quarta-feira, 7 de setembro de 2011


Gelo do Ártico

Derretimento do gelo polar está mudando o cenário na região

A quantidade de gelo que cobre o Ártico caiu no verão boreal de 2010 ao mínimo já registrado, disseram pesquisadores em um estudo a ser publicado em breve, sugerindo que o afinamento do gelo superou a recuperação na área.

O estudo estimou que a cobertura de gelo no Ártico em 2010 - calculada com base na sua espessura e extensão - foi inferior ao recorde negativo anterior, em 2007, refletindo a tendência global de aquecimento.

Cientistas preveem que o Ártico pode ficar totalmente sem gelo durante o verão daqui a algumas décadas. Isso criaria oportunidades lucrativas em áreas como navegação e exploração de petróleo, mas também teria consequências climáticas para o mundo todo, a começar pelo aumento do nível dos mares.

Os autores do estudo, da Universidade de Washington, em Seattle, desenvolveram um modelo para estimar a espessura do gelo no oceano Ártico com base em medições dos ventos e da temperatura atmosférica e oceânica. Os resultados foram comparados com amostras reais.

"O fato realmente preocupante é a tendência de redução nos últimos 32 anos", disse Axel Schweiger, principal autor do estudo, referindo-se aos registros por satélite do Ártico. A redução em 2010, segundo o estudo intitulado "Incerteza no volume de gelo marinho do Ártico estimado por modelos", foi "por uma margem suficiente para estabelecer um novo recorde estatisticamente significativo".

Schweiger divulgou os dados em email à reportagem da Reuters a bordo do quebra-gelo Arctic Sunrise, do Greenpeace, que está no oceano Ártico, entre a ilha norueguesa de Svalbard e o Polo Norte.

A espessura do gelo é tão importante quanto a sua extensão, ou até mais, para entender o que está acontecendo no Ártico. Alguns especialistas argumentam que a redução dramática na extensão da camada de gelo nos últimos anos ocorre por causa de um afinamento constante nas últimas décadas.

O método usado no estudo é criticado por alguns especialistas, que o consideram menos preciso que as observações diretas. Os autores argumentam, porém, que a tendência geral de afinamento do gelo acaba sendo registrada por esse método.

Na semana passada - faltando ainda duas semanas para o fim da temporada do degelo - a cobertura de gelo no oceano Ártico ficou abaixo dos 4,6 milhões de quilômetros quadrados. A menor extensão já registrada foram 4,13 milhões de quilômetros quadrados em 2007.

O gelo marítimo propriamente dito não eleva o nível do mar quando se descongela, mas o aquecimento do Ártico pode acelerar o derretimento da camada de gelo da Groenlândia, que é composta por água doce acumulada sobre a terra, num volume suficiente para elevar o nível global dos oceanos em 7 metros.

A água do Ártico está mais quente que em qualquer período dos últimos dois mil anos. Pesquisadores de universidades da Alemanha, Noruega e Estados Unidos analisaram sedimentos no estreito de Fram, no oceano Ártico e o resultado do estudo sugere que o rápido aquecimento do Ártico está vinculado à intensificação da transferência de calor para todo o Atlântico Norte, podendo também ter consequências no hemisfério Sul.

O estudo mostrou que a água do estreito de Fram, entre a Groenlândia e o arquipélago norueguês Svalbard aqueceram cerca de 1,94 º C no último século. Hoje, a temperatura da água da região está cerca de 1,38 ºC mais quente do que durante o último episódio de aquecimento, que aconteceu na Idade Média, entre 900 e 1300, e aqueceu o Atlântico Norte, afetando o clima na Europa setentrional e norte da América do Norte.

O aumento da temperatura neste ponto tem consequências no fluxo de correntes marinhas de outras partes do planeta. “O recorde da temperatura da água nesta área influencia na circulação oceânica como um todo”, disse Evguenia Kandino do Instituto de Ciências Marinhas Leibniz, da Alemanha, que participou do estudo.

O que acontece
Robert Spielhagen, autor do artigo publicado nesta edição do periódico científico Science, explica que o fluxo crescente de calor atrasa o congelamento da água do mar, o que resulta no afinamento da cobertura de gelo marinho. “Isto terá uma influência fundamental sobre a circulação atmosférica em grande escala e em torno do Ártico e pode até mesmo influenciar o clima no hemisfério sul”, disse.

De acordo com o estudo, a diminuição acelerada da cobertura de gelo ártico e o aquecimento do oceano e da atmosfera na região estão, em parte, relacionados com uma maior transferência de calor do Atlântico.

Spielhagen afirma o recorde de temperatura deve estar ligado à ação do homem, visto que não há temperatura semelhante a de agora nos últimos 2000 mil anos.

“As razões e mecanismos para o aquecimento são múltiplas, mas em geral eles estão relacionados ao excesso de calor no sistema oceano-atmosfera por causa do efeito estufa. O aumento da energia térmica deste sistema pode fortalecer ambos os sistemas de circulação oceânica e atmosférica”, disse.

Como foi feito
Os pesquisadores conseguiram os dados a partir da análise de sedimentos de protozoários chamados foraminíferos, que vivem em uma temperatura específica nas profundezas do oceano. Suas conchas se depositam no fundo do mar e forma camadas conforme o tempo. A partir de um cálculo que levou em conta a quantidade de conchas e análise química de sua composição, os pesquisadores conseguiram obter um registro confiável das temperaturas dos últimos 2 mil anos.

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