Que a dor não me seja indiferente

Que a ressequida morte não me encontre

Vazia e só sem ter feito o suficiente


Só peço a Deus

Que o injusto não me seja indiferente

Que não me esbofeteiem a outra face

Depois que uma garra me arranhou esta sorte


Só peço a Deus

Que a guerra não me seja indiferente

É um grande monstro e pisa forte

Toda a pobre inocência do povo


Só peço a Deus

Que o engano não me seja indiferente

Se um traidor pode mais que alguns

Que esses alguns não o esqueçam facilmente


Só peço a Deus

Que o futuro não me seja indiferente

Despejado está o que tem que caminhar

A viver uma cultura diferente




"Cantava para não morrer"



Mercedes Sosa, morreu neste domingo.

A cantora folk argentina Mercedes Sosa, que lutou contra as ditaduras fascistas na América do Sul com a sua potente voz e se tornou numa lenda da música latino-americana, morreu aos 74 anos.

Há vários dias que Mercedes Sosa estava internada no hospital, com problemas renais.

Carinhosamente apelidada "La Negra" devido ao seu cabelo preto e à tez morena Sosa foi igualmente chamada de “voz de uma maioria silenciosa”, tendo sempre lutado pelos direitos dos mais pobres e pela liberdade política. A sua versão da música “Gracias a la Vida”, de Violeta Parra, tornou-se um hino para os esquerdistas de todo o mundo, nas décadas de 1970 e 1980, quando foi forçada a exilar-se na Europa e os seus discos foram banidos. As suas imagens de marca eram o seu cabelo comprido e os seus ponchos, que usava durante os espectáculos ao vivo, fazendo ouvir a sua voz poderosa.Nas décadas de 1960 e 1970, Sosa foi uma das expoentes máximas do politizado movimento Nuevo Cancionero, que quis levar a música folk de regresso às suas origens.

Politicamente, Sosa foi membro do Partido Comunista e as suas simpatias políticas acabaram por a obrigar ao exílio, em 1979 (ano em que Jorge Videla encabeçou a junta militar), depois de ter sido presa - bem como toda a sua audiência - durante um concerto na cidade universitária de La Plata.Sosa dizia frequentemente ser uma mulher de esquerda, mas que a sua única vocação era a música. “Eu nasci para cantar”, disse numa entrevista em 2005. “A minha vida é dedicada a cantar, a encontrar canções e a cantá-las (...) Se eu me envolvesse na política, teria que negligenciar aquilo que é mais importante para mim, a canção folk”.

Sosa nasceu o seio de uma família de trabalhadores, na província de Tucumán, a 9 de Julho de 1935. O seu primeiro contacto com a fama teve-o aos 15 anos, quando ganhou um concurso de talentos promovido por uma rádio local. Especialista em interpretar as palavras de escritores, abraçou a poesia dos grandes autores argentinos e latino-americanos. Apesar de, nos últimos anos, ter feito algumas experiências com o rock e com o tango, a sua raiz era a do folk. Era a esse estilo que voltava sempre. Em 1982 Sosa regressou ao seu país natal, percebendo nessa altura que as suas canções tinham conquistado um público jovem e uma nova geração de fãs.

Numa série de concertos que marcaram o seu regresso aos palcos, fez-se acompanhar de músicos populares argentinos, como Leon Gieco e Charly Garcia, tendo depois iniciado uma digressão mundial que passou pela Europa e pelos Estados Unidos. Aqui arrebatou uma ovação de pé durante dez minutos, após a sua actuação no Carnegie Hall de Nova Iorque.Sosa continuou a cantar até este ano, permanecendo muito popular e destronando até alguns artistas jovens nas tabelas de vendas.

O seu último álbum, Cantora (volumes 1 e 2) - uma colaboração com artistas como Shakira, Caetano Veloso, Joan Manuel Serrat e Jorge Drexler - foi um dos dez mais vendidos do ano e ganhou várias nomeações para os Grammys Latinos, que serão atribuídos no próximo mês.Durante a sua carreira, Sosa recebeu ainda uma série de galardões que lhe reconheceram a luta em prol dos direitos humanos, incluindo um Grammy Latino e um prémio da UNESCO.Há já vários anos que Mercedes Sosa se debatia com problemas de saúde, mas nunca quis largar a música.

“Não sou nova nem bonita, mas tenho a minha voz e a minha alma, que me sai quando canto”

O presidente de Israel, Shimon Peres, lamentou hoje a morte da cantora argentina Mercedes Sosa, sobre quem disse que "encarnava a libertação da América Latina e, de alguma maneira também, a decepção que trouxe consigo essa libertação".

Em declarações à imprensa, Peres lembrou que a artista argentina visitou várias vezes Israel, onde cantou em hebraico, e ressaltou que sua figura "ultrapassava os estilos e os idiomas", devido a "sua personalidade, que tinha dimensão universal".
"Vão nos faltar sua voz e seu espírito", disse.


Ricardo Martinez Froes disse hoje pela manhã que "a morte de um ser, como Mercedes Sosa, entristece os sentimentos humanos, mas, ao mesmo, engrandece-nos na luta pelo ideal de liberdade. Ela foi militante ativa contra a ditadura militar argentina nos anos 7 0 e 80, censurada, perseguida pelas suas músicas de conteúdo social forte e persuasivo".

Para o movimento sindical segundo Froes, ela sempre será um ícone da luta pelas igualdades sociais, pelo respeito ao ser humano e pela liberdade. "Assim fica seu legado de um importância muito grande como cantora e compositora que mais expressou os sentimentos de liberdade e justiça, na constante busca pela confraternização dos povos latinos-americanos", comentou. Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras Brasileiras

"Mercedes Sosa representa a perda de um símbolo do mundo latino-americano. Era uma cantora extraordinária, que levantou uma bandeira solitária de resistência. Tinha uma voz linda e influenciou muitos músicos brasileiros, principalmente na época da ditadura. Era uma artista muito respeitada e fica este exemplo". Fagner

"Gracias a la vida" da chilena Violeta Parra eternizada na voz de Mercedes Sosa ecoava como um hino pelo Parlamento. Os versos que arrepiavam o país nunca fizeram tanto sentido.

"Gracias a la vida que me ha dado tanto/Me ha dado la risa y me ha dado el llanto/Así yo distingo dicha de quebranto/Los dos materiales que forman mi canto/Y el canto de ustedes que es el mismo canto/Y el canto de todos que es mi propio canto/Gracias a la vida/Gracias a la vida...".

"Tínhamos uma relação praticamente de mãe e filho. Ela me protegia quando eu estava mal. Preocupava-se. Elogiava quando estava bem. Dava conselhos protectores a todos", conta Maradona.

Mercedes Sosa notabilizou-se, sobretudo na década de 1970, pelas atitudes humanistas, condizentes com o conteúdo social e político das canções libertárias, ora ternas, ora indignadas, que interpretava, como "La Carta" (Violeta Parra), "Cuando Tenga a la Tierra" (Daniel Toro/Ariel Petrocelli), "Canción para mi América" (Daniel Viglietti), "Canción con Todos" (A.Tejada Gómez/C.Isella), "Si se Calla el Cantor" (Horácio Guarany) e "Plegaria a un Labrador" (Victor Jara)