sexta-feira, 29 de maio de 2009

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL



Marcada como o primeiro grande conflito internacional da Era Contemporânea, a Primeira Guerra Mundial foi responsável por uma grande reviravolta. Os valores de racionalistas tão celebrados pelo século XIX, entraram em crise mediante o clima de contendas fomentadas pela intensa disputa econômica da fase concorrencial e financeira do capitalismo.

O capitalismo concorrencial do século XIX motivou o conflito entre diversas potências européias. O interesse em ampliar mercados e o domínio sobre regiões de interesse imperialista fez com que a Europa se transformasse em um verdadeiro barril de pólvora. A França desejava reconquistar a região da Alsácia-Lorena perdida para a Alemanha. Os grupos nacionalistas balcânicos indispunham-se com a dominação exercida pela Áustria e a Rússia. Ao mesmo tempo, as tensões diplomáticas entre Alemanha e Inglaterra pelo domínio de regiões afro-asiáticas pioravam essa situação.

Dessa forma, a frustração em torno das vias de negociação diplomática incentivou uma grande corrida armamentista entre as nações européias. O incentivo na compra e fabricação de armas agravou ainda mais as disputas econômicas, pois os grandes gastos no setor armamentista ampliavam a demanda por lucros e matéria-prima. Em meio a tantas animosidades, duas conferências ainda tentaram selar a paz entre as potências. Em 1898 e 1907, a cidade de Haia foi o lugar onde ainda tentaram vetar uma possível guerra.

Nesse período, as disputas também fortaleceram a criação de acordos de cooperação militar entre algumas nações da Europa. Na Convenção de São Petersburgo, em 1873, russos e alemães prometiam cooperação mútua em caso de agressão militar. Logo em seguida, os austríacos e italianos aproximaram-se desses dois países. Dessa forma, Alemanha, Áustria, Rússia e Itália pareciam formar um grupo de oposição frente a seus possíveis inimigos econômicos e militares.

Outro campo de disputas concentrava-se na região do Bálcãs. A opressiva dominação dos turcos na região era vista como uma grande oportunidade onde, através de um conflito armado, as nações industrialistas da Europa poderiam ampliar seus negócios. Foi quando em 1877, a Rússia, com apoio da Áustria, resolveu declarar guerra contra o Império Turco. Após derrotarem os turcos, os russos reconquistaram antigos territórios perdidos na Península Balcânica e a Áustria obteve controle sobre a Bósnia-Herzegovina.

A hegemonia russa na região reorganizou as alianças anteriormente firmadas. Em 1879, a Alemanha aliou-se secretamente à Áustria caso ocorresse uma invasão russa que, em troca, estaria livre de participar de um possível conflito entre a França e a Alemanha. No ano de 1882, o Tratado da Tríplice Aliança firmou um acordo de cooperação militar reunindo Alemanha, Áustria e Itália. Todas essas manobras sinalizavam que o mundo parecia ser “pequeno demais” frente a tantas nações ansiosas em firmarem sua supremacia econômica a qualquer custo.

No final do século XIX, a antiga hegemonia industrial inglesa começou a ser ameaçada. Os alemães conseguiram em um curto período formar um parque industrial que começou a superar a tradicional solidez industrial britânica. Sentindo-se ameaçados, os britânicos saíram de seu isolamento político-geográfico para firmarem acordos com a França. Após resolverem suas contendas, França e Inglaterra assinaram a Entente Cordial, em 1904. Tempos depois, a Rússia também se aproximou dos britânicos e franceses. A partir disso, estava formada a Tríplice Entente.

Dessa maneira, a Europa estava politicamente dividida entre os dois grandes acordos firmados na época. A Tríplice Entente e a Tríplice Aliança perfilavam a rivalidade num cenário bastante conturbado. A mobilização de potências em blocos preparou boa parte das condições necessárias para que ocorressem os conflitos da Primeira Guerra Mundial.

Após a queda do Império Turco-Otomano, um grupo de novas nações surgiu na Península Balcânica. Durante a definição de seus limites territoriais ocorreram sérios desentendimentos diplomáticos entre os Estados ali formados. Apoiada pelo Império Austro-húngaro, a Bulgária – em 1913 – acabou entrando em conflito contra a Sérvia, Romênia, Grécia e Montenegro. Nessa mesma época, os povos eslavos da Bósnia-Herzegovina, apoiados pela Sérvia, tentaram dar fim à dominação austro-húngara na região.

Para tentar contornar o conflito, o Império Austro-húngaro decidiu elevar a Bósnia-Herzegovina à condição de parte integrante de seu Estado. Foi quando o arquiduque Francisco Ferdinando, príncipe do Império Austro-Húngaro, foi até Sarajevo, capital da Bósnia, para anunciar a elevação política destes territórios. Porém, Francisco Ferdinando acabou vítima de um assassinato tramado pela facção nacionalista sérvia Mão Negra.

Em resposta, o Império Austro-Húngaro exigiu que o governo sérvio punisse duramente os autores do crime e reprimisse todas as facções radicais do país. Sem obter respostas satisfatórias o Império Austro-Húngaro decidiu, com o apoio da Alemanha, declarar guerra à Sérvia. A Rússia, contrária à ocupação austríaca, concedeu apoio aos sérvios. Logo em seguida, a Alemanha declarou guerra contra a Rússia e, posteriormente, contra a França.

Itália e Inglaterra não mostraram clara definição política frente aos conflitos. Porém, a força dos acordos diplomáticos firmados e os interesses econômicos obrigaram ambos os países a se envolverem na guerra iniciada. A generalização do conflito contou com a posterior adoção de outras nações, entre elas o Brasil. De forma geral, o conflito dividiu as potências européias em dois blocos: Tríplice Entente, formada por França, Inglaterra e Rússia; e Tríplice Aliança, formada pela Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro.

Várias das nações colonizadas na África e na Ásia foram obrigadas a dispor de homens e recursos para a guerra. O Império Turco-Otomano e a Bulgária resolveram apoiar as tropas alemãs. Isso porque essas duas nações nutriam contendas com a Rússia e a Sérvia. No ano de 1915, assinando o Tratado de Londres, a Itália resolveu apoiar a Tríplice Aliança. Seduzidos pela promessa de ganhos territoriais na Turquia e na Áustria, os italianos mudaram sua posição no conflito.

Somente em 1917, uma importante aliança começou a definir os rumos da Primeira Guerra. Nesse ano, os Estados Unidos resolveram aliar-se à Tríplice Entente. A adesão norte-americana deu-se graças à saída dos russos e o interesse em preservar suas possessões imperialistas. Envolvendo uma complexa trama de alianças e interesses, a Primeira Guerra também se dividiu em duas diferentes etapas militares.

Em março de 1917 a primeira fase da Revolução Russa culminou com a implantação de um governo provisório e a abdicação do czar Nicolau II, a Rússia assistiu à deposição da Monarquia em março e à tomada do poder pelos Bolchevistas em novembro. Em 20 de novembro as autoridades russos propuseram à Alemanha a cessação das hostilidades. Representantes da Rússia, Áustria e Alemanha assinaram o armistício em 15 de dezembro, cessando assim a luta na frente oriental.

A primeira foi a guerra de movimento, quando as tropas alemãs fizeram um ataque incisivo sobre a França. Com essa estratégia os alemães esperavam vencer a guerra sem maiores dificuldades. No entanto, a vitória francesa na batalha do Marne conteve a estratégia dos alemães. Passado esse primeiro momento, os conflitos entraram em uma nova fase que ficou conhecida como a guerra de posições ou guerra de trincheiras. Esse período envolveu batalhas grandes e penosas, que não resultou em nenhum avanço militar significativo para ambos os lados.

Apenas com o emprego das novas tecnologias e a chegada de 1,2 milhão de soldados estadunidenses os conflitos seguiram novos rumos. Os alemães, que até então venciam boa parte das batalhas, foram contidos com uma segunda derrota em território francês. A Inglaterra conseguiu subjugar as forças turco-otomanas e a Itália derrotou os exércitos austríacos. Estava assim decretada a vitória da Tríplice Entente, forçando os países da Aliança a assinarem a rendição. Os derrotados tiveram ainda que assinar o Tratado de Versalhes que impunha a estes países fortes restrições e punições.

Além das perdas territoriais, a Alemanha, considerada principal culpada pela guerra, foi obrigada a reduzir seus exércitos, extinguir sua marinha e foi impedida de produzir qualquer tipo de material bélico. Finalizando o rigor das punições contra a Alemanha, o tratado ainda previu uma indenização de 132 bilhões de marcos-ouro às nações vitoriosas. Tal dinheiro seria utilizado para a recuperação de bens públicos e privados, e o pagamento de pensões às vítimas da guerra.

Os vários confrontos foram responsáveis pela morte de cerca de 8 milhões de pessoas e a mutilação de quase 20 milhões de soldados e civis. Além disso, a capacidade econômica européia sofreu um baque que reduziu em quase 40 % a produção agro-industrial do continente. A dívida externa sofreu um aumento exorbitante e as moedas européias sofreram forte desvalorização. Os Estados Unidos, outros países emergentes (como Japão, Suíça, Dinamarca e Espanha) e nações agro-exportadoras saíram ganhando com o caos sócio-econômico instalado no Velho Mundo.

Os tratados assinados, ao contrário do que diziam defender, não asseguraram a paz e o equilíbrio entre as nações européias. De acordo com diversos historiadores, a pesadas punições estabelecidas contra a Alemanha prepararam todo o clima de ódio e revanche que alimentaram os preparativos da Segunda Guerra Mundial. Com a ascensão dos regimes totalitários ítalo-germânicos e a crise econômica de 1929, as rivalidades políticas e econômicas seriam reascendidas na Europa.

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