A maioria dessas pessoas com Jogo Patológico afirma que está mais em busca de "ação" do que de dinheiro e, por causa dessa busca de ação, apostas ou riscos cada vez maiores podem ser necessários para continuar produzindo o nível de excitação desejado. Os indivíduos com Jogo Patológico freqüentemente continuam jogando, apesar de repetidos esforços no sentido de controlar, reduzir ou cessar o comportamento.
Através do reforço emocional intermitente, onde ganhar é um reforço positivo imediato e perder é “apenas” uma circunstância aleatória, o indivíduo apresenta o comportamento compulsivo de jogar. Está sempre na expectativa de ganhar, como foi conseguido anteriormente. Existe ainda uma sensação especial no comportamento de risco, o que ocupa a mente do jogador fazendo que passe a repetir o comportamento (dependência). O jogo pode tornar-se uma grande fonte de prazer, podendo vir a ser a única forma de prazer para algumas pessoas.
"No começo, era só adrenalina e vontade de ganhar dinheiro. Depois, era adrenalina e vontade de recuperar o dinheiro. Aí, você se afunda mais e mais." Tiago, nome fictício, de 30 anos, descreve as sensações de quem pulou de jogador ocasional para compulsivo. Recém-separado, ele buscou satisfação em casas de bingo, primeiro na hora do almoço, depois por dias seguidos, até gastar mais dinheiro do que ganhava. Foram cinco anos de vício e muitas dívidas. Tão ruim quanto a compulsão foi o caminho da saída. "Era muita agonia, depressão. Por um lado, sentia a felicidade de não jogar todo dia. Por outro, era um baque." Esse baque, ou fissura, a vontade incontrolável de voltar para o jogo a qualquer preço - muitas vezes, o custo é a própria vida do viciado -, foi medido pelo pesquisador brasileiro Hermano Tavares. O resultado assusta. A aflição do jogador compulsivo é maior do que a do alcoólatra, apesar de este vício ser químico e aquele não. Para Tavares, é evidência do pouco que se sabe sobre a doença e um alerta de que médicos, parentes e governo precisam estar atentos. "Vamos levar a sério o problema do jogo. É uma dependência não química, então algumas estratégias usadas para tratar o vício pelo álcool podem ser usadas para tratar jogadores - mas não todas", diz o médico, coordenador do Ambulatório do Jogo Compulsivo (Amjo) no Hospital das Clínicas de São Paulo. O estudo foi realizado no Canadá, na Universidade de Calgary, como parte do pós-doutorado obtido por Tavares. Ele comparou o nível de fissura de dois grupos medido por um questionário padrão. De 90 pontos (que significa uma recaída), alcoólatras marcaram em média 35 e jogadores, 49, nos primeiros 20 dias de terapia. Os resultados foram publicados em agosto na revista especializada Alcoholism: Clinical & Experimental Research. Uma das explicações para a diferença parece estar no perfil de personalidade do viciado, uma vez que os dois tipos não têm a mesma raiz e são, aparentemente, regidos por sistemas mentais separados. Quem busca o álcool tem uma propensão a emoções negativas, como angústia e culpa, enquanto o compulsivo por jogo busca emoções positivas, como estímulos, prazer e necessidade de se sentir superior, além de compensar a depressão.
Através do reforço emocional intermitente, onde ganhar é um reforço positivo imediato e perder é “apenas” uma circunstância aleatória, o indivíduo apresenta o comportamento compulsivo de jogar. Está sempre na expectativa de ganhar, como foi conseguido anteriormente. Existe ainda uma sensação especial no comportamento de risco, o que ocupa a mente do jogador fazendo que passe a repetir o comportamento (dependência). O jogo pode tornar-se uma grande fonte de prazer, podendo vir a ser a única forma de prazer para algumas pessoas.
"No começo, era só adrenalina e vontade de ganhar dinheiro. Depois, era adrenalina e vontade de recuperar o dinheiro. Aí, você se afunda mais e mais." Tiago, nome fictício, de 30 anos, descreve as sensações de quem pulou de jogador ocasional para compulsivo. Recém-separado, ele buscou satisfação em casas de bingo, primeiro na hora do almoço, depois por dias seguidos, até gastar mais dinheiro do que ganhava. Foram cinco anos de vício e muitas dívidas. Tão ruim quanto a compulsão foi o caminho da saída. "Era muita agonia, depressão. Por um lado, sentia a felicidade de não jogar todo dia. Por outro, era um baque." Esse baque, ou fissura, a vontade incontrolável de voltar para o jogo a qualquer preço - muitas vezes, o custo é a própria vida do viciado -, foi medido pelo pesquisador brasileiro Hermano Tavares. O resultado assusta. A aflição do jogador compulsivo é maior do que a do alcoólatra, apesar de este vício ser químico e aquele não. Para Tavares, é evidência do pouco que se sabe sobre a doença e um alerta de que médicos, parentes e governo precisam estar atentos. "Vamos levar a sério o problema do jogo. É uma dependência não química, então algumas estratégias usadas para tratar o vício pelo álcool podem ser usadas para tratar jogadores - mas não todas", diz o médico, coordenador do Ambulatório do Jogo Compulsivo (Amjo) no Hospital das Clínicas de São Paulo. O estudo foi realizado no Canadá, na Universidade de Calgary, como parte do pós-doutorado obtido por Tavares. Ele comparou o nível de fissura de dois grupos medido por um questionário padrão. De 90 pontos (que significa uma recaída), alcoólatras marcaram em média 35 e jogadores, 49, nos primeiros 20 dias de terapia. Os resultados foram publicados em agosto na revista especializada Alcoholism: Clinical & Experimental Research. Uma das explicações para a diferença parece estar no perfil de personalidade do viciado, uma vez que os dois tipos não têm a mesma raiz e são, aparentemente, regidos por sistemas mentais separados. Quem busca o álcool tem uma propensão a emoções negativas, como angústia e culpa, enquanto o compulsivo por jogo busca emoções positivas, como estímulos, prazer e necessidade de se sentir superior, além de compensar a depressão.
Ainda não existem estudos no Brasil, mas uma equipe do Amjo finaliza uma análise populacional da Grande São Paulo ainda neste ano. Se o índice se confirmar, isso significa que, de cerca de 17 milhões de habitantes, 340 mil são viciados em jogo e a mesma quantidade pode se tornar, se não tiver a devida atenção. Se os parentes forem postos na conta, chega-se a quase 1 milhão de pessoas afetadas. Outro agravante é o perfil social do viciado. Ao contrário do que se pensa, a maioria é do sexo masculino, casada, com filhos e em idade produtiva. Tavares acredita que o governo precisa tomar atitudes mais enérgicas para controlar o problema, que teria aumentado "exponencialmente" desde a legalização dos bingos. "Dizer que o jogo é proibido no Brasil é falácia." - Cristina Amorim
Um problema silencioso: o vício nos games. Jogadores compulsivos passam até 30 horas seguidas em frente ao computador, perdem dinheiro, enfrentam problemas na escola, no trabalho e com a família.
O problema é mundial. Afeta crianças, adultos e principalmente adolescentes. A Coréia, país onde surgiram as lan houses, tem um dos índices mais altos de vício em games on-line. De acordo com um levantamento realizado pelo governo coreano, 546 mil pessoas - ou 2,4% da população com idade entre 9 e 39 anos - precisam de ajuda para curar a compulsão. Em reportagem publicada no início de setembro, a revista americana Businessweek revelou um número assustador: em 2005, sete pessoas morreram na Coréia, vítimas de parada cardíaca ou exaustão, enquanto jogavam na internet. A preocupação com o problema também cresce em países como China, Inglaterra e Holanda, onde já existem clínicas especializadas no tratamento dessa dependência.
O problema é mundial. Afeta crianças, adultos e principalmente adolescentes. A Coréia, país onde surgiram as lan houses, tem um dos índices mais altos de vício em games on-line. De acordo com um levantamento realizado pelo governo coreano, 546 mil pessoas - ou 2,4% da população com idade entre 9 e 39 anos - precisam de ajuda para curar a compulsão. Em reportagem publicada no início de setembro, a revista americana Businessweek revelou um número assustador: em 2005, sete pessoas morreram na Coréia, vítimas de parada cardíaca ou exaustão, enquanto jogavam na internet. A preocupação com o problema também cresce em países como China, Inglaterra e Holanda, onde já existem clínicas especializadas no tratamento dessa dependência.
No Brasil, não há estatísticas que meçam a compulsão. Mas o fenômeno já é objeto de pesquisa em universidades como a PUC de São Paulo, onde funciona o Núcleo de Estudos de Psicologia e Informática. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o psiquiatra Daniel Spritzer também pesquisa o tema. "Os jogos funcionam com recompensas: à medida que o jogador avança, ganha mais vidas, ou valores em dinheiro na moeda virtual do jogo." Segundo Spritzer, os games atuam na região do cérebro responsável por registrar a sensação de prazer. "O cérebro trabalha para manter essa sensação, e isso pode levar ao vício. É o mesmo mecanismo da dependência do álcool e das drogas."A tese ajuda a explicar a história do estudante paulistano M.A., de 16 anos.
"Eu ficava dias na frente do computador", diz, "Esquecia de comer, não dormia. Minha vida social quase acabou."
"Eu ficava dias na frente do computador", diz, "Esquecia de comer, não dormia. Minha vida social quase acabou."
Com a volta às aulas, M.A. diz que começou a faltar à escola - e as notas passaram a cair. O "tratamento" veio da mãe: a pedido dela, M.A. desinstalou o jogo. "Hoje, vejo que estava viciado", afirma.
Fonte: Cristina Amorim/Daniel Spritzer
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