terça-feira, 1 de dezembro de 2009


Apesar de alguns avanços, o mundo está perdendo a guerra contra a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). E as regiões mais pobres do planeta são as mais afetadas. Essa foi a constatação de um estudo elaborado pelo UNAIDS (Programa das Nações Unidas para o Combate à AIDS). Os resultados da pesquisa mostram que a epidemia pode estar, vagarosamente, diminuindo no mundo, mas as taxas de infecção ainda são crescentes.

Em 25 anos, 25 milhões de pessoas morreram em decorrência da doença e, atualmente, cerca de 38 milhões de pessoas vivem com o vírus, embora muitos nem saibam. Só em 2005, 2,8 milhões de pessoas morreram vítimas da doença e outras 4,1 milhões foram infectadas. Na América Latina, mais de 1,6 milhão de pessoas vivem com o HIV e novas infecções atingiram 140 mil pessoas em 2005. Segundo o estudo da UNAIDS, 59 mil pessoas morreram na região em conseqüência da epidemia no ano passado e outras 294 mil, ou cerca de 73%, receberam tratamento anti-retroviral.


Na opinião de especialistas, estes números, além de diversos outros fatores, podem estar associados a uma ação contra-producente da mídia e dos próprios governos em não apostar em informação e educação preventiva em relação à doença. Para eles, se compararmos com as décadas de 80 e 90, em que, respectivamente, a AIDS acabara de ser descoberta e atingia seu ápice, o número de campanhas para o uso de preservativos e cuidados com a doença caiu muito.

A África é, sem sombra de dúvida, a região mais afetada pela AIDS e onde maior é o abandono da população. Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) apontam que dois terços dos africanos possuem o vírus. Frente a estes dados, Palacios reforça que a crise de HIV/AIDS de regiões como a África Sub-sahariana e o subcontinente Índio são uma questão de sobrevivência para muitas comunidades perante a qual não é possível ficar indiferente. No entanto, acredita que mesmo soluções que podem parecer fáceis em outros contextos, podem ser impraticáveis nas condições culturais, sociais e econômicas dessas regiões.

"A pólio foi eliminada das Américas em 1994 com ajuda de uma vacina oral eficaz e barata. Mas ainda hoje não foi erradicada em países africanos e na Índia. Por isso, não é suficiente dizer que com uma vacina eficaz se soluciona o problema do HIV em países pobres", destaca.

Em sua opinião, experiências relativamente bem sucedidas na redução de casos de HIV/AIDS requerem um compromisso político das autoridades e comunidades locais apoiado por esforços internacionais e da indústria privada.
"Não só os avanços científicos são necessários para ampliar o controle do HIV/AIDS, mas um envolvimento das populações vulneráveis que se apropriem do problema e decidam afrontá-lo, com o apoio das instituições locais e internacionais. Essa conclusão também é válida para o Brasil", afirma.
O acesso à terapêutica e a falta de apoio internacional são os fatores que preocupam o infectologista da Unicamp em relação ao caso da África. Ele explica que em países industrializados da América do Norte e Europa, além do Brasil, é possível perceber que os processos educativos e o tratamento têm controlado a infecção, mas isso está restrito a estas áreas.
"Em regiões como a África, o acesso à terapêutica é inferior a 5%. É evidente que isso colabora pra disseminação da doença", diz.

Além disso, para modificar o quadro da AIDS naquele continente, ele defende a necessidade de uma mudança brusca nas estruturas de base para que seja possível disponibilizar medicamentos e acesso a informação sobre prevenção e tratamento. Atualmente, nas condições em que estão os países mais pobres da África - onde nem mesmo as gestantes têm acesso à profilaxia e medicamentos já existentes para a redução da transmissão do vírus para seus bebês - isto é algo que só seria possível por meio de uma intervenção internacional em parceria com os governos locais.

"O que acontece na África é mais um genocídio que assistimos de maneira contemplativa. Uma hipocrisia do mundo frente à pobreza e ao desenvolvimento", friza.

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