sábado, 20 de novembro de 2010


Aung San Suu Kyi


"Se o meu povo não está livre, como posso dizer que estou livre? Ou estamos livres juntos ou não estamos livres”, disse Suu Kyi.

A ativista Aung San Suu Kyi, de 65 anos, passou a maior parte dos últimos 21 anos sob alguma forma de detenção, em consequência de sua campanha para restaurar a democracia em Mianmar, país governado por uma junta militar.

Em 1991, um ano depois de seu partido, a Liga Nacional pela Democracia (LND) ter obtido uma vitória esmagadora nas urnas, em um pleito anulado pela junta, ela foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz.

Impedida de participar das primeiras eleições de Mianmar em duas décadas, realizadas em novembro de 2010, Suu Kyi é um símbolo de esperança para muitos em Mianmar.

Aung San Suu Kyi é filha do herói da independência do país, general Aung San.

Ele foi assassinado durante o período de transição, em julho de 1947, seis meses após a independência.

Aung San Suu Kyi tinha apenas 2 anos à época.

Em 1960, ela foi para a Índia com sua mãe, Daw Khin Kyi, que havia sido nomeada embaixadora em Nova Déli.

Quatro anos depois, foi cursar a Universidade de Oxford, no Reino Unido, onde estudou filosofia, política e economia. Lá, conheceu seu futuro marido, o acadêmico Michael Aris.

Após períodos vivendo e trabalhando em Japão e Butão, passou a viver na Inglaterra, onde criou seus dois filhos, Alexander e Kim.

Mas Mianmar nunca esteve longe de seus planos. Quando ela voltou a Yangun, em 1988, para cuidar da mãe doente, Mianmar passava por um período político turbulento.

Milhares de estudantes, trabalhadores e monges saíam às ruas para pedir reformas democráticas.

"Eu não poderia, como filha de meu pai, ficar indiferente a tudo que acontecia", disse ela, em discurso em Yangun no dia 26 de agosto de 1988.

Suu Kyi foi rapidamente alçada à categoria de líder de uma revolta contra o então ditador general Ne Win.

Inspirada pelas campanhas dos líderes de defesa dos direitos civis Marting Luther King, nos EUA, e Mahatma Gandhi, na Índia, ela organizou comícios e viajou pelo país, pedindo reforma democrática pacífica e eleições livres.

Mas as manifestações foram brutalmente reprimidas pelo Exército, que tomou o poder em um golpe no dia 18 de setembro de 1988.

O governo militar convocou eleições nacionais em maio de 1990.

A LND de Aung San Suu Kyi venceu o pleito, apesar do fato de ela estar sob prisão domiciliar, e ter sido impedida de participar da votação.

Mas a junta se recusou a entregar o poder, e permanece no controle do país desde então.

Prisão domiciliar

Suu Kyi permaneceu sob prisão domiciliar em Yangun por seis anos, até ser libertada em julho de 1995.

Ela foi posta sob prisão domiciliar novamente em setembro de 2000, quando tentou viajar para a cidade de Mandalay, desafiando restrições a viagens impostas a ela pela junta.

Foi libertada incondicionalmente em maio de 2002, mas após um ano, foi novamente detida, após um choque entre seus partidários e uma multidão apoiada pelo governo.

Ela obteve permissão para voltar para casa, mas foi posta, novamente, sob prisão domiciliar, onde permanecia desde então.

Durante períodos de confinamento, Suu Kyi ocupa seu tempo estudando e se exercitando.

Ela pratica meditação, estuda francês e japonês, e relaxa tocando Bach ao piano.

Nos últimos anos, conseguiu encontrar outros integrantes da LND e diplomatas aprovados pelo governo.

Mas nos seus primeiros anos de detenção, ela esteve quase sempre submetida a um confinamento solitário. Não tinha permissão para ver seus dois filhos ou seu marido, que morreu de câncer em março de 1999.

As autoridades militares do país permitiram que ela viajasse para a Grã-Bretanha quando ele estava gravemente doente, mas ela se sentiu obrigada a recusar a oferta, porque temia não obter autorização para voltar ao país.

Ela tem netos que nunca conheceu.

'Não se pode impedir a liberdade'

Nos últimos meses, Suu Kyifoi criticada por várias pessoas, devido à sua decisão de boicotar as eleições de novembro, as primeiras de Mianmar em 20 anos.

A LND afirmou que as leis eleitorais eram injustas, e decidiu não participar do pleito. Sob as novas leis eleitorais, a liga teve então que se desmantelar.

Mas um grupo de integrantes da liga formou um novo partido para participar das eleições, afirmando que ter alguma representação no novo Parlamento seria melhor do que não ter alguma.

As eleições descritas como "nem livres nem justas" pelo presidente dos EUA, Barack Obama aparentemente deixaram os partidos apoiados pelos militares firmemente no controle do país.

Este fato deu origem a especulações de que ela poderia ser libertada em breve. Ela disse que não aceitaria uma libertação se fossem impostas restrições a suas atividades.

Suu Kyi sempre afirmou que a prisão a deixava mais segura de sua determinação de dedicar sua vida a representar o cidadão comum birmanês.

Em uma rara entrevista em 2007 durante o levante que foi reprimido pelos militares, ela afirmou que a democracia
"não tinha terminado em Mianmar".

"Não importa a força física do regime, no final eles não podem parar as pessoas, eles não podem impedir a liberdade",
disse ela a o jornalista britânico John Pilger.
"Nossa hora vai chegar".

“Se quisermos ter o que queremos, precisamos fazer as coisas da forma correta. Caso contrário não atingiremos nosso objetivo, independentemente de ele ser nobre ou correto”, disse.

“Eu sou a favor da reconciliação nacional. A favor do diálogo. Qualquer autoridade que eu possua, usarei com esses objetivos. Espero que as pessoas me apoiem”, acrescentou.

Suu Kyi foi recebida no QG de seu partido com aplausos. Ela disse não guardar rancor daqueles que a detiveram por mais de 15 dos últimos 21 anos, acrescentando que, durante esse período, foi bem tratada. Apesar disso, ela pediu para que seus simpatizantes rezassem por aqueles que ainda estão presos. Grupos de direitos humanos afirmam que o governo de Mianmar detém mais de 2.200 prisioneiros políticos.

Ao comentar o período de isolamento da prisão domiciliar, ela afirmou que “sempre se sentiu livre por dentro”, embora durante anos tenha ouvido somente a um rádio.
“Gostaria de ouvir vozes humanas.”

A libertação da ativista ocorreu apenas alguns dias depois de uma eleição vencida pelo partido da junta militar e considerada uma farsa pelas nações ocidentais. Muitos analistas questionaram inclusive se a libertação de Suu Kyi não teria sido uma estratégia das autoridades de Mianmar para desviar o foco das eleições.

O diplomata dos Estados Unidos em Mianmar, Larry Dinger, esteve entre um grupo de representantes que se encontraram com Suu Kyi ontem. Ele também a havia visitado na prisão domiciliar. “Ela deixou claro que é uma política pragmática que quer encontrar soluções pragmáticas para os problemas de seu país”, disse.

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