sexta-feira, 30 de setembro de 2011


Falso profeta ambiental

Morales autoriza construção de rodovia no coração de uma reserva indígena e se indispõe com ecologistas ao dizer uma coisa e fazer outra.

Evo Morales frequenta as reuniões internacionais sobre o clima, nas quais defende fervorosamente a conservação das florestas e exige que todos os países ricos contenham suas emissões de poluentes.

“O planeta está ferido de morte, sentimos suas convulsões. Se não fizermos nada, seremos responsáveis pelo genocídio”, disse o presidente boliviano na Cúpula Climática de dezembro passado em Cancún, México.

Morales culpa habitualmente o capitalismo pela devastação do ambiente. Mas em seu próprio país, esse fervoroso defensor de Pachamama, a Mãe Terra em seu idioma materno, o aimará, Morales não é visto exatamente como um zelador do ambiente.

Contra a decisão de alguns povos indígenas que temem a perda do seu modo de vida tradicional, Morales autorizou a construção de uma rodovia no coração de uma reserva ecológica, deu luz verde para a exploração de hidrocarbonetos em outra floresta ainda intacta, abriu as portas para o uso de sementes transgênicas na Bolívia e autorizou a legalização de milhares de automóveis usados e velhos, contrabandeados por quadrilhas de bandidos do Brasil e da Argentina.

O mandatário é um “falso profeta ecologista”, acusa Rafael Quispe, dirigente do Conselho de Ayllus e Marca del Qollasuyo (Conamaq) a maior organização indígena da região andina boliviana.

Evo Morales tropeça na encruzilhada ecológica pelo fato de a Bolívia ser totalmente dependente da indústria extrativista. Cerca de 73% das exportações bolivianas no primeiro semestre deste ano foram de matérias-primas e a tendência segue em alta por conta do auge do preço dos minerais.

Com 300 quilômetros de extensão, a rodovia em construção unirá os vales andinos à Amazônia boliviana, cortando pela metade o Parque Nacional Isiboro Sécure, na Bolívia central. O parque, com 12 mil quilômetros quadrados, é o lar de três etnias indígenas: Yuracaré, Chimán e Trinitária. Os nativos vivem da caça, da pesca, da coleta de frutas e da agricultura de subsistência, um modo de vida que irremediavelmente será perdido com a derrubada da floresta virgem, diz Pedro Moye, dirigente da Central de Povos Indígenas da Bolívia Oriental (Cidob, na sigla em espanhol), outra grande organização de defesa dos índios.

Mais de 300 indígenas da Bolívia oriental começaram em 15 de agosto uma marcha de mais de 30 dias para denunciar a construção da rodovia em La Paz. A rodovia é financiada pelo governo brasileiro e deverá ser construída por empresas brasileiras.

Morales afirma que consultará os indígenas para mitigar o impacto ambiental, mas afirmou que, seja qual for o resultado dos estudos, a rodovia será construída até 2014.

Os aborígines da região estão dispostos a enfrentar “com arcos e flechas” a abertura da estrada e exigem que Morales seja consequente em seus discursos, disse Moye. A rodovia reduzirá em 10 horas a viagem entre Cocha­bam­ba, na Bolívia central e já no altiplano, e Trinidad, no noroeste e perto da fronteira brasileira, acabando com a dependência comercial e econômica do departamento (estado) boliviano de Beni com sua vizinha Santa Cruz, o motor agroindustrial boliviano e reduto oposicionista.

O governo afirma que a rodovia integrará ao mercado o departamento de Beni, que tem quase o tamanho da Grã-Bretanha e possui apenas 250 quilômetros de estradas asfaltadas. O governo acusa as organizações ambientalistas de manipularem os indígenas.


Evo Morales acumula polêmicas ecológicas

A construção da rodovia não é a única polêmica ecológica que existe atualmente na Bolívia. Evo Morales se uniu a um plano continental chamado Iniciativa para a Integração da Infraes­­trutura Regional (IIRSA), liderado pelo Brasil desde o ano 2000. Esse plano inclui 12 países e contempla uma série de projetos rodoviários e hidrelétricos, grande parte na Amazônia, a um custo total de US$ 69 bilhões.

Parte desse projeto é a construção de três hidrelétricas na Amazônia boliviana. Uma delas é a usina de Cachuela Esperanza, no noroeste do país e perto de duas usinas gigantescas que o Brasil constrói do seu lado da fronteira no Rio Madeira.

Morales encarregou a canadense Tecsult-Aecom de fazer o estudo de impacto ambiental e o desenho do projeto. Mas especialistas ambientais acusam o governo boliviano de não divulgar informações importantes sobre o impacto das hidrelétricas.

Inquietude

Os indígenas também observam inquietos os projetos de exploração petrolífera na reserva de Madidi, Amazônia boliviana, a cargo da Petróleos de Venezuela SA (PdVSA) e da estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB). Eles também questionam projetos na região sulista do Chaco boliviano, terra dos guaranis, terceiro maior povo indígena do país após os quechua e aimará. A espanhola Repsol-YPF, a francesa Total, a brasileira Petrobrás e a britânica BG (British Gas) têm operações no Chaco.


”Narcoestrada”

BNDES financia a construção

Para o coordenador de comunicação da Liga de Defesa do Ambiente, Edwin Alvarado, a rodovia é um “pretexto” já que o interesse verdadeiro do governo e das empresas é a exploração petrolífera em dois blocos identificados nas terras indígenas.

O parque Isiboro Sécure é cobiçado tanto por cocaleiros quanto por agricultores, com os primeiros tentando expandir os cultivos ilegais da folha de coca. A reserva é vizinha ao Chapare, a zona cocaleira ainda liderada por Morales e cujas bases apoiam.

A Constituição promovida por Morales e aprovada em 2009 ordena a consulta aos indígenas, mas o governo autorizou a abertura da estrada sem o consentimento dos nativos e sem a licença ambiental para o trecho asfaltado que atravessará a reserva, disse Alvarado.

A polêmica rodovia será financiada pelo banco nacional de desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do Brasil, com um crédito de US$ 415 milhões. A imprensa brasileira apelidou a rodovia de “narcoestrada” porque ligará regiões bolivianas produtoras da folha de coca a rodovias que chegam ao Brasil, maior mercado da cocaína boliviana.

Chavismo

O modelo de governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, está em “declínio terminal”

“Chávez não tem nada de bobo. Ele é muito espaçoso e coloca o pé onde quer. Até gasolina subsidiada para os pobres americanos ele está fornecendo. Ele quer ser um Símon Bolívar, sem entender exatamente qual foi o papel do Bolívar na história. E aí existe essa sua ânsia de se expandir, inclusive militarmente, como vimos recentemente”, diz a socióloga Maria Victor Lucia Barbosa.

“Esse é um governo militarista, autoritário”, dispara o professor aposentado da Universidade Central da Venezuela Carlos Ma­­chado Allison.

“Esses são setores contrarrevolucionários, que querem voltar ao passado”, ataca Iza­­bel Aldano, integrante de movimentos populares.

Mesmo históricos defensores de Chávez, como Heinz Dieterich, o ideólogo do chamado “socialismo do século 21”, passaram a criticar abertamente o governo. “A política do Presidente não tem construído instituição alguma que se possa chamar de socialismo do século 21”, disse Dieterich que completa: “Nada do que se fez na Venezuela é diferente dos mercados na Europa. Os programas sociais são muito positivos, mas nada disto é socialista”

Mas quais são as razões que levam antigos chavistas a criticar e até mesmo romper com o governo? Por que aumenta a desilusão entre os trabalhadores com a “revolução bolivariana”?

No início da crise econômica mundial, Chávez declarou que o “socialismo do século 21 imunizaria o país”. Nada mais longe da verdade. De toda América do Sul, a Venezuela foi o país mais afetado pela crise.

A resposta de Chávez à crise não foi muito diferente das ações realizadas por outros governos mundo a fora, ou seja, de jogar o peso da crise sobre as costas dos trabalhadores. Em janeiro, Chávez anunciou a mega – desvalorização do Bolívar Forte para “combater” a mais alta inflação da América Latina, que registrou quase 26% em 2009, segundo dados oficiais. A desvalorização arrasou ainda mais os salários dos trabalhadores já corroídos pela inflação.

Por outro lado, a medida foi muito bem recebida pelos capitalistas. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a “desvalorização da moeda é um bom passo para Venezuela”. Já o presidente da federação industrial venezuelana disse que “o ajuste cambial protege à maioria do povo venezuelano”.

A razão para esses senhores aplaudirem a desvalorização é simples. A mega – desvalorização imposta por Chávez diminuiu drasticamente os salários pagos aos trabalhadores, o que, portanto, aumentará as taxas de lucros dos empresários

Aos efeitos da crise somam-se os verdadeiros descalabros administrativos praticados na economia e infra-estrutura do país. Rica em petróleo, a Venezuela dependente da importação de quase tudo, até alimentos. A produção de eletricidade, apesar dos imensos rendimentos em petróleo, continua uma verdadeira calamidade. Apesar de ser um dos maiores produtores de energia do planeta, até hoje o fornecimento de eletricidade na Venezuela é interrompido por “apagões”.

Se o “socialismo do século 21” de Chávez não imunizou o país da crise, ele também não impediu o aumento da corrupção e da degradação social.

Como em todo regime fascista, a Venezuela de Hugo Chávez já tem a sua nova classe burguesa.

Ninguém cometeria o atrevimento de dizer que a corrupção começou com Chávez. Porém, nos governos anteriores a pilhagem era objeto de censura social, mesmo que sem sanções exemplares. Agora a questão mudou. O analista Carlos Blanco indica que com o “socialismo do século 21 a corrupção não é corrupção, “mas o mecanismo por meio do qual a primazia do revolucionário reclama sua ‘ajuda de custo’ dos que têm a sorte de ser contratados pelo Estado”. Não há roubo, mas “redistribuição forçada da propriedade estatal graças à intermediação de empreiteiras que devem lavar seus pecados por meio de uma mordida de 15% a 30%”.

O desemprego ou emprego informal (que atinge metade da população) provoca uma onda de violência na capital Caracas. A cidade é hoje considerada a segunda mais violenta das Américas. A explosão da violência é uma prova de que as políticas assistências sequer foram eficazes para mascarar a degradação social.

Por outro lado, a “revolução bolivariana” tem sido muito gentil os novos setores enriquecidos. Os chamados “boliburgueses” já são os novos ricos da burguesia do país. Como se enriqueceram a sombra do governo, freqüentemente estão envolvidos em escândalos de corrupção, como foi o caso Arne Chacón, irmão de Jesse Chacón, ministro e figura histórica do chavismo que participou com Chávez da sublevação militar de 1992. Arne Chacón se converteu do dia para a noite num milionário proprietário de bancos e estava associado a outro “boliburguês”, o empresário Ricardo Fernández.

Consultado a respeito da sua avaliação dos primeiros meses de 2010, o general da reserva respondeu que a situação é péssima: “Tudo o que está ocorrendo não é sadio para o processo revolucionário. Estamos abandonando o internacionalismo, que é característica das revoluções, em troca de um nacionalismo pequeno-burguês que não representa as expectativas da sociedade”, sentenciou. Müller Rojas também deixou claro que no PSUV há muitos burgueses. “Sim eles existem (os burgueses ) porque sua forma de vida o demonstra”. (Diário Panorama, 28 de março de 2010).

O jornal El Nuevo Heraldo destacou um repórter, Steven Dudley, para documentar, em Caracas, a nova classe de ricos da Venezuela. O seu relato, rico em informações, começa dizendo: "Eles conduzem automóveis novos e reluzentes como Hummers e Audis; usam fabulosos relógios Cartier e bolsas Montblanc. Compram apartamentos luxuosos e voam até Miami em aviões particulares. E quase sempre pagam tudo à vista".

Os novos ricos venezuelanos são definidos como integrantes da "boliburguesia", uma palavra inventada que se deriva da burguesia bolivariana e também é uma referência à suposta revolução de Chávez em favor dos pobres da Venezuela.

Os "boliburgueses" surgiram porque Hugo Chávez moveu campanha contra as famílias tradicionais e muito ricas da Venezuela, que sempre detestaram o seu estilo de governar. Mas os altos preços do petróleo abriram as portas para uma nova classe de ricos como banqueiros, operadores do mercado petrolífero e funcionários que se beneficiaram com os grandes gastos do governo.

Um dono de uma concessionária de carros de luxo, em Caracas, disse ao repórter Steven Dudley que "vende automóveis como pão quente e que as compras são em dinheiro vivo, trazido em maletas, não se conseguindo satisfazer a demanda".

Conforme analistas revelaram ao repórter do El Nuevo Heraldo, "esses novos ricos se encontram principalmente nas indústrias do petróleo, nas finanças, na construção civil, assim como no setor governamental". "Todas essas riquezas só podem ser explicadas pela estreita conexão que têm essas pessoas com o governo, já que se tornaram ricos rapidamente", disse José Guerra, ex-funcionário do Banco Central e, atualmente, lecionando economia na Universidade Central de Caracas.

Toda a nova "boliburguesia" criada pelo novo sistema de administrar a Venezuela é grata a Hugo Chávez, que faz questão de cultivá-la, mesmo à custa de uma corrupção jamais vista no país.

O diretor de um jornal venezuelano definiu assim a situação atual do seu país: "Chávez representa a arbitrariedade e esses ricos sabem que os planos dele apontam para o socialismo. Eles tratam apenas de acumular a maior quantidade de dinheiro no menor tempo possível".

A experiência com o chavismo também avança na classe operaria. Nos dois últimos anos, os trabalhadores, especialmente os operários industriais, têm protagonizado lutas que foram duramente reprimidas pelo governo ou por pistoleiros. Vários dirigentes foram assassinados pela polícia.

Estima-se que atualmente, em todo o país, quase 2.400 ativistas do movimento operário, popular e estudantil estão sendo processados judicialmente. Alguns já foram condenados, como Rubén González, dirigente sindical de Ferrominera Orinoco, que está em prisão domiciliar desde o ano passado por encabeçar uma greve por melhores condições de trabalho, saúde e por aumento de salário.

O confronto de setores da classe operária com o governo poderá aumentar. Chávez tenta transferir a crise para a classe trabalhadora, diminuído salário, emprego e atacando condições de trabalho.

Mais de uma década de regime chavista não significou nenhuma mudança estrutural no país, tampouco o levaram a uma “transição ao socialismo do século 21”.

Prefeitura dá cargos a dirigentes de associações comunitárias


Líderes de entidades ganham salários em postos de confiança. Especialistas dizem que relação traz prejuízos para a democracia.

Presidentes de associações de bairros de Curitiba estão ganhando cargos dentro de instituições públicas para “intermediar” o diálogo com a população mais carente da capital. Levantamento feito pela Gazeta do Povo mostra que pelo menos 14 dirigentes de associações de moradores e clubes de mães de Curitiba e região metropolitana foram contratados pela prefeitura da capital, pelo governo do Paraná e pela Câmara de Curitiba em cargos comissionados.

Especialistas afirmam que pode estar ocorrendo uma perigosa cooptação dos dirigentes dessas entidades: ao ganhar um salário público, eles estariam se comprometendo a carrear votos para seus novos chefes políticos. Os líderes comunitários negam que haja problemas no relacionamento, mas as três principais centrais que reúnem as associações de bairros têm ligações políticas e partidárias.

A Federação Comunitária das Associações de Moradores de Curi­­tiba e Região (Femoclam), por exemplo, tem três diretores e coordenadores empregados na prefeitura de Curitiba. Um deles é funcionário da Câmara Muni­cipal. O presidente licenciado é o ex-vereador Valdenir Dias, atualmente contratado como assessor parlamentar das comissões do Legislativo municipal.

O presidente da Femoclam, Nilson Pereira, diz, porém, que os líderes de bairro são orientados a ter independência do poder pú­­blico. Ele destaca que a entidade é autônoma e afirma que o ex-vereador Valdenir não participa da administração por ter vinculação com a Câmara. “Para não dar rolo, para não dizerem que estamos nos beneficiando.” Contraditoria­mente, a sala da presidência da entidade é recheada de fotos e ho­­menagens a Valdenir.

O presidente interino da Fe­­deração das Associações de Mora­­dores do Paraná (Famopar), Luiz de Mauro, é funcionário em co­­missão na prefeitura da capital contratado como agente público da Companhia de Habitação Po­­pular de Curitiba (Cohab). Tam­bém integra o Conselho da Ci­­dade de Curitiba (Concitiba) e o Con­­selho Estadual de Saúde (CES).

“Trabalho com regularização fundiária e conflitos fundiários. Na mobilização das comunidades”, diz Mauro. O presidente, que está reativando a organização, admite proximidade com algumas instituições, mas minimiza o problema. “Eles fazem palestras e nos dão o espaço para reuniões ou fornecem o café”, afirma.

Do outro lado, está o presidente da Federação Democrática das Associações de Moradores, Clu­bes de Mães, Entidades Benefi­centes e Sociais de Curitiba (Fe­­mo­­tiba), Edson Feltrin. Embora não tenha cargo político no momento, Feltrin é filiado ao PDT – partido de oposição ao prefeito Luciano Ducci (PSB). E atua como verdadeiro oposicionista: foi ele, por exemplo, quem levou à Câmara um pedido de impeachment contra o presidente do Legislativo municipal, João Cláudio Derosso (PSDB), por supostas irregularidades em contratos de publicidade.

Feltrin também prega independência. Diz que “líderes co­­munitários não podem ser pedintes a vida toda” e por isso defende a autonomia das associações. Ele defende a atuação que faz como uma forma de “conscientização”. “A finalidade da Femotiba é elevar a consciência política das lideranças”, resume.


Especialistas

Contratações reforçam clientelismo

O fato de líderes de bairros se aproximarem de políticos em troca de obras e investimentos gera uma relação de dependência com o poder público com prejuízo ao sistema democrático, segundo especialistas. Para a doutora em Ciência Política Samira Kauchakje, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), o problema acontece quando o poder público passa a atender os pedidos não porque eles são um direito dos cidadãos, mas sim porque há um compromisso político das lideranças. “A troca de votos é o que motiva a relação clientelista”, afirma.

O professor de História José Roberto de Vasconcelos Galdino, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), que trabalhou em seu mestrado justamente a formação política das associações de moradores em Curitiba, explica que a relação de interdependência não é nova. Essa característica, segundo ele, começou a se formar na década de 80, quando prefeitos de estilo mais popular – como Maurício Fruet e Roberto Requião – governaram a capital e levaram líderes comunitários para dentro da administração pública. Segundo ele, isso enfraqueceu o movimento popular na época, que havia sido bastante combativo contra a Ditadura Militar.


Comissionados negam, mas fazem campanha

Os dez líderes comunitários empregados na prefeitura de Curitiba garantem que ter um cargo em comissão não significa apoio incondicional ao Exe­cutivo e aos seus representantes. Todos dizem que foram contratados na capital para realizar funções de assessoramento de associações de bairro e clubes de mães, além de in­­termediar as reivindicações com o poder público. Não ha­­veria compromisso de apoio eleitoral.

HELIBERTON CESCA

domingo, 11 de setembro de 2011


O mês de setembro, há dez anos, passou a ter importância histórica para as relações internacionais. Em 11 de setembro de 2001, o maior ataque ao território continental dos Estados Unidos foi realizado com sucesso, fato que levou a uma grande alteração na política mundial. Tais mudanças podem ser vistas a partir de três eixos interconectados:

  • O primeiro é o da política externa estadunidense. Os ataques de 11/09 possibilitaram aos neoconservadores do Partido Republicano implementar suas políticas unilaterais e intervencionistas, baseadas na visão de que os Estados Unidos são um país de exceção, que têm o direito de intervir no exterior para “civilizar povos menos evoluídos”, implementando seu modelo político-econômico.
  • O segundo aspecto importante é que essa mudança de rumo da política externa dos EUA, potencializada pela dissipação do medo na população do país, pode ser relacionada à atual crise da economia mundial.
  • Por fim, outro ponto importante a ser observado a partir do ataque às Torres é uma grande descrença nas instituições multilaterais, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas. Bush passou por cima dessas instituições.
Até que o plano de jogar aviões Boeing contra os edifícios de 110 andares fosse colocado em prática, as estruturas eram descritas como indestrutíveis, superprédios que jamais seriam derrubados. Uma noção esmagada em 2001 por ataques engendrados em um dia que ainda não acabou e dei­­xou parte do mundo refém do terror .


A data no ca­­lendário virou um evento histórico, com artigo e letra maiúscula: o 11 de Setembro. A inauguração do Memorial na se­­mana que vem marca os dez anos desse fato.O lugar é formado por dois es­­pelhos d’água com cerca de 4 mil metros quadrados cada um, marcando os pontos onde antes estavam as Torres Gêmeas. Nos painéis de bronze ao redor dos quadrados estão inscritos os nomes das vítimas, seguindo uma lógica incomum. Em vez da ordem alfabética, eles foram organizados de acordo com o prédio em que as pessoas trabalhavam, sendo agrupadas por laços profissionais ou sentimentais.

Também para marcar os dez anos, o presidente Barack Obama deve visitar cada um dos três locais implicados no 11 de Setembro: o Marco Zero, em Nova York, a re­­gião de Shankville, na Pensilvânia, onde caiu o voo 93 da United Airlines, e o Pentágono, no estado da Virginia, atingido pelo voo 77, da American Airlines.

O nome Marco Zero para batizar o terreno onde antes estavam as torres do World Trade Center, o centro financeiro do mundo, não é reflexo da megalomania norte-americana. De fato, ali está o cenário em que uma nova ordem mundial teve início.

“É um marco da história recente”, diz o professor Marcos Alan Ferreira, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos, em São Paulo. Os terroristas, que agiram sob o comando de Osama bin La­­den, con­­­seguiram al­­terar a geo­­polí­tica mundial, combatendo os norte-americanos porque eles são, aos olhos de al­­guns islâmicos radicais , uma mi­­noria entre os mu­­­çul­­­manos, os representantes de sa­­tã. Uma nação distante da Lei Co­­­râ­­­­­nica, as regras contidas no Corão.

O 11 de Setembro é com fre­­quên­­cia apresentado como o evento que anunciou o século 21. Para a professora de Geopolítica da do Grupo Dom Bosco Luciana Worms, ele deu início às guerras sem uniforme. “Você não distingue quem é o inimigo. São guerras as­­simétricas, de países contra grupos e você corre o risco de matar amigos ao combater os inimigos.”

O escritor Lawrence Wright, no livro O Vulto da Torres – A Al-Qaeda e o Caminho Até o 11/9 (Companhia das Letras), explica que os islâmicos radicais “consideram o Oci­­dente responsável por corromper e humilhar a sociedade islâmica”. O ódio começou com o regime se­­cular do Egito, mas não demorou a envolver os EUA, Israel e a União So­viética.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011


Gelo do Ártico

Derretimento do gelo polar está mudando o cenário na região

A quantidade de gelo que cobre o Ártico caiu no verão boreal de 2010 ao mínimo já registrado, disseram pesquisadores em um estudo a ser publicado em breve, sugerindo que o afinamento do gelo superou a recuperação na área.

O estudo estimou que a cobertura de gelo no Ártico em 2010 - calculada com base na sua espessura e extensão - foi inferior ao recorde negativo anterior, em 2007, refletindo a tendência global de aquecimento.

Cientistas preveem que o Ártico pode ficar totalmente sem gelo durante o verão daqui a algumas décadas. Isso criaria oportunidades lucrativas em áreas como navegação e exploração de petróleo, mas também teria consequências climáticas para o mundo todo, a começar pelo aumento do nível dos mares.

Os autores do estudo, da Universidade de Washington, em Seattle, desenvolveram um modelo para estimar a espessura do gelo no oceano Ártico com base em medições dos ventos e da temperatura atmosférica e oceânica. Os resultados foram comparados com amostras reais.

"O fato realmente preocupante é a tendência de redução nos últimos 32 anos", disse Axel Schweiger, principal autor do estudo, referindo-se aos registros por satélite do Ártico. A redução em 2010, segundo o estudo intitulado "Incerteza no volume de gelo marinho do Ártico estimado por modelos", foi "por uma margem suficiente para estabelecer um novo recorde estatisticamente significativo".

Schweiger divulgou os dados em email à reportagem da Reuters a bordo do quebra-gelo Arctic Sunrise, do Greenpeace, que está no oceano Ártico, entre a ilha norueguesa de Svalbard e o Polo Norte.

A espessura do gelo é tão importante quanto a sua extensão, ou até mais, para entender o que está acontecendo no Ártico. Alguns especialistas argumentam que a redução dramática na extensão da camada de gelo nos últimos anos ocorre por causa de um afinamento constante nas últimas décadas.

O método usado no estudo é criticado por alguns especialistas, que o consideram menos preciso que as observações diretas. Os autores argumentam, porém, que a tendência geral de afinamento do gelo acaba sendo registrada por esse método.

Na semana passada - faltando ainda duas semanas para o fim da temporada do degelo - a cobertura de gelo no oceano Ártico ficou abaixo dos 4,6 milhões de quilômetros quadrados. A menor extensão já registrada foram 4,13 milhões de quilômetros quadrados em 2007.

O gelo marítimo propriamente dito não eleva o nível do mar quando se descongela, mas o aquecimento do Ártico pode acelerar o derretimento da camada de gelo da Groenlândia, que é composta por água doce acumulada sobre a terra, num volume suficiente para elevar o nível global dos oceanos em 7 metros.

A água do Ártico está mais quente que em qualquer período dos últimos dois mil anos. Pesquisadores de universidades da Alemanha, Noruega e Estados Unidos analisaram sedimentos no estreito de Fram, no oceano Ártico e o resultado do estudo sugere que o rápido aquecimento do Ártico está vinculado à intensificação da transferência de calor para todo o Atlântico Norte, podendo também ter consequências no hemisfério Sul.

O estudo mostrou que a água do estreito de Fram, entre a Groenlândia e o arquipélago norueguês Svalbard aqueceram cerca de 1,94 º C no último século. Hoje, a temperatura da água da região está cerca de 1,38 ºC mais quente do que durante o último episódio de aquecimento, que aconteceu na Idade Média, entre 900 e 1300, e aqueceu o Atlântico Norte, afetando o clima na Europa setentrional e norte da América do Norte.

O aumento da temperatura neste ponto tem consequências no fluxo de correntes marinhas de outras partes do planeta. “O recorde da temperatura da água nesta área influencia na circulação oceânica como um todo”, disse Evguenia Kandino do Instituto de Ciências Marinhas Leibniz, da Alemanha, que participou do estudo.

O que acontece
Robert Spielhagen, autor do artigo publicado nesta edição do periódico científico Science, explica que o fluxo crescente de calor atrasa o congelamento da água do mar, o que resulta no afinamento da cobertura de gelo marinho. “Isto terá uma influência fundamental sobre a circulação atmosférica em grande escala e em torno do Ártico e pode até mesmo influenciar o clima no hemisfério sul”, disse.

De acordo com o estudo, a diminuição acelerada da cobertura de gelo ártico e o aquecimento do oceano e da atmosfera na região estão, em parte, relacionados com uma maior transferência de calor do Atlântico.

Spielhagen afirma o recorde de temperatura deve estar ligado à ação do homem, visto que não há temperatura semelhante a de agora nos últimos 2000 mil anos.

“As razões e mecanismos para o aquecimento são múltiplas, mas em geral eles estão relacionados ao excesso de calor no sistema oceano-atmosfera por causa do efeito estufa. O aumento da energia térmica deste sistema pode fortalecer ambos os sistemas de circulação oceânica e atmosférica”, disse.

Como foi feito
Os pesquisadores conseguiram os dados a partir da análise de sedimentos de protozoários chamados foraminíferos, que vivem em uma temperatura específica nas profundezas do oceano. Suas conchas se depositam no fundo do mar e forma camadas conforme o tempo. A partir de um cálculo que levou em conta a quantidade de conchas e análise química de sua composição, os pesquisadores conseguiram obter um registro confiável das temperaturas dos últimos 2 mil anos.