quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


Ecofeminismo

Ecofeminismo é uma corrente oriunda do movimento feminista que relaciona historicamente a mulher e a natureza com a subjugação e exploração sofrida por ambas. O ecofeminismo representa um forte movimento no sentido de reforçar a importância da mudança de paradigma também para a melhoria da relação entre gêneros, assim como da relação com o meio. Seus expoentes trabalham em nome da transformação do atual e ultrapassado modelo civilizacional representado pelo patriarcado. Assim lutam pela mudança de paradigma uma vez que associam a este o resgate dos valores femininos simbolizados pela proteção e pelo ato de cuidar, entre outros.

A ele liga-se também uma corrente literária. O termo foi usado pela primeira vez por Françoise d'Eauboune. Desde a década de setenta que o movimento feminista defende a ideia de que o ambiente e feminino, deste modo o combate ecológico está ligado à libertação da mulher. De acordo com Karen J. Warren feminismo ecológico "é o nome dado a uma variedade de posição que têm raízes em diferentes práticas feministas e filosofias". Por outro lado para Carolyn Merchant, uma historiadora deste movimento,
"as mulheres e a natureza têm uma antiga associação, associação que tem persistido ao longo da cultura, linguagem e história".

Tenha-se em atenção que foi Rachel Carson (1907-1964), com o seu livro "Silent Spring" (1962) que fez despertar a consciência dos cientistas, políticos e historiadores para o movimento ecológico. Esta aproximação ao Ecofeminismo deu-se em 1987 com a conferência "Perspectivas ecofeminista", preparada para celebrar os 25 anos de publicação do livro de Rachel Carson. Todavia a primeira conferência a fazer apelo a esta aproximação aos problemas da mulher do ambiente teve lugar em 1974 na Universidade da Califórnia, a que se outras seguiram na década imediata. Os dois textos mais marcantes que historiam este movimento são os de Susan Griffin, Mulheres e Natureza (1978) e Carolyn Merchant, A morte da natureza (1980)

É de salientar aqui o papel assumido pelas mulheres sem passado na defesa e valorização do meio ambiente. O facto mais evidente disto está na obra de Rachel Carson, o que poderá juntar-se a iniciativa de outras mulheres desde o século XVIII, como o prova o estudo de Márcia Myers Bonta, Mulheres no Campo (1991).

Os ecofeministas vêem a dominação patriarcal de mulheres por homens como o protótipo de todas as formas de dominação e exploração: hierárquica, militarista, capitalista e industrialista.

Eles mostram que a exploração da natureza, em particular, tem marchado de mãos dadas com a das mulheres, que têm sido identificadas com a natureza através dos séculos.[...] os ecofeministas vêem o conhecimento vivencial feminino como uma das fontes de uma visão ecológica da realidade. (Capra).

O ecofeminismo vê a dominação ao qual a mulher foi sujeitada assim como outras raças (índios e negros) e seres mais fracos, paralelamente a dominação e usurpação da natureza e de suas riquezas. Uma vez que entre os povos primitivos, segundo alguns historiadores, sempre houve uma forte conexão entre a mulher e a natureza, através do culto ao feminino e a Terra em si como símbolo maior deste princípio.

Esta visão sacralizada da natureza percebia o homem como parte dela e este em troca lhe tratava com respeito e cordialidade, com o carinho de um filho para com a sua mãe. Na medida em que a natureza foi perdendo este seu caráter sagrado paralelamente iniciou sua exploração. Os valores patriarcais de dominação e centralização de poderes logo começaram a ser sentidos também pelas mulheres dando prosseguimento a mesma associação anterior, só que de forma diferente onde a mulher, assim como a natureza, tornou-se mera propriedade masculina. O atual resgate fruto da mudança de paradigma possibilita a homens e mulheres repensarem essa relação histórica entre si e com a Terra.
A recuperação do princípio feminino se baseia na amplitude. Consiste em recuperar na Natureza, a mulher, o homem e as formas criativas de ser e perceber. No que se refere à Natureza, supõe vê-la como um organismo vivo. Com relação à mulher, supõe considerá-la produtiva e ativa. E no que diz respeito ao homem, a recuperação do princípio feminino implica situar de novo a ação e a atividade em função de criar sociedades que promovam a vida e não a reduzam ou a ameacem. (Shiva).

A questão do resgate do feminino corresponde mais ao equilíbrio do que a sobreposição de um modelo sobre o outro. O patriarcado se enfraqueceu no momento em que o feminismo alcançou maiores espaços e maior peso cultural. Ou seja, não há de fato um culpado, o masculino não é determinado como o inimigo, mas sim como um extremo apenas de uma complexa realidade histórico-socio-cultural existente entre homens e mulheres. Por um longo período este extremismo vem sendo perpetuado causando enormes prejuízos para ambos os gêneros da raça humana, além de inúmeros desequilíbrios que atingiram não apenas a sociedade como também ao nosso meio em comum: a Terra.

Em um mundo constituído por homens e mulheres ainda assim o poder há centenas de anos vem sendo centralizado pelo masculino alicerçado em diversos princípios prepotentes e manipuladores características do patriarcado que ainda são sentidos nos dias de hoje em nossa atual bagagem cultural que infelizmente herda um vasto legado de dominação, destruição, medo e culpa; obra de uma visão masculina judaico-cristã que permitiu ao homem branco sentar-se em seu trono sobre a natureza e subjugar espécies diferentes da sua, fazendo incluir nesta categoria mulheres, índios e negros entre outros, que como o restante da natureza também não eram dignos de possuir uma alma. O que já era o suficiente para justificar qualquer atrocidade cometida e respaldá-la em bases religiosas que disseminavam estes valores.

El patriarcado capitalista dominante es una ideología basada en el miedo y la inseguridad[...]Y el ecofeminismo dice: hay suficiente para todos, no tienes que asustarte, no tienes que destruir la vida para conseguir un poco... Se necesita confianza para permitir a la vida evolucionar en libertad y alimentarse a sí misma en el proceso. El ecofeminismo es una filosofía de la seguridad, de la paz, de la confianza, el patriarcado capitalista es asustadizo, es estrecho de miras, está tan terriblemente asustado que no puede tolerar a otras especies o culturas. (Shiva, 2005).

Como colocam os autores trata-se de um imprescindível resgate não apenas para as mulheres mas para toda a civilização e principalmente para as futuras gerações. A mudança de paradigma torna-se urgente para que se coloque um ponto final definitivo nesta história sangrenta marcada por conflitos e guerras por poder e dinheiro que tanto castigaram a Terra e seus povos ao longo de centenas de anos de domínio e exploração.

La recuperación del principio femenino permite trascender los cimientos patriarcales del mal desarrollo y transformarlos. Permite redefinir el crecimiento y la productividad como categorías vinculadas a la producción —no a la destrucción— de la vida. De modo que es un proyecto político, ecológico y feminista a la vez, que legitima la vida y la diversidad, y que quita legitimidad al conocimiento y la práctica de una cultura de la muerte que sirve de base a la acumulación de capital. (Shiva).

O movimento ecofeminista traz à tona a relação estreita existente entre uma exploração ea submissão da natureza, das Mulheres e dos Povos estrangeiros pelo poder patriarcal, a dominação das mulheres está Baseada nos mesmos fundamentos e impulsos que levaram à exploração da natureza e de Povos. Tanto o meio ambiente como as mulheres são vistos pelo capitalismo patriarcal como "coisa útil",, seja como objeto de consumo, como meio de produção ou exploração. Além disso, o capitalismo patriarcal apresenta uma intolerância diante de outras espécies, seres humanos ou culturas que julga subalternas ao seu poder, buscando, assim, dominá-las. Neste contexto estão inseridos tanto o meio ambiente quanto as mulheres.

O Ecofeminismo pode ser dividido em três tendências:

a) Ecofeminismo clássico.


Nesta tendência o feminismo denuncia a naturalização da mulher como um dos Mecanismos de legitimação do patriarcado. Segundo o Ecofeminismo clássico, uma obsessão dos homens pelo poder tem Levado o mundo um guerras suicidas, ao envenenamento e à destruição do planeta. Neste contexto, uma ética feminina de proteção dos seres vivos se opõe à essência agressiva masculina, e é fundamentada Através das características femininas igualitárias e por atitudes maternais que acabam pré-dispondo as mulheres ao pacifismo e à conservação da natureza, enquanto os homens seriam naturalmente predispostos à competição e à destruição;

b) Espiritualista Ecofeminismo do Terceiro Mundo.


Teve origem nos Países do Sul, Tendo a influência dos Princípios religiosos de Ghandi, na Ásia, e da Teologia da Libertação, na América Latina. Esta tendência afirma que o desenvolvimento da sociedade gera um processo de violência contra a mulher eo meio ambiente, TENDO suas raízes nas concepções patriarcais de dominação e centralização do poder. Caracteriza-se também pela postura crítica contra a dominação, luta pela antisexista, antiracista, antielitista e anti-antropocêntrica. Além disso, Atribui ao principio da cosmologia uma tendência protetora das mulheres para com uma natureza;

c) Ecofeminismo construtivista.


Esta tendência não se identifica nem com o essencialismo, nem com as fontes religiosas espirituais das correntes anteriores, embora compartilhe idéias como Antiracismo, anti-antropocentrismo e anti-imperialismo. Ela defende que a relação profunda da Maioria das mulheres com a natureza não está associada uma características Próprias do sexo feminino, mas é originária de suas responsabilidades de gênero na economia familiar, Criadas Através da divisão social do trabalho, da distribuição do poder e da propriedade . Para tanto, defendem que é Necessário para assumir novas práticas de relação de gênero e com a natureza.

PULEO alerta para uma debilidade teórica existente nas duas primeiras tendências, como também para um Possível risco de se afirmar A utilização de estereótipos femininos na sociedade. O Ecofeminismo construtivista, por sua vez, desconsidera uma mística da importância, o que acaba dificultando uma mobilização das mulheres em torno do tema, elemento este que para o Ecofeminismo Espiritualista tem representado uma força prática efetivamente mobilizadora.

As mulheres pobres do Terceiro Mundo, que são Vivem em uma economia de subsistência, como maiores Vítimas da crise ambiental em seus Países, são pois as primeiras uma sentirem o reflexo da diminuição da qualidade de vida causadas pela poluição ou escassez dos recursos naturais, ambiente quais são explorados indiscriminadamente para satisfazer as "Necessidades" do Primeiro Mundo.


A lógica do capitalismo tem se demonstrado incompatível com as exigências ecológicas para a sustentabilidade da vida. Portanto, ao contrário do que muitos ecologistas pensam, não é possível ecologizar o capitalismo, assim como também não é possível acabar com uma dominação e exploração do gênero feminino sem superar as estruturas capitalistas patriarcais que a mantém .

Deste modo, tanto a solução da crise ambiental quanto a da opressão das mulheres não devem ser tratados como problemas isolados. A salvação da vida no planeta, assim como uma emancipação não só das mulheres como de todos os seres humanos, dependem de uma mudança estrutural e organizacional da sociedade.

E para isto, é imprescindível uma ação conjunta dos movimentos sociais contra seu opressor comum: o capitalismo patriarcal.

Luciana P. Urbim
/ROSÂNGELA ANGELIN - Militante feminista.


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