segunda-feira, 16 de agosto de 2010


A versão HQ sobre a vida de Ernesto Che Guevara , é um dos atrativos editoriais para pôr no mercado a biografia do guerrilheiro publicada há mais de 40 anos na Argentina.
O relevante é que o lançamento marca a estréia no Brasil do escritor argentino Hector G. Oesterheld, inexplicavelmente adiada por mais de meio século, o "inexplicável" é por ele ser visto como o principal roteiristas de quadrinhos do país vizinho e um dos mais destacados das Américas, mesmo assim, permanecia inédito por aqui.

"Che - Os Últimos Dias de um Herói" (Conrad, 98 págs.) foi lançada na Argentina três meses após o assassinato do líder guerrilheiro, em 9 de outubro de 1967, na Bolívia.

A obra é narrada alternando diferentes momentos da vida de Che,da infância ao surgimento das idéias de igualdade social, do idealismo ao engajamento armado.
Uma parte relata como teriam sido os bastidores do golpe que pôs Fidel Castro à frente do governo cubano. Guevara teve importante papel nesse processo de tomada de poder.

O relato visual é feito por dois desenhistas, Alberto e Enrique Breccia (pai e filho).

O Breccia pai era parceiro de Oesterheld em outros trabalhos. Criaram juntos séries como "Sherlock Time" e "Mort Cinder" na virada das décadas de 1950 e 60.
O desenhista era conhecido pelo uso do preto e do branco em suas produções, o estilo influenciou outros profissionais de quadrinhos, não só argentinos, o norte-americano Frank Miller, autor da série "Sin City", é um dos que assumem publicamente a herança de Breccia.


O Breccia filho talvez seja mais conhecido dos leitores de quadrinhos por ter desenhado séries norte-americanas já publicadas no Brasil, como a do Monstro do Pântano.
Hoje com 63 anos, revelou ao jornalista Pedro Cirne, em matéria da "Folha de S.Paulo", que ele e o pai desenharam roteiros diferentes. Só depois viram a obra reunida.


"Nenhum de nós leu o roteiro do outro até termos terminado o livro. Na realidade, nos vimos apenas uma ou duas vezes no decorrer do trabalho", disse, na reportagem da Folha.

"Acho que ele [Oesterheld] agiu assim para diferenciar completamente as duas partes da história, sem que por isso perdessem a unidade."

Enrique Breccia é o único dos três autores ainda vivo.

O pai morreu em 1993, e tem (Braccia pai) no currículo o fato de ter enterrado uma dos exemplares originais da obra, proibida pelos militares, foi dessa versão que foram feitas as republicações. A última é de 2007.

Integrou o último volume da "Nueva Biblioteca Clarín de la Historieta", coleção com clássicos dos quadrinhos universais vendida e publicada pelo jornal portenho "Clarín".

Oesterheld morreu supostamente em 1977, a incerteza é porque não se consegue precisar a data exata, sabe-se apenas que foi vítima dos militares, ele, as quatro filhas, os genros.
Tal qual a figura real que biografa, Oesterheld tinha um lado militante e crítico à ditaduta.


A biografia de Che já fazia parte de uma segunda fase das obras dele, bem mais politizada, um ano depois de Che, produziu em quadrinhos a história de Evita Peron, na década seguinte, uma continuação nitidamente politizada de "El Eternauta", sua principal obra e ainda o maior clássico argentino.
Mas corrige uma injustiça de longa data, que é a ausência dos trabalhos de Oesterheld em solo brasileiro, há muito, muito mais da mesma fonte.

Uma dos discursos prontos sobre a história dos quadrinhos é que a Europa deu um olhar mais adulto aos quadrinhos a partir dos anos 1960, Oesterheld já fazia isso na Argentina na metade da década anterior.
Que seja, enfim, tardiamente descoberto pelos brasileiros.

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