quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

VIOLÊNCIA SEXUAL
Uma pesquisa divulgada ontem pela organização não-governamental Católicas pelo Direito de Decidir reacendeu a polêmica em torno dos padres que abusam sexualmente de mulheres e crianças.

A ONG analisou 21 casos de mulheres que acusam sacerdotes de estupro e 68 de crianças que se dizem violentadas por padres no Brasil. A pesquisa originou o livro Desvendando a Política do Silêncio, de 124 páginas, e foi debatido em São Paulo por antropólogos, sociólogos, teólogos e membros da Igreja Católica. A publicação faz acusações de toda ordem contra a Igreja Católica. Diz que os bispos encobrem os crimes sexuais cometidos por padres contra mulheres, protegem os agressores e ainda silenciam as vítimas.
Dos 21 casos sob análise envolvendo mulheres, 17 eram sobre menores de 16 anos violentadas. Do total, apenas cinco originaram processos criminais. A pesquisa foi financiada pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher e é parte da tese de doutorado de Regina Soares Jurkewicz na Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Segundo Regina, todas as vítimas estudadas são mulheres pobres que mantinham vínculos de dependência com a paróquia. “Elas recebiam cestas básicas ou faziam trabalho de faxina na igreja ou na casa do padre”, diz. O levantamento também traçou o perfil dos padres que abusam de mulheres e crianças: têm entre 40 e 50 anos, geralmente são novatos na comunidade em que atuam e a maioria é professor universitário. “Eles têm boa aparência e são sedutores”, descreve Regina. “O que mais chocou a gente é que os bispos tomam conhecimento desses crimes e só fazem transferir o padre de paróquia. Tudo para evitar o escândalo. Na nova comunidade, o padre inicia seus trabalhos como se nada tivesse acontecido”, critica. As denúncias da pesquisa foram feitas pelas próprias vítimas, por parentes delas e, em num único caso, por uma ex-religiosa. “Em geral, quando se denuncia um padre acusado de abuso sexual em uma paróquia, logo aparecem outras denúncias”, afirma Regina. Na opinião dela, a violência que a mulher sofre após a denúncia é tão forte quanto o próprio abuso sexual. “Em muitos casos, a comunidade defende o padre e passa a culpar a vítima pelo crime”, atesta. “O padre que abusa tem uma proteção institucional que os outros homens não têm. Já a Igreja faz a escolha do silêncio, desqualificando a vítima e valorizando o agressor”, descreve. Uma das conclusões do grupo que debateu a pesquisa é que a exigência do celibato acaba empurrando alguns padres para o caminho da violência sexual contra mulheres e crianças. Um dos maiores especialistas em sexualidade e religiosidade no mundo, o psicoterapeuta norte-americano e ex-padre Richard Sipe, também defende essa tese. Em seu trabalho mais recente, Sipe entrevistou mais de 2 mil padres. Desse universo, 50% mantiveram o celibato, 30% já haviam praticado relações heterossexuais, 15% enveredaram para o caminho do homossexualismo e 4% tornaram-se pedófilos.
Desconfiança
Na América Latina, onde as denúncias contra padres ainda são bastante restritas, uma pesquisa de opinião feita no ano passado com 4,5 mil fiéis da Colômbia, Bolívia e México atestou que 70% dos católicos estão perdendo a confiança na Igreja por conta de denúncias de abusos sexuais cometidos por padres que são publicadas na imprensa. Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a pesquisa da ONG não corresponde à realidade. Para o presidente da Comissão Nacional dos Presbíteros, padre José Pietrobon Rotta, a entidade carregou nas tintas ao apresentar o resultado. “A CNBB não encobre casos de padres que cometem abusos sexuais. Nem nega que esses casos existam. Na verdade, não sabemos lidar com essa situação, que, para nós, é difícil, delicada e muito dolorosa”, afirma. Pietrobon, que coordena o braço da CNBB que congrega todos os presbíteros do Brasil, diz que nunca se espera que um padre cometa crime de abuso sexual. Mas ele lembra que “os sacerdotes são seres humanos normais e sujeitos a erros como qualquer pessoa”. Pietrobon faz questão de ressaltar que a Igreja nunca foi conivente com crimes de abusos sexuais. “Não encobrimos nada. Mas nós somos misericordiosos, como foi Jesus Cristo”, ressalta.

Fonte:www.sistemas.aids.gov.br/ - Ullisses Campbell

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