segunda-feira, 18 de abril de 2011


Os hapirus.

Em Canaã, a partir do séc. 13 a.C. encontra-se o fenômeno das Cidades-estado. Ou seja, na faixa litorânea e nas planícies existem diversas cidades-estado com seu rei, com seu exército e com sua leva de campesinos. Os reis eram vassalos do faraó do Egito e os campesinos eram escravos dos reis. Muitas vezes estes campesinos, cansados da escravidão fugiam para as montanhas, que naquele tempo ainda eram inóspitas. Inicialmente era difícil sobreviver nas montanhas. Só salteadores e mercenários sobreviviam.

Mais tarde, com o surgimento de novas técnicas agrícolas, os camponeses conseguem sobreviver.

Este é o fenômeno dos hapirus (assaltantes, mercenários etc.).

Da palavra hapiru certamente deriva a palavra hoje conhecida como hebreu.

Hapiru não é uma raça, mas uma categoria social, ou seja, escravos fugitivos que se tornaram assaltantes ou mercenários de guerra.

Grupos abrâmicos.

São grupos de pastores seminômades que migram com suas famílias e seus rebanhos de ovelhas e cabritos atrás de pastagens. Formam pequenas tribos que não conhecem fronteiras. Também não conhecem propriedade de terras. Invadem as roças dos camponeses com seus rebanhos, resultando daí conflitos de morte (Ex.: o relato Caim e Abel - Gn 4).

Estes pequenos grupos, vindos do norte entram em Canaã e se confrontam com os camponeses (ou citadinos) das cidades-estado, sendo por eles rechaçados. Desta forma vivem nas estepes e nas faixas intermediárias entre as terras planas e as montanhas. São premidos. Por um lado estão os camponeses que os repelem, por outro lado estão as montanhas inóspitas, onde também não podem penetrar com seus rebanhos. Com o passar do tempo, sofrendo a pressão dos camponeses, alguns destes seminômades sobem às montanhas e se mesclam com os hapirus.

Grupo mosaico.

Este é o grupo (talvez relativamente pequeno) que fez a experiência do Êxodo, i.é, da libertação da escravidão. Provavelmente eram também pastores seminômades que migraram para o Egito e lá se tornaram escravos. No Egito não lhes resta espaço, pois são controlados política e ideologicamente. Os deuses são a melhor arma que os faraós têm para manter o povo dominado. Este pequeno contingente de escravos, talvez em contato com os Madianitas (Ex 3, I ss), descobre Javé (Ex 3,7ss), um Deus não conhecido do rei.

Com ele conseguem transpor o controle de faraó e se organizam (Ex 4ss) sob a liderança de Moisés e iniciam o processo de libertação. Uma vez fora do Egito, peregrinam pelo deserto (40 anos) até chegar à Terra Prometida (Canaã - Israel). Lá chegando encontram os hapirus e o grupo abrâmico, formando com eles uma unidade.

Houve, assim mistura de culturas e de religião, sendo que a experiência do grupo mosaico prevaleceu, por se tratar da experiência mais forte e porque também os demais sofriam as agruras oriundas do Egito. Logo, a experiência do Êxodo foi assimilada pelos demais como sendo sua. Ela ganhou corpo e passou a ser a experiência fundante de toda Bíblia.

O tema do Êxodo é retomado muitas vezes. Gn 1-2, texto mais novo, mostra o homem livre por vocação. O mesmo se diga dos profetas. Eles querem refazer o êxodo. Também Cristo refaz o Êxodo, pois ele veio libertar os oprimidos (Lc 4,14-20). Sua morte reinterpreta a páscoa, isto é, o êxodo. Paulo também fala da libertação radical do pecado.

Grupo sinaítico.

Quando o grupo mosaico saiu do Egito migrou pelo deserto e chegou ao Sinai (Ex 19). Lá se fundiu com outro grupo, provavelmente de pastores que estava sendo premido pelo Egito, pois na região havia cobre, mineral cobiçado pelo faraó. Estes pastores que estão em retirada devido às pressões do Egito, são pessoas cuja religião se manifesta na natureza: raios, relâmpagos, nuvens, etc. (Ex 19). Impregnam o grupo mosaico com suas teofanias.

Todos estes grupos e, talvez mais outros, entraram em Canaã e se mesclaram. Cada grupo contribuiu com alguns elementos culturais e também religiosos, sendo que a experiência do grupo mosaico prevaleceu sobre as demais. Assim se formou Israel. Da fusão de todos, surge um povo que destronou os reis das cidades-estado (Js) e, aos poucos, foi ocupando as terras de Israel, organizando-se em uma sociedade tribal.

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