terça-feira, 28 de dezembro de 2010


O vazamento de lama tóxica provocado pelo acidente em uma indústria na Hungria chegou ao Rio Danúbio, um dos principais da Europa, e pôs em alerta seis países do Leste Europeu. Para as centenas de moradores das cidades atingidas, a lama significaria simplesmente o fim de seus vilarejos, já que a contaminação levará décadas para se dissipar e o governo anuncia que não faz sentido reconstruir as casas nos mesmos locais.

Segundo as autoridades, a taxa de alcalinidade da água no segundo maior rio europeu é superior à normal e ameaça o ecossistema do Danúbio. Os vizinhos da Hungria, porém, afirmam que ainda não detectaram contaminação de seus territórios.

A análise na confluência do Rio Raba com o Danúbio mostrou ontem uma taxa de pH entre 8,96% e 9,07% , acima do nível considerado aceitável, de 8%. Entidades ambientalistas como o Greenpeace já classificam o desastre como um dos três piores da Europa nos últimos 30 anos e alertam que não se pode dizer ainda qual será o real impacto para a fauna da região. Para a Comissão Internacional de Proteção do Danúbio, o temor é de que o desastre possa ter um impacto ambiental que será sentido ainda por anos na região.

Em Bruxelas, o desastre é um sinal da persistente divisão da União Europeia. De um lado, países ocidentais com alta tecnologia e controle ambiental e, de outro, o Leste Europeu que, depois de anos de desastres naturais abafados durante os regimes comunistas, ainda sofre para adaptar-se.

A limpeza na Hungria pode demorar um ano e custar mais de 7,8 milhões de euros. Ontem, equipes tentavam diluir a lama tóxica para evitar que a poluição no Danúbio fosse ainda maior. Mas no meio da tarde de ontem, equipes já identificaram peixes mortos em afluentes do Danúbio, como o Raba e Mosoni. No Rio Marcal, as autoridades indicaram que "a vida tinha sido extinta". No Danúbio, porém, apenas alguns locais registraram a morte de peixes.

O porta-voz da equipe do governo húngaro responsável pela limpeza dos locais afetados, Tibor Dobson, afirmou ao Estado, por telefone, que, até o início da noite de ontem, nenhum metal pesado foi identificado nas fontes de água potável da região do Danúbio. Mas evitou declarar a situação como uma "vitória" e insistiu que não há como medir, até agora, a real dimensão do desastre. Argumentou que os níveis de pH da água na nascente do Danúbio estavam sendo reduzidos a taxas que poderiam evitar que o desastre ecológico se espalhasse para outros países. Para isso, a estratégia era a de jogar no Raba produtos como ácido acético. "Os principais esforços estão concentrados em salvar os Rios Raba e Danúbio", confirmou.

Para Marton Vay, do Greenpeace, a questão não é apenas a ameaça aos ricos, mas a contaminação das terras e das reservas de água.

Os governos da Croácia, Sérvia, Bulgária, Moldávia, Ucrânia e Romênia foram postos em alerta. Bruxelas também teme pelas águas do Mar Negro, onde desemboca o rio. Nebojsa Pokimica, vice-ministra de Meio Ambiente da Sérvia, confirmou ontem que passou a monitorar a cada duas horas a qualidade das águas do Danúbio em seu território. Os governos afetados e a UE iniciaram uma campanha de informação ontem e enviaram ambulâncias aos locais, além de apelar para que as pessoas não comam os peixes da região.

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