domingo, 26 de abril de 2009

DROGAS - EPIDEMIA

Crack é responsável por 39% dos atendimentos psiquiátricos

O crack é responsável por 39,4% dos atendimentos psiquiátricos em Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Salvador (BA). Os homens são maioria do universo de viciados. Os dados constam de levantamento coordenado pelo psiquiatra Félix Kessler, vice-diretor do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro da Associação Brasileira de Estudos sobre Álcool e Drogas (Abead).

Perfil

Para a pesquisa, foram entrevistadas 740 pessoas durante um ano. Segundo Kessler, a grande maioria dos usuários de crack é homem (81,9%) e tem idade média de 31,1 anos. Eles são mais jovens do que as pessoas que buscam tratamentos para dependência de cocaína, álcool e outras drogas, cuja faixa etária média é de 42,4 anos.
Os viciados em crack ouvidos no estudo tinham menor escolaridade do que os usuários de álcool, cocaína e outras drogas, e 52,2% deles estavam desempregados.

Problemas judiciais

O coordenador da pesquisa feita pela Abead disse que a pesquisa apontou que os usuários de crack geralmente têm problemas com a Justiça, principalmente relacionados a roubo. O delegado Bolívar Llantada, da Delegacia de Homícídios e Desaparecidos, informou que Tobias, o jovem morto em Porto Alegre, tinha 14 registros de ocorrências policiais contra ele por furto e roubo.Violência é comum

A psicóloga Sandra Helena de Souza, diretora técnica da Fundação de Proteção Especial do Rio Grande do Sul, disse que casos como o da mãe que matou o filho em Porto Alegre não são tão raros.
"Há cinco anos, um rapaz de 25 anos era usuário de crack e teve uma atitude de extrema agressividade com o pai, que o matou em legítima defesa."

Sandra afirmou que a última medida que os pais devem fazer é dar dinheiro aos filhos viciados, pois, se assim o fizerem, estarão contribuindo para o nível de dependência aumentar.
No Rio Grande do Sul, a Secretaria de Saúde e profissionais da área consideram que o Estado esteja enfrentando uma 'epidemia' de crack. O governo estima que 50 mil pessoas sejam viciadas na droga no Estado. Conforme dados de 2007 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do Rio Grande do Sul é de 10,6 milhões de habitantes. No Estado, a média de atendimentos psiquiátricos de pessoas viciadas em crack é superior (43,35) a das outras três capitais avaliadas.

"Estamos perante uma epidemia, porque há um número explosivo (de casos) nos últimos três anos. Antes era uma raridade (o consumo de crack), tínhamos nas unidades 90% de outras dependências (álcool e cocaína) e 10% de crack. Hoje temos o contrário", disse o psiquiatra Gilberto Brofman, diretor técnico do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em Porto Alegre (RS).
A psicóloga também concorda. "Considerando a gravidade da droga e a baixa resolutividade em termos de tratamento, é uma epidemia. O sentimento na sociedade, e principalmente nas famílias que vivem esse drama, é de impotência."
Abalo familiarSandra disse que a situação da dependência química leva as famílias a muitos problemas e gera sensações de impotência e desespero. "O extremo choque emocional levou essa mãe a essa atitude."
Para a psicóloga, o País não está preparado com atendimento necessário para enfrentar a problemática da droga, principalmente do crack. "O crime está muito organizado, e a sociedade atrasada."
Mas não é só o Brasil que tem dificuldades para enfrentar a problemática. Entre 1984 e 1990, os Estados Unidos também sofreram uma epidemia de crack. No período, Nova York chegou a ter 12 mil pontos de venda e a taxa de homicídios atingiu 2,2 mil por ano. Em Washington, capital do país, o então prefeito, Marion Barry, foi preso por fumar crack, em 1990. Apesar do reforço às leis antidrogas e prevenção, em 2008, a população americana ainda consumia 70% do crack usado durante o período de epidemia. -
Fabiana Leal

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