sexta-feira, 10 de julho de 2009



A crise que o socialismo atravessava parecia prenunciar a falência do bloco soviético. Naquele finalzinho de década, os Estados Unidos apareciam diante do mundo como os vencedores da Guerra Fria, como a única superpotência, aquela que deveria ter a voz decisiva na consolidação da nova ordem mundial que surgia em meio aos escombros do muro de Berlim.

Inicialmente, a proposta de reunificação das Alemanhas não foi bem recebida pela França, Grã-Bretanha e outros países europeus, que temiam o ressurgimento da grande potência germânica, berço do nazismo e de ambições históricas de hegemonia sobre a Europa. Dentro da própria Alemanha Ocidental, a oposição argumentava que o lado capitalista teria de arcar com um preço muito alto para modernizar as empresas obsoletas e adaptar as estruturas sociais da Alemanha Oriental.

Com o apoio dos Estados Unidos, a potência germânica renascia no coração de uma Europa perplexa e preocupada.

A União Soviética ainda era uma potência militar, mas já não possuía a estatura de uma superpotência, o líder Mikhail Gorbatchev era acusado de traidor por seus adversários.
A Nova Ordem Mundial também é um conceito sócio-econômico-político que faz referência ao contexto histórico do mundo pós-Guerra Fria. Foi utilizada pelo presidente norte-americano Ronald Reagan na década de 1980, referindo-se ao processo de queda da União Soviética e ao rearranjo geopolítico das potências mundiais.
A Nova Ordem Mundial foi o que o presidente Bush chamou de ordem multipolar, onde novos pólos econômicos estavam surgindo, entre eles, Japão, China, Rússia e União Européia. Quando deu início a nova ordem mundial, a rivalidade entre os sistemas econômicos opostos, a classificação dos países em 1º, 2º e 3º mundo e a ordem bipolar, EUA e URSS, deixaram de existir.

A nova ordem mundial implica a revisão dos conceitos tradicionais que, por décadas, serviram para explicar a organização geopolítica e geoeconômica do espaço mundial.

O deslocamento da natureza do poder dos arsenais nucleares e convencionais para a eficácia, produtividade e influência das economias constituiu um dos mais notáveis fenômenos que acompanharam a dissolução da ordem da Guerra Fria.

A multipolaridade do poder global substituiu a rígida geometria bipolar do mundo do pós-guerra. A internacional
ização dos fluxos de capitais e a integração dos fluxos de capitais e a integração das economias nacionais atingiram um patamar inédito. Como conseqüência, os pólos de poder da nova ordem mundial apresentam contornos supranacionais. Delineiam-se megablocos econômicos organizados em torno das grandes potências do fim do século.

A nova ordem mundial ergueu-se sobre uma revolução tecnocientífica que reorganiza o alocamento dos capitais no espaço geográfico. A crise das velhas regiões urbanas e industriais desenvolve-se paralelamente à emergência de eixos de crescimento econômico apoiado em novas tecnologias industriais, nas finanças e nos serviços. Nesse movimento, a pobreza dissemina-se por toda a superfície do globo, avançando sobre as fronteiras do Primeiro Mundo e instalando-se no coração dos Estados Unidos e da Europa ocidental. No mundo todo, microespaços de prosperidade convivem com cinturões envolventes de pobreza e desemprego. Vastas regiões da África Subsaariana, América Latina e Ásia meridional conhecem as tragédias associadas à miséria absoluta.

A nova ordem mundial não é mais estável ou segura que a ordem da Guerra Fria.

Se o espectro da catástrofe nuclear parece ter sido afastado, novos demônios tomaram-lhe o lugar.

A emergência dos nacionalismos e da hostilidade étnica, o ressurgimento do racismo e da xenofobia e a multiplicação dos conflitos localizados evidenciam a componente de instabilidade introduzida pela decadência das velhas super-potências. O século vindouro não promete um mundo melhor para se viver que o século que se encerra".

O governo de Moscou, assim como as outras potências, esboçara um tímido protesto à invasão norte-americana no Panamá, em dezembro de 89.
Oficialmente, os Estados Unidos invadiram o Panamá para depor e prender o general Manoel Noriega, homem-forte do país, acusado de ser um narcotraficante. Ironicamente, Noriega tinha uma vasta folha de serviços prestados à CIA, a Agência Central de Inteligência, durante os anos 70.
Do ponto de vista geopolítico, a invasão tinha motivos mais consistentes. No dia 1º de janeiro de 1990 venceria o prazo para que os Estados Unidos entregassem ao governo panamenho o controle administrativo do Canal do Panamá, que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico. A Casa Branca não estava disposta a cumprir o prazo, estabelecido num acordo em 1977. O Canal do Panamá, além de sua importância econômica, tinha um forte significado estratégico, como base do Comando Sul do Exército dos Estados Unidos.

Na época da Guerra Fria, o Comando Sul tinha como missão lutar contra o avanço comunista na América Central. Depois que o comunismo deixou de ser uma ameaça a Washington, o combate ao narcotráfico passou a ser a justificativa norte-americana para manter a base e o controle sobre o Canal do Panamá.

No final dos anos 80 e início dos 90, os Estados Unidos adotaram o combate ao narcotráfico como a nova bandeira de luta do "bem contra o mal". Em nome dela, os norte-americanos procuravam justificar ingerências na América Latina, especialmente no Brasil, Colômbia, Bolívia, Peru e Equador. Enfim, nos países da região da Amazônia internacional, uma reserva natural estratégica que, sem dúvida, será de importância crucial no próximo século.
Mas foi durante a crise do Golfo Pérsico que os Estados Unidos consolidaram seu novo papel no cenário mundial. Em agosto de 1990, o ditador iraquiano Saddam Hussein ordenou a invasão e ocupação do vizinho Kuwait, sob a alegação de que historicamente o pequeno país fazia parte do Iraque. O presidente norte-americano, George Bush, reagiu energicamente.

A crise no Golfo Pérsico evidenciava a nova postura diplomática dos Estados Unidos.

Naquele momento, já estava evidente que a Casa Branca tinha nas mãos o poder de articular todas as iniciativas na defesa de seus interesses.

Nos tempos da Guerra Fria, as principais questões mundiais eram decididas pelo Conselho de Segurança da ONU, um âmbito de decisões em que Moscou e Washington exercitavam seu poder de veto de acordo com o vai-e-vem das tensões entre as superpotências. Na crise do golfo, esse jogo já não existia. Os Estados Unidos tomavam todas as iniciativas.
Entre o a invasão do Kuwait, em agosto de 90, e o fim do prazo para a retirada dos iraquianos, em janeiro de 91, o presidente Bush enviou 500 mil soldados americanos ao Golfo Pérsico. Durante cinco meses, as TVs, revistas e jornais dos Estados Unidos e de todo o mundo ocidental veicularam fotos e imagens dos soldados americanos despedindo-se da família no embarque com destino à área de conflito. A mesma coisa não ocorria com o outro lado, o lado humano dos soldados árabes, que pouco era mostrado.

"Essa operação de encobrimento da face humana dos árabes correspondeu a uma estratégia dos Estados Unidos. Depois que o comunismo acabou, os Estados Unidos precisavam convencer o mundo de que havia um novo inimigo universal, um novo representante das potências do mal, um novo Satã. A Guerra do Golfo forneceu essa oportunidade aos americanos, quando Saddam Hussein foi apresentado como representante do Islã, uma religião de fanáticos, uma religião que queria destruir o Ocidente, que queria reeditar o nazismo.
Foi dessa forma que os norte-americanos pretenderam convencer o mundo de que os Estados Unidos, a grande potência vencedora da Guerra Fria, era também a guardiã dos valores democráticos, dos valores ocidentais." José Arbex Jr. jornalista

O ataque contra o Iraque começou na noite de 16 para 17 de janeiro de 1991. Durante quarenta dias, mísseis disparados de aviões americanos encheram de luz os céus de Bagdá, a capital iraquiana. Calcula-se que só na primeira semana as forças dos Estados Unidos tenham despejado sobre Bagdá uma quantidade de bombas equivalente a sete vezes a potência da bomba que destruiu a cidade japonesa de Hiroshima, em 1945.

Apesar da transmissão ao vivo e da violência dos bombardeios, os telespectadores pouco viram cenas de morte. Na época, surgiu a versão de que as armas utilizadas nunca erravam o alvo, de que atingiam objetivos militares com grande precisão, poupando vidas humanas.
Hoje, sabe-se que morreram cerca de 170 mil iraquianos na Guerra do Golfo, a maioria civis. É natural que os Estados Unidos fizessem todo o possível para manter a opinião pública a seu favor. Todos os governos fazem isso em tempo de guerra. Mas é importante observarmos a facilidade com que a versão norte-americana, de uma "guerra sem sofrimento", foi aceita pela opinião pública mundial, em particular a dos próprios Estados Unidos.
Afinal, a mobilização da opinião pública americana havia sido decisiva para a derrota dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, no final dos anos 60. E, duas décadas depois, recebia como heróis os soldados de uma guerra violenta e desigual. Qual a razão de uma mudança de comportamento tão profunda ? A resposta a essa questão é importante, porque permite estabelecer alguns aspectos fundamentais da ordem mundial no pós-Guerra Fria.

Durante a Guerra Fria, havia um claro choque entre dois sistemas de valores econômicos, políticos, sociais e ideológicos. Nos anos 60, a juventude questionou todos os valores, tanto os socialistas quanto os capitalistas. O discurso pela paz e contra a guerra, contra o racismo e contra a hipocrisia indicava um caminho novo. Mas nos anos 70 e 80 as propostas pacifistas perderam a força. Os grupos de rock, as drogas e o sexo tornaram-se uma grande indústria lucrativa. Perderam o seu caráter de protesto. A humanidade ingressou na década de 80 imersa numa grande crise de valores.

Assim, no final dos anos 80 a visão neoliberal já era dominante no mundo ocidental. O fim do socialismo acentuou a força do neoliberalismo. O capitalismo aparecia como o grande vencedor, como a forma ideal de organizar a vida, a política e a economia do planeta. A própria realidade mundial, no entanto, desmentia esse otimismo e fazia do neoliberalismo um sintoma da impotência do ser humano diante da crescente miséria no mundo, causada pelas desigualdades, pelas injustiças e pelas guerras. Foi nesse contexto de tendência neoliberal que as disputas econômicas se multiplicaram, com a formação ou consolidação dos blocos econômicos nos anos seguintes ao fim da Guerra Fria.

Em junho de 91, os Estados Unidos lançaram uma ofensiva em seu comércio exterior com a "Iniciativa Para as Américas", um plano que pretendia criar um mercado unificado do Alasca à Terra do Fogo.

Em 93, os Estados Unidos ganharam mais motivos concretos para se preocupar. Em 1º de janeiro daquele ano, foi criada a União Européia, uma zona de livre comércio entre os antigos países-membros da Comunidade Econômica Européia. No outro lado do mundo, o Japão e os Tigres Asiáticos, como eram conhecidos Hong Kong, Taiwan, Coréia do Sul, Cingapura e Malásia, constituíam outro pólo em plena expansão, com que os Estados Unidos vinham mantendo relações comerciais tensas desde o final dos anos 80. Apenas o continente africano estava fora das grandes disputas comerciais, com a exceção de alguns países ricos, como a África do Sul.

Diante dessa conjuntura, os Estados Unidos, especialmente após a Guerra do Golfo, sentiram-se à vontade para determinar os rumos da política internacional.

A Rússia não foi integrada a nenhum bloco econômico. Em primeiro lugar, ela se tornou o país-líder da CEI, a Comunidade de Estados Independentes, formada depois da dissolução da União Soviética. A Comunidade constituiu-se num grande mercado para Moscou, mesmo não sendo uma zona de livre comércio. Os países da CEI dependiam do petróleo, de manufaturados e de várias matérias-primas para a indústria e o comércio, todos produtos oferecidos pela Rússia.

Em dezembro de 1992, a Casa Branca determinou a invasão da Somália, com autorização da ONU. Oficialmente, o objetivo era prestar ajuda humanitária a um dos países mais miseráveis do mundo, envolto em uma guerra civil.

Havia, no entanto, o outro lado da questão: a Somália controla a entrada do Golfo de Áden, passagem para o Mar Vermelho e o Canal de Suez. Este, por sua vez, liga o Oceano Índico ao Mar Mediterrâneo. Uma rota de importância mundial estratégica, por servir os petroleiros que abastecem o Japão, a Europa e os Estados Unidos.

A guerra contra o Iraque, em 91, já havia permitido a Washington o controle militar sobre o Golfo Pérsico. Com a invasão da Somália, os Estados Unidos completavam seu domínio sobre a região. A invasão da Somália teve também uma importância simbólica: ela consagrou o poder dos Estados Unidos de intervir em qualquer ponto do planeta, bastando que esse tipo de operação fosse de interesse da Casa Branca.
Ações norte-americanas em outros países não eram novidade. O fato novo é que, na condição de única superpotência do planeta, os Estados Unidos passaram a agir sem encontrar resistências internacionais muito significativas. E, nos anos 90, as operações em solo estrangeiro determinadas por Washington foram bem além da Somália. Também no Oriente Médio os Estados Unidos agiram livremente.

Bill Clinton, em setembro de 93, fez pressões pela conclusão de um acordo entre Israel e a OLP, Organização para a Libertação da Palestina. O objetivo era assegurar alguma estabilidade geopolítica duradoura na região.

Em julho de 94, a Casa Branca voltou suas atenções para a América Central e desembarcou suas tropas em Porto Príncipe, capital do Haiti.

Mais uma vez autorizados pela ONU, os norte-americanos queriam remover o governo militar e reinstalar o presidente eleito Jean-Bertrand Aristide, deposto por um golpe militar em 1991. Além das razões de inspiração humanitária e democrática, os Estados Unidos agiam em busca de uma solução para o problema social criado pelos refugiados haitianos em solo americano.

Os Estados Unidos foram também a força decisiva na intervenção da ONU na guerra civil da Bósnia, no final de 95. Através da OTAN, Washington praticamente impôs um acordo às forças sérvias, muçulmanas e croatas, em conflito desde 91. O acordo não resolveu nenhum dos problemas que provocaram a guerra, mas pacificou a região e reforçou a campanha de Bill Clinton à reeleição, no final de 96.

No final de fevereiro de 98, os Estados Unidos suspenderam na última hora o início de um novo conflito armado no Golfo Pérsico. Os norte-americanos, apoiados especialmente pela Grã-Bretanha do primeiro-ministro trabalhista Tony Blair, mobilizaram quatro porta-aviões, 27 mil homens e 372 aviões para a região. A perspectiva era de usar a força para obrigar o ditador iraquiano Saddam Hussein a permitir o trabalho de emissários da ONU, que inspecionavam o Iraque em busca de armas químicas e nucleares proibidas. O ataque dos norte-americanos e aliados foi evitado pela atuação diplomática do secretário-geral da ONU, o ganês Kofi Annan.
Nos últimos dias de fevereiro, Annan convenceu Saddam a permitir o livre trânsito dos inspetores da ONU em seu território. Neste episódio, Washington enfrentou a resistência da França, da China, dos países árabes e particularmente da Rússia de Bóris Ieltsin. Esses países procuraram dissuadir os Estados Unidos a resolver diplomaticamente a questão. E, em último caso, a limitar os bombardeios somente aos locais suspeitos de abrigar as armas proibidas pelas Nações Unidas.
Em momentos de crises de valores, uma retórica política forte, agressiva e audaciosa, como a desenvolvida pelos Estados Unidos, tem uma forte capacidade de sedução. Nesse sentido, a multiplicação de imagens de poder torna-se uma nova forma de autoritarismo, revestida de democracia da informação. As tecnologias contemporâneas reforçam, a cada dia, o consumo das imagens, seja por meios tradicionais, como a televisão e o cinema, seja por redes de computadores e máquinas virtuais.

É de extrema importância que nossa atenção esteja voltada para isso. Nossa reflexão sobre os conceitos que estão por trás das imagens é fundamental para que a nossa conscientização, a conscientização da opinião pública, seja uma importante ferramenta de construção de uma sociedade mais harmoniosa e com melhor qualidade de vida no século XXI.




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