sábado, 20 de novembro de 2010


Fundadora e líder do movimento Damas de Branco denuncia repressão brutal em Cuba

Há sete anos e quatro meses, Laura Pollán desfilou pela primeira vez vestida de branco pela Quinta Avenida de Havana. Acabavam de condenar a 20 anos de prisão seu marido, o opositor Héctor Maseda, durante os famosos julgamentos sumários da primavera de 2003. Em poucos dias, 75 dissidentes pacíficos foram condenados a penas de até 28 anos de prisão por "conspirar com os EUA", coisa que eles sempre rejeitaram.
"Foi terrível, não sabíamos o que estava acontecendo, mas as mulheres e mães dos presos dissemos: 'Temos de fazer alguma coisa'."

Nem Laura nem qualquer de suas companheiras de infortúnio poderia supor então que aquele protesto quase instintivo se cristalizaria no movimento das Damas de Branco, cujo ativismo foi decisivo para chegar ao atual processo de libertações decretado por Raúl Castro. Segundo foi anunciado em 7 de julho pela Igreja Católica, como mediadora diante do governo, os 52 membros do grupo dos 75 que permaneciam presos serão libertados e poderão viajar para a Espanha antes de quatro meses. Vinte já o fizeram.

"Isto foi o mérito de muitos e, em primeiro lugar, do sacrifício de Orlando Zapata", afirma Pollán. À "comoção" provocada pela morte desse preso de consciência, depois de 85 dias em greve de fome, seguiu-se a "brutal repressão" às Damas de Branco e o jejum de 135 dias do opositor Guillermo Fariñas. "Tudo isso, junto com a mediação da Igreja, o interesse da comunidade internacional e a crítica situação de Cuba, levou o regime a ceder", acredita Laura.

Ela diz que a libertação dos presos é um "primeiro passo positivo", mas não "representa uma nova etapa" em Cuba. "Agora estamos no caminho de abrir uma nova etapa", relativiza essa professora de 62 anos, que propõe olhar para a frente "sem ódios", mas "sem ser ingênuos". "Ainda faltam muitas coisas para fazer", declara.

Ainda estão presos 32 membros do grupo dos 75. Quando serão libertados?, pergunto. "Continuaremos desfilando." Até quando? "Enquanto restar um só preso político pacífico." E se libertarem todos, como promete o governo, na categoria de presos políticos "pacíficos", segundo Laura, há cerca de 60? "Bem, então veremos..."

O mapa do caminho de Pollán é amplo: "É preciso mudar leis para que não haja mais presos por divergir do discurso governamental; é preciso realizar mudanças econômicas; é preciso respeitar os direitos civis, muitas coisas..." Ela critica a forma como ocorreram as primeiras libertações.
"Na realidade são deportações. Os presos não tiveram permissão nem para passar 24 horas em suas casas, despedindo-se dos familiares que não viajam com eles."

Ela colocou essa "inquietação" para a Igreja. E também o que acontecerá com os que não querem deixar o país. Uma dezena de presos já disse que deseja ficar em Cuba ou viajar diretamente para os EUA, mas não para a Espanha. Um deles é Maseda, mas Laura esclarece:
"Se Héctor quiser ir, por mim está bem, mas eu fico. As Damas de Branco são a minha vida, e continuarei aqui enquanto puder ajudar".

Neste momento, quando tanto se fala do que a UE e Washington devem fazer, ela é cautelosa: "Ainda não é o momento de eliminar a Posição Comum, mas tanto a UE como os EUA deveriam dar passos de aproximação, para ver o que o governo faz". Ela se pronuncia a favor do diálogo, mas "de um verdadeiro, que inclua a todos, e não de um monólogo". "A pressão, que pode levar à violência", para ela não é uma alternativa.

Apesar de tanto sofrimento, Laura não perdeu o senso de humor, felizmente. Pergunto-lhe quantos filhos tem. Um, ela responde. Héctor, de 67 anos, tem quatro com mulheres diferentes. "Eu sou sua sexta esposa e espero ser a última. Veja, se depois desses sete anos ele trocasse, seria para enforcá-lo." Agora falando sério, ela considera que o que está acontecendo com os presos é "uma pequena luz".
"É pequena, sim, mas temos de nos agarrar a ela."

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