quinta-feira, 24 de setembro de 2009


América enfrenta o dilema da cor

País tem hoje 762 grupos racistas que vêem no horizonte um futuro onde os 100% brancos não serão mais maioria

Nos anos 20, eles marcharam em Washington, numa manifestação histórica pela supremacia branca. Na década de 60, reagiram violentamente ao movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. Perseguiam e matavam. Seu alvo: negros, principalmente, e os brancos que se engajaram na luta contra a segregação racial.


Há oito décadas, a Ku Klux Klan teve 5 milhões de integrantes. Hoje, tem 7 mil declarados e não mata mais. Mas ainda é a maior das organizações americanas que pregam a supremacia branca.
São seis ao todo, pulverizadas em mais de 700 grupos locais ativos em um país que vive um dilema nesse século: graças às ondas de imigração que aumentam a cada ano, o cidadão branco puro americano não será mais maioria lá por volta de 2050, segundo estimativas de especialistas em imigração.
São, portanto, muitas as lições que a maior potência mundial tem que aprender, alertam os especialistas.

Principalmente, no que diz respeito à classificação das muitas raças que já compõem a população americana. Os negros, por exemplo, conquistaram o direito de serem chamados de afro-americanos, termo politicamente correto. Mas são ainda vítimas do racismo declarado das centenas de grupos segregacionistas e de uma sociedade que não aprendeu ainda a dar as mesmas chances para todas as raças nas universidades e no mercado de trabalho, onde brancos ainda dominam.

O país também tem que aprender a, no mínimo, dar nome correto às diversas raças e etnias que hoje vivem lá. Dos 294 milhões de americanos, 41 milhões são o que as estatísticas chamam de “hispânicos” – aí incluídos os brasileiros, por mais que o candidato a imigrante tente explicar que seu país foi colonizado por Portugal. Os “hispânicos”, aliás, são hoje a maior etnia no país, mas não podem ser chamados de “raça”, uma vez que podem pertencer a esse grupo negros e brancos, por exemplo.

Essa dança de números assusta o cidadão branco comum. Quem explica é o professor Gary Freeman, da Universidade do Texas, especialista em imigração.

– Há pessoas que estão preocupadas com o que acham que pode ser a distorção da cultura anglo-saxã. E, aí, acabam encontrando eco para suas angústias nesses grupos racistas. Tudo está ainda muito confuso. Esse país vai ter que passar por uma enorme transformação. Precisamos saber quem vai ser o americano do futuro. E, ainda, resolver como todos vão conviver num mesmo sistema econômico, que hoje é injusto, se você considerar o aspecto racial.

Freeman também alerta para outro aspecto que afeta o americano branco pobre.

– Se você pensar que hoje brancos são maioria, por uma questão matemática há mais brancos pobres, que não podem se valer do argumento de que são vítimas de racismo. Acabam ficando sem defesa. É um paradoxo a ser resolvido nesse processo de transformação.

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