segunda-feira, 3 de agosto de 2009


Fundamentalismo



Designa-se assim todo e qualquer movimento religioso, de qualquer que seja a religião, que tende a interpretar a realidade de hoje através dos olhos de antigos preceitos religiosos e que renega os valores da modernidade. Para o fundamentalista o fiel deve seguir à risca as páginas dos textos sagrados da sua religião. As Escrituras (sejam elas a Bíblia, o Talmude, o Corão, ou o Hadith dos hindús) foram traçadas por Deus, logo devem ser interpretadas como a Sua vontade.


Naturalmente que os fundamentalistas não aceitam o criticismo, isto é, o movimento intelectual teológico moderno (pelo menos desde Spionza para cá) que diz que elas, as palavras sagradas, devem ser interpretadas de acordo com a época e as circunstâncias em que foram escritas e que abrigam uma enorme distância da realidade atual.Portanto, fundamentalismo é tomar as palavras sagradas em seus fundamentos, integralmente, “retornar aos artigos fundamentais da fé” sem nenhuma alteração, sem nenhuma concessão.


O fundamentalismo americano surgiu no século passado nos Estados Unidos, na medida em que a sociedade americana passava por um acelerado processo de modernização e rápida alteração de hábitos e costumes. A expansão da modernidade, da democracia e do liberalismo, e a adoção da concepção darwiniana da natureza trouxeram um afrouxamento dos costumes religiosos e uma aceitação prazerosa da modernidade, cultivando a civilização do conforto. As mulheres iniciaram a sua emancipação, os jovens deixavam cedo sua casa para tratar de levar uma vida independente e os divertimentos se multiplicavam.


Foi contra isto tudo que os fundamentalistas se ergueram fundando a WCFA (World’s Christian Fundamentals Association), em 1919. Os pastores das igrejas batistas, presbiterianas, episcopais e adventistas apontaram seu dedo acusador para o pecado da modernidade.

Defendiam, em substituição ao Milenarismo (que, apocalíptico, predizia o fim do mundo para breve), o chamado 2º Advento de Cristo. Cristo estaria em breve entre nós. E, perguntavam eles, o que Cristo encontraria?


Os novos tempos estavam destruindo os valores mais profundos da comunidade religiosa. Corroíam as famílias, fazendo com que os fiéis abandonassem o culto semanal e adotassem modos de vida não condizentes com um verdadeiro cristão.


Era preciso retornar aos antigos costumes, aos antigos ensinamentos, apegar-se à Bíblia como a única salvação num mundo dominado pelo materialismo, pelo ateísmo e pelo descaso para com as coisas da fé. Desta forma Cristo, ao retornar, reconheceria a sua obra. Cabia pois aos pastores expulsar os vendilhões (os costumes modernos) do Templo.


Os fundamentalistas passaram pois a repelir todas as inovações nos costumes. Atribui-se a eles a aprovação da conhecida Lei Seca de 1920 que proibiu a bebida alcoólica nos EUA.Depois de alguns anos em ocaso, eles voltaram revigorados devido ao cenário criado pela guerra fria (1947-1989) graças a sua militância anticomunista.


Vários pastores fundamentalistas alcançaram espaço nos meios de comunicação para doutrinar a população americana na luta contra o “Império do Mal”. Apoiados por crentes novos ricos e por direitistas endinheirados, estes pastores fundamentalistas exerceram enorme influência no quadro eleitoral americano, muitos deles tornando-se íntimos do poder, como foi o caso de Bill Graham.


Hoje, passada a guerra fria, os fundamentalistas americanos concentram-se na luta contra o direito ao aborto (cometeram vários atentados e assassinatos contra funcionários e médicos de clínicas de aborto), contra a Emenda de Emancipação da mulher, contra os direitos do homossexuais, e a favor da introdução da reza obrigatória nas escolas públicas. As bases deles são os Institutos da Bíblia e as cadeias de rádio e de televisão do interior do país, tendo como meta a preservação do mundo caipira, que eles pretendem puro, ainda não corrompido pela besta da modernidade urbana. No campo da idéias lutam para que as escolas ensinem o criacionismo, preso à interpretação literal do Gênesis bíblico, que afirma ser a natureza um ato de criação divina e portanto intocável pelo homem.


Neste campo seu inimigo é a teoria da evolução de Darwin que eles entendem como demoníaca.Quem mais lhes deu espaço, a autodesignada Maioria Moral, foi o presidente Ronald Reagan (1981-89) que os considerava úteis na mobilização anticomunista, e também como contra a as leis liberalizantes dos seus adversários do Partido Democrata.

Por extensão de sentido o termo "fundamentalismo" passou a ser usado por outras ciências para significar uma crença irracional e exagerada, uma posiçãodogmática ou até um certo fanatismo em relação a determinadas opiniões.

O catolicismo possui também seu tipo de fundamentalismo.

Apesar de considerar-se o integrismo com um sinônimo do fundamentalismo, eles têm origens diferentes. Se o fundamentalismo, como expressão do radicalismo protestante, difundiu-se nos EUA a partir dos anos vinte, o integrismo vem da Espanha do século 19 e hoje, seus ativistas, rejeitam as relações da Igreja Católica com o mundo moderno estabelecidas pelo Concilio Vaticano II.


Ele vem sob o nome de Restauração e Integrismo. Procura-se restaurar a antiga ordem, fundada no casamento (incestuoso) do poder político com o poder clerical. Visa-se uma integração de todos os elementos da sociedade e da história sob a hegemonia do espiritual representado, interpretado e proposto pela Igreja Católica (seu corpo hierárquico encabeçado pelo Papa). O inimigo a combater é a modernidade, com suas liberdades e seu processo de secularização. Expressões do Integrismo é modernamente o Cardeal Josef Ratzinger, presidente da antiga Inquisição, que sustenta ainda a tese de que a Igreja Católica é a única Igreja de Cristo, também a única religião verdadeira, fora da qual não todos correm risco de perdição. Ou o arcebispo Marcel Lefebvre, que fundou sua Igreja paralela, considerada a fiel detentora da Tradição e da fé verdadeiras. Características fundamentalistas se encontram também em setores importantes do pentecostismo, também católico e nas igrejas evangelicais populares.

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