quarta-feira, 29 de abril de 2009

Drogas - Animais

Uma série de estudos já demonstraram que animais de laboratório ficam rapidamente viciados em drogas como cocaína e nicotina , mas não conseguiam deixá-los viciados em maconha.Até agora.
Um grupo de pesquisadores do National Institutes of Health (NIH) dos EUA não só conseguiu deixar macacos viciados em maconha, como também explica porque outros cientistas não conseguiram.O teste padrão para determinar se uma substância gera dependência é a auto-administração. O animal tem um catéter inserido na veia, e cada vez que aperta uma barra na gaiola, recebe uma injeção da substância.
Ratos e macacos gostam de apertar barras e botões por natureza, principalmente quando são novidade na gaiola, mas logo deixam pra lá quando nada de interessante acontece em seguida. Ou continuam apertando, se isso tiver conseqüências interessantes como fazer aparecerem pedacinhos de comida ou água. Ou disparar a injeção de drogas como a cocaína: os animais ficam rapidamente viciados, e continuam apertando a barra enquanto podem.Foi nesse teste que outros pesquisadores vinham tendo dificuldade em provocar o vício com a maconha; os bichinhos não buscavam repetir a dose.
Pensando nisso, o grupo de Steven Goldberg, no NIH, usou de uma artimanha: usar cocaína primeiro para deixar alguns macacos viciadões, depois retirar a droga, e ver se a maconha servia de substituta.Para complicar a tarefa e deixar bem claro que era necessário se esforçar para conseguir a droga, eles modificaram o protocolo de auto-estimulação. Ao contrário de outros estudos, agora não bastava apertar a barra uma vez só; os animais somente recebiam a droga depois de abaixarem a barra dez vezes seguidas.
Para evitar overdose, cada sessão durava só uma hora por dia, e após cada injeção a barra não funcionava mais durante um minuto, enquanto as luzes se apagavam na sala (pro bichinho curtir a viagem, talvez...)
Depois dos animais ficarem exímios na auto-estimulação, conseguindo 40 injeções de cocaína em uma hora - praticamente o máximo possível -, os pesquisadores trocavam a cocaína por soro fisiológico, durante uma semana inteira.
Decepção para os pobres macaquinhos: apertar a barra não dava mais barato, e dentro de alguns dias eles se injetavam com o soro apenas umas quatro vezes por hora.
E então Goldberg colocou canabinol, o princípio ativo da maconha, no lugar do soro fisiológico que os macaquinhos recebiam. Mas com dois truques, que outros pesquisadores não tentaram. O canabinol se dissolve muito mal em água, e a maior parte fica em suspensão, aglomerada.
Para compensar, estudos anteriores usaram concentrações muito elevadas de canabinol - tão elevadas que, na opinião de Golberg, acabavam deixando os animais tão chapados com uma única injeção que eles não conseguiam juntar forças para apertar a barra de novo. Daí parecer que eles não buscavam a auto-estimulação.Goldberg, ao contrário, preparou uma solução bem límpida de canabinol, usando minúsculas concentrações de álcool e detergente para dissolver a droga. E além disso, deixou a solução bem fraquinha em canabinol, em doses semelhantes às usadas com fins medicinais.Foi só trocar o soro pelo canabinol que os macacos imediatamente voltaram a se auto-injetar entre 30 e 40 vezes por sessão.
Para garantir que não era efeito do álcool e do detergente usados na diluição, Goldberg testou em seguida uma solução dessas substâncias, mas sem o canabinol. E os macacos se desinteressaram novamente.Se for verdade, é um balde de água fria nos militantes pela legalização. Que, obviamente, já se manifestaram, alegando que os resultados vão contra o senso comum e contra tantos outros estudos anteriores que fica parecendo que o NIH está tentando de qualquer maneira justificar seus "excessos" na proibição do uso da maconha nos EUA.
Verdade seja dita, agora que Goldberg acertou na dose e na diluição do canabinol, é preciso repetir o experimento com macacos "caretas" e determinar se o canabinol, sozinho, leva os bichinhos ao vício.
Essa não é a primeira vez que se sugere que a maconha não é tão diferente de cocaína e similares como se pensava. Depois de outro tanto de discussão e controvérsia, já ficou claro que a maconha, como as outras drogas, também age no sistema de recompensa do cérebro. Quando estimulado diretamente, esse sistema produz sensações de prazer e euforia no homem. É também ele que se habitua com a droga, fazendo com que a pessoa ou o animal busque se drogar cada vez mais para conseguir o mesmo efeito.
E depois, não será somente uma questão de viciar ou não que vai determinar a liberação da maconha - se fosse assim, os cigarros já estariam nas mãos de traficantes, e não de padarias e botequins.
A maconha tem seu lado útil, por acabar com a náusea e com a dor, e por isso às vezes é usada em casos terminais de câncer, por exemplo.
Mas também tem seus efeitos nocivos à saúde. E indesejáveis para os vizinhos. Além de ficar com o coração acelerado, chegando a 160 batidas por minuto, quem fuma maconha se fecha ao redor de suas próprias sensações, que podem parecer mais fortes e nítidas, como o som da música, mas se desliga das pessoas ao redor. A maconha também impede a formação de novas memórias, e pode causar tanto acessos de riso quanto crises de pânico e paranóia. Além de deixar o usuário incapaz de dirigir com segurança. Quer dizer: a viagem pode até parecer legal pro dono do cérebro dopado, mas aturar gente chapada pode ser muito chato. E perigoso. Pena que quem está chapado não consegue entender isso.

Fonte:G Tanda, P Munzar & SR Goldberg (2000). Self-administration behavior is maintained by the psychoactive ingredient of marijuana in squirrel monkeys. Nature Neuroscience

Nenhum comentário:

Postar um comentário