domingo, 26 de setembro de 2010


Old Firm como é chamado o clássico escocês, aborda muito mais que futebol: A rivalidade mais antiga do futebol é influenciada, e muito, por política, religião, economia e violência.

O confronto tem uma história sem igual, talhada por uma longa inimizade mútua que ultrapassa em muito o âmbito esportivo, as rixas e os tumultos que irrompem em Glasgow quando os dois clãs partem para a batalha.

No século XIX, durante 15 anos, os Rangers, fundados em 1873, disseminaram o protestantismo, na maior parte Anglicano, pelo país, sem maiores forças contra sua evangelização. Contudo, incomodados, os católicos viram como forma de frear o avanço, a criação de um clube de futebol.
O Rangers era o clube da elite e da maioria protestante da Escócia e, até 1989, manteve a política segregacionista de não contratar jogadores católicos.

O Celtic foi fundado em novembro de 1887 por um padre católico irlandês com o único objetivo de financiar uma instituição de caridade dedicada a amenizar a pobreza da grande comunidade irlandesa de Glasgow. No entanto, também se esperava que o clube se transformasse em um símbolo de orgulho que congregasse os imigrantes oprimidos.

"Um encontro amistoso", ironicamente, foi assim que a imprensa escocesa descreveu o primeiro clássico de Glasgow. O Rangers aceitou o convite para enfrentar o Celtic na partida inaugural do clube alviverde, no dia 28 de maio de 1888. Evidentemente, a relação pode ter sido cordial no começo, mas as filosofias respectivas de cada clube tornaram o conflito inevitável, a cordialidade duraria pouco.

Ao vencer por 5 a 2 um clube com 16 anos a mais de experiência, naquele primeiro jogo há 121 anos atrás, o Celtic estabeleceu uma tradição de imprevisibilidade no Old Firm que se mantém até hoje. Independentemente das circunstâncias ou da boa fase dos clubes, prever o resultado do clássico de Glasgow não é tarefa fácil.

A rivalidade aumentou no mesmo ritmo que a hegemonia dos dois times na Escócia. De fato, a quantidade de torcedores e os cofres de ambos cresceram tanto que, em 1904, um jornal, "apelidou'' o clássico de "old firm" significa literalmente "velha empresa" e alude aos
benefícios financeiros gerados pela contenda entre os dois gigantes de Glasgow.

Além dos fatores sociais, religiosos e políticos que fazem do Old Firm um confronto tão singular, nenhum outro clássico é disputado por duas equipes tão vitoriosas e hegemônicas em nível nacional.

Os clubes também registram o recorde britânico de público em uma partida de campeonato nacional, com 118.567 torcedores presentes no estádio do Rangers no dia 2 de janeiro de 1939.

Em 1969, os clubes reuniram 132.870 pessoas na decisão da Copa da Escócia.

O sucesso no esporte foi garantido. O Celtic, embora com número inferior de vitórias sobre o rival Rangers, foi o primeiro clube britânico, e único escocês, a conquistar o maior título do futebol europeu, a UEFA Champions League, em 1967, ano que também ganhou todas as competições que disputou.

Entretanto, o catolicismo hoje representa apenas 10% da população da Escócia.

Segregacionismo


Ambos os protagonistas do Old Firm são identificados com os países que formam o Reino Unido. Em todos os aspectos e marcos históricos é possível fazer um paralelo entre o clássico e a Inglaterra, Irlanda do Norte e da, não pertencente ao Reino , a Republica da Irlanda.

A divisão religiosa na Irlanda do Norte é responsável pelo surgimento de torcedores de Celtic ou Rangers, embora escoceses, no país.

Politicamente, os torcedores demonstram, de forma explícita, em bandeiras, cantos, trajes, o apoio ao segregacionismo dos países britânicos, sobretudo a postura independente da Irlanda, no caso dos fãs do Celtic ou, pelo contrário, à União, como os Rangers com bandeiras da Grã-Bretanha.

No futebol, não é de hoje que os soberanos clubes na Escócia tentam o ingresso na Premier League da Inglaterra, uma das maiores e mais fortes ligas do futebol mundial, questão que envolve também interesses financeiros, já que o Campeonato Inglês é considerado o mais rico do mundo.

Religião

Fato ligado ao contexto histórico da Primeira Guerra Mundial é a postura radical e popularmente conhecida por muitos, mundo a fora, ao menos que superficial, de não-admissão de jogadores e funcionários católicos, por parte dos Rangers (pioneiros desta política), e protestantes, por parte do Celtic.

Até 1989 seguiu a postura de admitir apenas jogadores católico no Celtic e protestantes no Rangers. Contudo, no mesmo ano, a diretoria dos Rangers fez o que seria um dos negócios mais arriscados de transferência do futebol mundial. O time protestante tinha fechado contrato com Maurice Johnston, católico de ascendência irlandesa, outrora jogador do Celtic.

Logo, a quebra da política provocaria o desgosto de todas as partes. Maurice Johnston, por dois anos, foi perseguido por torcedores do Celtic, sendo acusado de traição, também chamado de “Judas”, e ameçado fisicamente por torcedores dos Rangers, já que era católico. Após sua saída, buscou exílio na América e, hoje, é técnico de futebol no Canadá.

Política

Após a Segunda Guerra Mundial, segregacionismo, religião, política e violência continuaram em campo. Em meados do século XX, o partido IRA (Irish Republican Army) foi mais um integrante da história política do Old Firm, sendo comum os torcedores do Celtic fazerem alusão ao partido e os do Rangers insultarem.

Violência


Obviamente, por toda a paixão que o Old Firm desperta, boa parte da sua história é detestável e, como acontece com os grandes dramas, tem a sua quota de tragédia.

Há muitas cenas violentas dentro e fora do estádio, dentre as várias tragédias provocadas pela violência de torcedores ou até mesmo jogadores de Celtic e Rangers, se destacam em 1909, quando numa briga morreram 180 pessoas; em 1931, quando um jogador do Celtic quebrou o crânio do goleiro do Rangers; em 1971 aconteceu uma catástrofe na história do clássico, enquanto o público deixava o Ibrox Park, 66 torcedores do Rangers morreram depois que uma das tribunas cedeu.

O lendário técnico do Celtic Jock Stein deixou o vestiário para ajudar os feridos e expressou a esperança de que o fatídico episódio levasse a um novo comportamento na cidade. "Essa tragédia terrível tem de ajudar a conter a intolerância e o ressentimento nos jogos do Old Firm", apelou Stein à época.
Além de casos de incitações à violência por parte de algum integrante oficialmente ligado ao clube, como em 2006, quando o goleiro polonês Boruc, do Celtic, foi acusado de fazer o sinal da cruz para a torcida dos Rangers.

Embora tenha levado mais tempo do que Stein imaginava, o clássico de Glasgow sem dúvida ficou mais ameno nos últimos anos. Em 2008 foi possível até testemunhar uma inédita e comovente demonstração de união. Walter Smith e Ally McCoist, respectivamente técnico e assistente técnico do Rangers, ajudaram a carregar o caixão de Tommy Burns, ídolo do Celtic e da seleção Escocesa e amigo pessoal de ambos.

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