domingo, 26 de setembro de 2010



Líder anglicano diz que Igreja Católica perdeu 'toda credibilidade' na Irlanda

Líder espiritual da Igreja Anglicana, o arcebispo da Cantuária, Rowan Williams, disse em entrevista que a Igreja Católica na Irlanda perdeu toda a credibilidade devido às denúncias contra padres que abusaram sexualmente de crianças. A sincera e rara crítica de Williams à Igreja Católica.

"...uma instituição tão ligada à vida de uma sociedade, de repente perdendo toda a sua credibilidade, isso não é um problema só para a Igreja, é um problema para todos na Irlanda".

As duas igrejas têm mantido relações tensas desde que o Papa Bento XVI facilitou, no ano passado, a conversão ao Catolicismo de anglicanos que consideram que a sua religião se tornou liberal demais. Williams disse que os escândalos haviam causado um "trauma corporativo colossal" para a Igreja Católica, especialmente na Irlanda.

Williams disse que, diante da opção entre se proteger ou revelar segredos potencialmente danosos, instituições cristãs decidiram ficar quietas para preservar sua credibilidade.

" Nós aprendemos que isso é danoso, é errado, é desonesto e exige este difícil reconhecimento, o qual deveria ser natural para a igreja cristã baseada, como está, em arrependimento e honestidade", afirmou.

Em resposta ao líder anglicano, o arcebispo de Dublin, Diarmuid Martin, disse estar chocado com as declarações de Williams.

"Aqueles que trabalham para a renovação da Igreja Católica na Irlanda não precisavam desse comentário..."

"Preciso dizer que, em todos os meus anos como arcebispo de Dublin, raras vezes me senti pessoalmente tão desencorajado num momento difícil como quando tomei conhecimento dos comentários do arcebispo Williams", disse ele.

"Obviamente, a igreja perdeu credibilidade", reconheceu. "
Mas é muito prejudicial para aqueles que estão tentando recuperar essa credibilidade ser obliterado por um comentário como esse."

A decisão de Williams de opinar sobre a crise na Igreja Católica foi o mais recente atrito na relação tensa entre liderança anglicana e Vaticano, que também teve cunho pessoal.

Tanto Williams quanto o papa disseram que dão importância especial aos esforços de superar o cisma histórico entre as duas igrejas, que tem sua origem no século XVI, quando o rei Henrique VIII e o papa discordaram sobre a determinação de Henrique de anular seu casamento com Catarina de Aragão.

Mas os eventos dos últimos meses, sem relação com os escândalos de abuso infantil, levaram a um brutal afrouxamento desses laços.

O primeiro divisor de águas veio em outubro, quando o papa, interferindo numa crise sobre direitos de gays e mulheres na Comunhão Anglicana, anunciou que uma seção especial da Igreja Católica seria criada para permitir que antigos anglicanos se convertam ao catolicismo, mantendo parte de suas tradições e cerimônias, com a liderança de antigos bispos anglicanos, alguns dos quais casados.

Williams disse na época que se surpreendeu com a iniciativa, que, segundo ele, soube apenas duas semanas antes do anúncio do Vaticano. Reportagens em jornais britânicos afirmam que ele telefonou para o chefe da Igreja Católica na Inglaterra e Gales, arcebispo Vincent Nichols, no meio da noite para protestar.

Defendendo a medida, Bento XVI disse que criava o novo espaço de convertidos em resposta a declarações de anglicanos tradicionalistas. Muitos deles manifestaram que não estavam dispostos a continuar numa igreja que sancionava a ordenação de mulheres como bispos e quase provocaram um cisma sobre a decisão da Igreja Episcopal dos Estados Unidos de ordenar bispos gays e lésbicas.

Williams tem trabalhado implacavelmente para manter unida a Comunhão Anglicana, rogando, até agora sem sucesso, aos líderes episcopais que suspendam a ordenação de padres gays e lésbicas e pedindo a bispos anglicanos tradicionalistas, particularmente na África, Ásia e América Latina, que sejam pacientes enquanto o assunto é resolvido.

Pouco antes do anúncio do papa em outubro, Williams foi a Roma para um breve encontro com o papa, descrito como "cordial" e renovador da vontade conjunta de estabelecer laços mais próximos.

Mas autoridades anglicanas dizem privadamente que Williams acredita que a iniciativa do papa atrapalhou seus esforços de impedir um rompimento na Comunhão Anglicana, considerando a medida oportunista e destinada a se aproveitar dos infortúnios anglicanos.

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