segunda-feira, 27 de abril de 2009

DROGAS - ESCRAVIDÃO

Usuários de crack se sentem escravizados pela droga

O começo do vício é sempre parecido. Primeiro é o consumo de maconha, depois vem a cocaína. O crack é o próximo passo. Ele não escolhe cor, gênero, classe social ou religião. Com poder avassalador, invadiu a sociedade, quebrou regras, transpôs limites e escravizou milhares de pessoas.Há pessoas que acreditam ser mais fortes que o vício.

Marcela, 30 anos, que usou crack por seis meses, é um exemplo. “Quando eu comecei, na primeira noite, pensei que fosse ter controle sobre isso, como eu tinha sobre a cocaína. Mas vi que, na segunda semana, já tinha perdido completamente o domínio, porque fazia isso 24 horas por dia”, diz.

De família de classe média do Rio Grande do Sul e mãe de duas meninas, ela começou a consumir crack após a morte da mãe. “Minha família estava passando por uma turbulência e me aproveitei muito disso”, afirma. Marcela não estava sozinha, pois a irmã era sua companheira de uso, inclusive, era ela quem fazia o contato com traficantes. A compulsão pela droga era tão grande que Marcela desfalcou a empresa do pai, na qual também trabalhava, para comprar crack.

Rodrigo, 34 anos, morador de uma favela de São Paulo, usou crack por quatro anos, o suficiente para levá-lo ao “fundo do poço”. Para conseguir a droga, ele roubava o dinheiro do comércio da mãe. “Ela tem um barzinho, e eu pegava muito dinheiro do caixa. Às vezes, ela tinha dinheiro no cofre e eu furtava para usar drogas”, disse.

Rodrigo afirma que o efeito de apenas 15 segundos provoca sensações de poder e êxtase aos usuários. “O crack tem um poder muito grande de vício. Ele dá um prazer ilusório, dá vontade de querer sempre mais. É nessa vontade que você larga tudo de lado.”O crack é descrito pelos usuários como uma “droga egoísta”.

Dependentes deixam aos poucos o convívio familiar, amigos e trabalho. Isolam-se. Até os companheiros de uso são abandonados. A vida social passa a não existir mais. E as alucinações provocadas pela paranóia pós-droga começam a atormentar. “O pânico com o crack é maior. Você se sente perseguido. Seus amigos e conhecidos parecem que viram seus inimigos”, revela Carla, 30 anos, que experimentou a droga em Brasília aos 28.

O grito por socorro vem quando existe uma consciência da própria desmoralização. Os usuários entendem a realidade e, principalmente, o motivo que a levou ao consumo. “O que me fez buscar o tratamento foi a dor de perder o caráter. Perdi mulher, filhos, trabalho, amigos”, disse Maurício, 31 anos, ex-usuário em tratamento em Brasília. A recuperação é difícil. Exige acima de tudo determinação.

Henrique França, coordenador de uma comunidade terapêutica em Brasília, acredita que a vontade de se recuperar tem de partir do próprio usuário. “Se alguém nos pede e deseja sinceramente se livrar das drogas, o problema dele passa a ser nosso. Se não quer, a gente não pode fazer nada”, argumenta.Existem pessoas que não conseguem se livrar do vício com apenas uma internação.

É o caso do sul-mato-grossense Felipe, 32 anos, que começou a usar crack em Salvador há sete anos. Ele já foi internado 15 vezes. “Já andei o Brasil inteiro, já usei droga no país inteiro. Fui internado em São Paulo, Manaus, Recife. Não sei nem como consigo, hoje, depois de tudo que fiz, trocar idéias, fazer coisas.”Durante a última internação, Felipe disse que não consegue mais consumir crack sem se sentir culpado.

“Quando a vontade é muito forte e eu vejo que não vou conseguir segurar, eu me interno, procuro ajuda porque eu tenho que começar de novo. Eu fico espantado, de vez em quando eu tenho esses pensamentos.”
Cracolândia

"Não existe mais a velha cracolândia deteriorada, a serviço da droga, a serviço do crime. Cada vez mais essa é uma página virada na história de São Paulo",
afirmou o prefeito Gilberto Kassab em outubro de 2007.
Mas o vale-tudo das drogas não acabou, só mudou de endereço. A menos de 800 metros do antigo ponto de encontro de usuários e traficantes fica o atual território livre do crack. "Eles fizeram uma operação para higienizar, ou seja, eles expulsaram os meninos de lá e esses meninos fizeram o quê? Foram para a rua transversal ou para outra rua", argumenta Lúcia Pinheiro, coordenadora-geral da Fundação Projeto Travessia. "Hoje já está disseminado e não há mais controle", alerta.

Enquanto isso!!!, dezenas de dependentes continuam a vagar como zumbis pelo centro de São Paulo, agora mesmo, a luz do dia, ou mais tarde em mais uma noite de pesadelo.

Da Agência Brasil

ESCRAVOS

Um rapaz de 16 anos foi acorrentado à cama em Caxia do Sul (RS) pela própria mãe. Ela disse que acorrentou o filho para tentar livrá-lo das drogas. Segundo a mãe, o adolescente é usuário de crack e já fugiu várias vezes de uma clínica de recuperação onde havia sido internado. "Se acharem que devo ir presa, eu vou, mas quero ver ele vivo, estudando e trabalhando", afirmou.

Mãe acorrentou o filho de 15 anos à cama em Passo Fundo (RS). Segundo ela, o adolescente é viciado em crack e já furtou eletrodomésticos e outros bens para sustentar o consumo da droga. Ela já procurou órgãos para recuperar o filho, mas o garoto teria reagido com violência e agredido os pais.

Um menino de 11 anos foi acorrentado pelos próprios pais na Zona Norte de Porto Alegre (RS). Segundo reportagem do "Diário Gaúcho", os pais disseram que é a segunda vez que a medida é tomada para evitar que a criança, viciada em crack, fuja para comprar droga. Os pais afirmam que o menino é dependente há quase um ano. Ele estaria ameaçado de morte na vizinhança da vila onde mora, por cometer furtos com freqüência para comprar crack.

Uma empregada doméstica manteve o filho de 17 anos acorrentado dentro de casa em Feira de Santana (BA). O adolescente, que é usuário de drogas, ficava 24 horas preso por correntes nos pés. À polícia, a mulher teria afirmado que tinha medo do filho ser morto por traficantes

Uma mãe acorrentou seu filho de apenas 15 anos, em Araraquara, após descobrir que ele é dependente de Crack. A descoberta tinha ocorrido 4 meses antes da ação, mas a mãe achava que o jovem era usuário só de maconha até que um dia o filho furtou uma bicicleta e chegou em casa sob o efeito da droga e contou que fumava até 20 pedras de crack por dia. A mãe, então, tomou a atitude que, segundo ela era para evitar coisas piores, como a morte do filho.

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