sexta-feira, 20 de novembro de 2009


Paraguai acusa brasileiros de bombardear índios com veneno

A ministra paraguaia da Saúde, Esperanza Martínez, confirmou que mais de 200 indígenas da comunidade Avá-Guarani foram envenenados por agrotóxicos despejados por um avião de origem brasileira na cidade de Itakyry, a 380 quilômetros da capital, Assunção. O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, ordenou abertura de inquérito sobre o caso.
"Foi constatada a intoxicação de membros das cinco comunidades indígenas assentadas na localidade de Itakyry, vítimas de pulverizações de um avião com substâncias tóxicas", anunciou um comunicado da Secretaria Ambiental. Segundo Esperanza, "os nativos foram banhados por um líquido lançado de um avião".
A ministra informou que as pessoas atingidas estão sofrendo de sintomas característicos de envenenamento por agrotóxicos, como enjôos, vômitos e dores de cabeça. Ela ainda anunciou a existência de danos ambientais, que seriam comprovados por fotografias. A região afetada soma 15 mil hectares de terras que são alvo de disputas entre produtores de soja brasileiros e indígenas paraguaios. Por diversas vezes, os proprietários de terra tentaram desalojar os índios, que resistem. Segundo o governo, este é um problema para o Estado, já que os chamados “brasiguaios” alegam ter comprado a terra “com os índios dentro”.
O Indi (Instituto Nacional do Indígena do Paraguai) acusou os produtores de terem fumigado o local com a intenção de desalojar a população, que reivindica o direito ancestral à terra. O sociólogo paraguaio Ramón Fogel contou ao Opera Mundi que não é a primeira vez que índios são atacados na região. “A diferença é que, dessa vez, a doença é crônica”, diz. Segundo Fogel, este problema é antigo e permanente e afeta quase todas as comunidades indígenas da região leste do país.
De acordo com o sociólogo, os fazendeiros consideram a população pobre indígena como um incômodo. “Eles querem progresso, precisam de mais dinheiro e, para eles, os nativos atrapalham esse objetivo”, acusa.
Defesa
A advogada Nidia Silvero de Prieto, que representa os fazendeiros brasileiros, negou as acusações do governo paraguaio e declarou que a incriminação faz parte de uma campanha governamental para tentar tirá-los das terras. Ela também disse que os “brasiguaios” possuem títulos de propriedade, e que os índios vêm ocupando a região apenas nos últimos nove meses.
Fogel, no entanto, contesta a afirmação e diz que os Avá-Guarani são nativos das terras de Itakyry. A legalidade da terra continua em julgamento. Os produtores brasileiros ganharam uma ordem para expulsar os indígenas, que por enquanto está adiada.
Tratores
A promotoria da região constatou que o fazendeiro brasileiro Alair Afonso violou a lei ambiental, já que sua propriedade não conta com barreiras vivas de proteção, nem faixas de 100 metros entre o cultivo e a comunidade. Diante das acusações, Afonso foi chamado para depor esta manhã na
Promotoria do Meio Ambiente de Ciudad del Este, mas não se apresentou. Funcionários da secretaria do Meio Ambiente viajaram para a região para investigar denúncias de outros danos, como o caso de uma escola e um cemitério indígenas que teriam sido destruídos por tratores.

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