sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Chavismo

O modelo de governo do presidente venezuelano, Hugo Chávez, está em “declínio terminal”

“Chávez não tem nada de bobo. Ele é muito espaçoso e coloca o pé onde quer. Até gasolina subsidiada para os pobres americanos ele está fornecendo. Ele quer ser um Símon Bolívar, sem entender exatamente qual foi o papel do Bolívar na história. E aí existe essa sua ânsia de se expandir, inclusive militarmente, como vimos recentemente”, diz a socióloga Maria Victor Lucia Barbosa.

“Esse é um governo militarista, autoritário”, dispara o professor aposentado da Universidade Central da Venezuela Carlos Ma­­chado Allison.

“Esses são setores contrarrevolucionários, que querem voltar ao passado”, ataca Iza­­bel Aldano, integrante de movimentos populares.

Mesmo históricos defensores de Chávez, como Heinz Dieterich, o ideólogo do chamado “socialismo do século 21”, passaram a criticar abertamente o governo. “A política do Presidente não tem construído instituição alguma que se possa chamar de socialismo do século 21”, disse Dieterich que completa: “Nada do que se fez na Venezuela é diferente dos mercados na Europa. Os programas sociais são muito positivos, mas nada disto é socialista”

Mas quais são as razões que levam antigos chavistas a criticar e até mesmo romper com o governo? Por que aumenta a desilusão entre os trabalhadores com a “revolução bolivariana”?

No início da crise econômica mundial, Chávez declarou que o “socialismo do século 21 imunizaria o país”. Nada mais longe da verdade. De toda América do Sul, a Venezuela foi o país mais afetado pela crise.

A resposta de Chávez à crise não foi muito diferente das ações realizadas por outros governos mundo a fora, ou seja, de jogar o peso da crise sobre as costas dos trabalhadores. Em janeiro, Chávez anunciou a mega – desvalorização do Bolívar Forte para “combater” a mais alta inflação da América Latina, que registrou quase 26% em 2009, segundo dados oficiais. A desvalorização arrasou ainda mais os salários dos trabalhadores já corroídos pela inflação.

Por outro lado, a medida foi muito bem recebida pelos capitalistas. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a “desvalorização da moeda é um bom passo para Venezuela”. Já o presidente da federação industrial venezuelana disse que “o ajuste cambial protege à maioria do povo venezuelano”.

A razão para esses senhores aplaudirem a desvalorização é simples. A mega – desvalorização imposta por Chávez diminuiu drasticamente os salários pagos aos trabalhadores, o que, portanto, aumentará as taxas de lucros dos empresários

Aos efeitos da crise somam-se os verdadeiros descalabros administrativos praticados na economia e infra-estrutura do país. Rica em petróleo, a Venezuela dependente da importação de quase tudo, até alimentos. A produção de eletricidade, apesar dos imensos rendimentos em petróleo, continua uma verdadeira calamidade. Apesar de ser um dos maiores produtores de energia do planeta, até hoje o fornecimento de eletricidade na Venezuela é interrompido por “apagões”.

Se o “socialismo do século 21” de Chávez não imunizou o país da crise, ele também não impediu o aumento da corrupção e da degradação social.

Como em todo regime fascista, a Venezuela de Hugo Chávez já tem a sua nova classe burguesa.

Ninguém cometeria o atrevimento de dizer que a corrupção começou com Chávez. Porém, nos governos anteriores a pilhagem era objeto de censura social, mesmo que sem sanções exemplares. Agora a questão mudou. O analista Carlos Blanco indica que com o “socialismo do século 21 a corrupção não é corrupção, “mas o mecanismo por meio do qual a primazia do revolucionário reclama sua ‘ajuda de custo’ dos que têm a sorte de ser contratados pelo Estado”. Não há roubo, mas “redistribuição forçada da propriedade estatal graças à intermediação de empreiteiras que devem lavar seus pecados por meio de uma mordida de 15% a 30%”.

O desemprego ou emprego informal (que atinge metade da população) provoca uma onda de violência na capital Caracas. A cidade é hoje considerada a segunda mais violenta das Américas. A explosão da violência é uma prova de que as políticas assistências sequer foram eficazes para mascarar a degradação social.

Por outro lado, a “revolução bolivariana” tem sido muito gentil os novos setores enriquecidos. Os chamados “boliburgueses” já são os novos ricos da burguesia do país. Como se enriqueceram a sombra do governo, freqüentemente estão envolvidos em escândalos de corrupção, como foi o caso Arne Chacón, irmão de Jesse Chacón, ministro e figura histórica do chavismo que participou com Chávez da sublevação militar de 1992. Arne Chacón se converteu do dia para a noite num milionário proprietário de bancos e estava associado a outro “boliburguês”, o empresário Ricardo Fernández.

Consultado a respeito da sua avaliação dos primeiros meses de 2010, o general da reserva respondeu que a situação é péssima: “Tudo o que está ocorrendo não é sadio para o processo revolucionário. Estamos abandonando o internacionalismo, que é característica das revoluções, em troca de um nacionalismo pequeno-burguês que não representa as expectativas da sociedade”, sentenciou. Müller Rojas também deixou claro que no PSUV há muitos burgueses. “Sim eles existem (os burgueses ) porque sua forma de vida o demonstra”. (Diário Panorama, 28 de março de 2010).

O jornal El Nuevo Heraldo destacou um repórter, Steven Dudley, para documentar, em Caracas, a nova classe de ricos da Venezuela. O seu relato, rico em informações, começa dizendo: "Eles conduzem automóveis novos e reluzentes como Hummers e Audis; usam fabulosos relógios Cartier e bolsas Montblanc. Compram apartamentos luxuosos e voam até Miami em aviões particulares. E quase sempre pagam tudo à vista".

Os novos ricos venezuelanos são definidos como integrantes da "boliburguesia", uma palavra inventada que se deriva da burguesia bolivariana e também é uma referência à suposta revolução de Chávez em favor dos pobres da Venezuela.

Os "boliburgueses" surgiram porque Hugo Chávez moveu campanha contra as famílias tradicionais e muito ricas da Venezuela, que sempre detestaram o seu estilo de governar. Mas os altos preços do petróleo abriram as portas para uma nova classe de ricos como banqueiros, operadores do mercado petrolífero e funcionários que se beneficiaram com os grandes gastos do governo.

Um dono de uma concessionária de carros de luxo, em Caracas, disse ao repórter Steven Dudley que "vende automóveis como pão quente e que as compras são em dinheiro vivo, trazido em maletas, não se conseguindo satisfazer a demanda".

Conforme analistas revelaram ao repórter do El Nuevo Heraldo, "esses novos ricos se encontram principalmente nas indústrias do petróleo, nas finanças, na construção civil, assim como no setor governamental". "Todas essas riquezas só podem ser explicadas pela estreita conexão que têm essas pessoas com o governo, já que se tornaram ricos rapidamente", disse José Guerra, ex-funcionário do Banco Central e, atualmente, lecionando economia na Universidade Central de Caracas.

Toda a nova "boliburguesia" criada pelo novo sistema de administrar a Venezuela é grata a Hugo Chávez, que faz questão de cultivá-la, mesmo à custa de uma corrupção jamais vista no país.

O diretor de um jornal venezuelano definiu assim a situação atual do seu país: "Chávez representa a arbitrariedade e esses ricos sabem que os planos dele apontam para o socialismo. Eles tratam apenas de acumular a maior quantidade de dinheiro no menor tempo possível".

A experiência com o chavismo também avança na classe operaria. Nos dois últimos anos, os trabalhadores, especialmente os operários industriais, têm protagonizado lutas que foram duramente reprimidas pelo governo ou por pistoleiros. Vários dirigentes foram assassinados pela polícia.

Estima-se que atualmente, em todo o país, quase 2.400 ativistas do movimento operário, popular e estudantil estão sendo processados judicialmente. Alguns já foram condenados, como Rubén González, dirigente sindical de Ferrominera Orinoco, que está em prisão domiciliar desde o ano passado por encabeçar uma greve por melhores condições de trabalho, saúde e por aumento de salário.

O confronto de setores da classe operária com o governo poderá aumentar. Chávez tenta transferir a crise para a classe trabalhadora, diminuído salário, emprego e atacando condições de trabalho.

Mais de uma década de regime chavista não significou nenhuma mudança estrutural no país, tampouco o levaram a uma “transição ao socialismo do século 21”.

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